A Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) estima que 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos possuam a condição atualmente. Além disso, o diabetes tipo 2, muito associado a um estilo de vida não saudável, é responsável por 90% desses casos.
Assim, se o dado continuar nesse ritmo de crescimento, em 2030, serão 578 milhões de pessoas com diabetes no mundo e, em 2045, 700 milhões. Por isso, é muito importante sabermos quais hábitos contribuem para evitar o aparecimento da condição.
Contudo, para entender como o diabetes tipo 2 funciona, vale conhecer, primeiro, o pâncreas. O órgão localiza-se atrás do estômago, e possui a função de produzir hormônios importantes para o funcionamento do sistema digestivo, mas também a insulina, responsável por regular os níveis de glicose (açúcar) no sangue.
Assim, normalmente, quando a glicemia (glicose no sangue) sobe, em geral após as refeições, células especiais (as células beta) do pâncreas liberam insulina. Esse hormônio, por sua vez, manda a glicose em circulação na corrente sanguínea para dentro das células. Desse modo, ela diminui a concentração de açúcar presente no sangue e deixa tudo equilibrado.
Todavia, nem sempre funciona assim. No tipo 1, por exemplo, anticorpos atacam as células beta do pâncreas, dificultando a produção de insulina. Já no diabetes tipo 2, há resistência a este hormônio. Ou seja, o corpo continua fabricando insulina, mas ela não consegue ser tão eficiente.
As causas para o problema não são exatas. Mas a ciência já sabe que alguns fatores contribuem para o seu aparecimento. Principalmente aqueles relacionados a hábitos de vida nada saudáveis:
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O desenvolvimento da doença tem como principal origem a resistência insulínica. Ou seja, a dificuldade de ação da insulina nos diversos órgãos e tecidos do corpo, e também a diminuição ou a parada de secreção de insulina pelo pâncreas.
Há, ainda, fatores de risco que agravam as chances de uma pessoa apresentar o diabetes mellitus tipo 2. Em primeiro lugar, está a predisposição genética e a existência de antecedentes familiares da doença. Outras questões são:
Vale mencionar que o diabetes mellitus tipo 2 está associado ao surgimento e ao agravamento de uma série de doenças. Por isso, se não tratado, ele pode gerar sérias complicações. As mais comuns são decorrentes de obstruções dos vasos sanguíneos, além de:
Apesar de serem característicos, os sintomas costumam aparecer somente quando a doença já está mais avançada. Portanto, checar seus níveis de glicose em jejum (geralmente feitos em exames de sangue) de tempos em tempos é essencial. Além disso, de qualquer forma, vale ficar de olho em:
O diagnóstico do DM2 é feito a partir do exame de glicose em jejum. Mas, mesmo que os níveis de glicose no sangue estejam acima daqueles considerados normais ou saudáveis, é preciso que o teste seja repetido em outro momento, e que sejam realizados diferentes exames, antes de determinar se o paciente está ou não com diabetes.
Isso porque o resultado pontual do teste pode estar influenciado por alguns fatores, como a prática de atividades físicas ou a ingestão de certos alimentos. Dessa maneira, se o nível de glicose estiver igual ou maior que 126 mg/dL, em pelo menos duas ocasiões, já assegura a presença de diabetes.
Como já dito anteriormente, além da avaliação dos sintomas, alguns exames podem auxiliar o médico a concluir o diagnóstico. Por exemplo:
Mede o nível de açúcar no seu sangue sem comer. Os valores de referência ficam entre 65 a 99 miligramas de glicose por decilitro de sangue (mg/dL).
A HbA1c é a fração da hemoglobina (proteína dentro do glóbulo vermelho) que se liga à glicose. O valor de referência para pessoas sadias fica entre 4,5% e 5,7%.
Usando intervalos, mede a velocidade com que o corpo absorve a glicose após a sua ingestão. Desse modo, os valores de referência são: em jejum, abaixo de 100mg/dl | Após 2 horas: 140mg/dl.
O culpado pelo aumento excessivo nos casos de diabetes é um grande conhecido nosso. Nosso porque ele está presente na mesa de todo brasileiro: o carboidrato refinado.
Atualmente, sabemos que um alto consumo de carboidratos resulta no aumento da resposta da insulina, aumentando o nível glicêmico em nosso sangue, contribuindo para o desenvolvimento da obesidade. Portanto, como já foi demonstrado em milhares de análises e estudos, o acúmulo de gordura abdominal (“gordura visceral”) está diretamente associado à inflamação crônica. Essa, por sua vez, é ligada ao diabetes tipo 2 e a ataques cardíacos, como o derrame, por exemplo.
O carboidrato é o macronutriente que mais rapidamente, e em maior quantidade (100%), se converte em glicose. Por isso, seu consumo deve ser moderado para pacientes com predisposição a doenças como diabetes, especialmente na forma industrializada.
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Normalmente, o tratamento se inicia com orientações sobre mudanças comportamentais, como alterações na dieta, redução de peso, atividade física regular, parar de fumar, entre outras.
Em seguida, a partir do valor da glicemia, da capacidade de produção de insulina e da presença ou não de outras comorbidades, pode ser mandatório iniciar um tratamento medicamentoso para controlar a doença. Os medicamentos atuam facilitando a ação da insulina, aumentando sua secreção, promovendo a perda de glicose pela urina ou, nos casos de incapacidade de produção adequada de insulina, a sua reposição.
O melhor caminho para quem convive com o diabetes mellitus tipo 2 é realizar consultas médicas e exames laboratoriais regularmente. Além disso, usar as medicações e, principalmente, fazer mudanças comportamentais que resultem em redução da gordura corporal e melhora do condicionamento físico, como dieta balanceada (a avaliação com nutricionista é fundamental) e atividade física regular, são fatores determinantes que, associados com a prescrição médica adequada, melhoram a qualidade de vida dos pacientes.
Se você tem ou conhece alguém que sofre com o aumento da glicose no sangue (hiperglicemia), é possível que já tenha se perguntado se o diabetes tem cura. Sendo muito categórica e objetiva, a endocrinologista Paula Pires, formada pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a resposta para essa dúvida é não.
Isso é explicado pelo fato de o diabetes ser crônico. A doença começa de forma gradual. Suas causas são variadas e a evolução costuma ser longa e até incerta. Ao mesmo tempo, o tratamento consiste em um processo de cuidado contínuo, mas que não surte efeito definitivo.
“Uma vez que a pessoa foi diagnosticada com diabetes, isso já significa alterações metabólicas irreversíveis, como resistência à insulina e alteração no funcionamento do pâncreas, que é o órgão que secreta insulina. Por isso, a prevenção é mesmo o melhor remédio”, adverte Paula.
Apesar desse cenário, existe uma boa notícia para as pessoas com diabetes: o problema oferece a possibilidade de remissão. “A remissão é quando a doença está silenciada. Ou seja, o paciente, mesmo sem tomar os medicamentos, não tem sinal, sintoma ou alteração laboratorial que indique o seu desenvolvimento”, explica Thais Mussi, endocrinologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Atualmente, existem vários medicamentos disponíveis para pacientes com diabetes que podem ajudar a controlar o açúcar no sangue. A metformina, por exemplo, é um medicamento oral geralmente prescrito para pacientes com diabetes tipo 2.
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Como o diabetes está relacionado à forma como o corpo usa os alimentos que você come, fazer algumas mudanças na dieta e nos exercícios será essencial para o tratamento. A comida se torna uma entidade diferente para pessoas com diabetes. Isso tende a ser mais verdadeiro para pessoas com diabetes tipo 2 do que para pessoas com tipo 1. Mas, pacientes com ambas as doenças precisam estar atentos ao que estão comendo, quando se alimentam e como os alimentos podem mudar o funcionamento dos medicamentos e da insulina.
Assim, o médico deve orientar sobre a dieta e pode recomendar a remoção de carboidratos simples e refinados ou alimentos com alto teor de açúcar, como refrigerante, biscoitos, doces, pão, arroz e batatas.
Se você é do tipo que adora consumir ultraprocessados, saiba que pesquisas sugerem que eles podem aumentar o risco de diabetes tipo 2. Para chegar a essa conclusão, um estudo examinou os hábitos alimentares de mais de 100.000 pessoas. A pesquisa durou uma década, de 2009 a 2019, e foi comandada pelo Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Estatística da Universidade de Paris, na França. Os pesquisadores coletaram, então, dados sobre a ingestão alimentar dos participantes, em que perguntaram sobre o consumo de cerca de 3.500 alimentos diferentes.
Então, os especialistas classificaram os itens alimentares de acordo com seu grau de processamento. Com isso, foram descritas quatro categorias: alimentos não processados/minimamente processados, ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados (refrigerante, bolacha, salgadinho, fast food, lasanha congelada…).
Assim, ao cruzar os registros com um questionário de hábitos alimentares, atividades físicas e histórico familiar dos voluntários, os profissionais encontraram uma associação consistente entre a quantidade absoluta de consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de diabetes tipo 2.
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Não tem fórmula mágica, e muito menos alimentos milagrosos: a melhor forma de prevenir o diabetes tipo 2 é manter o peso e uma dieta equilibrada. Por isso, invista em:
1 – Alimentos ricos em fibras: Aveia, trigo integral, soja, chia
A quantidade de fibras presente nesses alimentos ajuda a manter estável o nível de glicose no sangue, evitando a temida hipoglicemia (glicemia muito baixa).
2 – Itens ricos em “gorduras saudáveis”: Salmão, abacate, chia, linhaça
Isso se deve ao fato de serem anti-inflamatórios e, por conterem uma grande quantidade de gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas, beneficiam a saúde cardiovascular, bem como do sangue, ajudando a prevenir e combater diversos problemas, inclusive a diabetes.
3 – Legumes e leguminosas: Feijão, soja, grão-de-bico, lentilha, ervilha
Justamente por serem ricos em vitaminas, antioxidantes, minerais diversos e fibras, esses dois grupos alimentícios nutritivos são grandes aliados tanto de quem já tem diabetes, quanto de quem deseja prevenir esse diagnóstico (como é o caso de pessoas com pré-diabetes). O pré-diabetes é a condição em que o açúcar no sangue está elevado, mas não o suficiente para ser classificado como diabetes do tipo 2.
4 – Frutas no geral
Além disso, uma recente pesquisa conduzida pela Edith Cowan University (ECU), na Austrália, e publicada no Journal of Clinical and Endocrinology and Metabolism, mostrou que ingerir duas porções de frutas frescas por dia pode reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2 em mais de um terço.
O exercício físico é essencial para todos, especialmente para quem sofre com diabetes. Isso porque se mexer regularmente pode ajudar a gerenciar o peso e os níveis de açúcar no sangue. Atividade física também é uma arma poderosa para pessoas que têm pré-diabetes.
Além disso, o exercício pode ajudar o corpo a combater doenças, aumentando a atividade do sistema imunológico.
Atividades físicas também ajudam a emagrecer e melhorar o equilíbrio. No entanto, a conformidade com um programa de exercícios deve ser consistente para obter resultados duradouros.
Se você for uma pessoa sedentária e deseja iniciar um programa de exercícios, consulte um médico antes, para garantir que não haja restrições ou precauções especiais. Assim, veja a seguir os melhores exercícios para quem sofre com diabetes. Dessa maneira, com o tempo, você pode aumentar a duração e a intensidade da sua rotina.
Se engana quem acredita que precisa de uma academia ou de equipamentos caros para exercitar-se. Assim, caminhar é uma ótima opção para quem está treinando em casa. Ou seja, tudo que você precisa é de um par de tênis e um lugar seguro para caminhar – mantendo distância de outras pessoas. O recomendado é fazer uma caminhada rápida de 30 minutos, cinco dias por semana.
De acordo com uma revisão de estudos feita de 2014, caminhar pode ajudar as pessoas com diabetes tipo 2 a diminuir seus níveis de açúcar no sangue e perder peso.
O ciclismo também é uma forma de exercício aeróbico, fortalece o coração e os pulmões funcionam melhor, além de queimar calorias. Para pedalar, você nem precisa sair de casa: uma bicicleta ergométrica pode ser útil porque você pode fazer independentemente do clima.
Atividades aquáticas como natação, hidroginástica e corrida aquática podem exercitar coração, pulmões e músculos, enquanto exercem pouco esforço sobre as articulações.
Segundo um estudo feito em 2017, o exercício aquático pode ajudar a diminuir os níveis de açúcar no sangue, assim como o exercícios no chão.
Yoga pode ajudar as pessoas com diabetes tipo 2 a gerenciar seu açúcar no sangue, níveis de colesterol e peso. Além disso, pode diminuir a pressão arterial, melhorar a qualidade do sono e melhorar o humor.
O pilates é um programa de condicionamento físico desenvolvido para melhorar a força, a coordenação e o equilíbrio do núcleo. Assim, de acordo com um estudo recente de mulheres mais velhas com diabetes tipo 2, também pode ajudar a melhorar o controle do açúcar no sangue.
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