Síndrome de Burnout: o que é e como evitá-la

Bem-estar Equilíbrio
05 de Junho, 2024
Lívia Barbosa Alves de Souza
Revisado por
Psicóloga • CRP 01/22261
Síndrome de Burnout: o que é e como evitá-la

O mundo profissional exige cada vez mais produtividade e eficiência. Isso está deixando as pessoas doentes — e não é uma doença qualquer. A Síndrome de Burnout entrou no radar da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, mas foi no início de 2022 que ela passou a ser considerada uma doença ocupacional (ou seja, relacionada ao trabalho).

Sendo assim, garante ao empregado direitos trabalhistas como licença médica e até mesmo aposentadoria por invalidez. A síndrome também integra a Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Saiba mais sobre a condição.

O que é?

O termo nasceu no inglês, pela junção das palavras “burn”, que significa queimar, e “out”, sendo “por fora, saída, mostrando o lado exterior”. Dessa forma, a síndrome de Burnout “queima de dentro para fora”. No início, não é algo visível, mas não deixa de ser menos sério por isso.

Nesse contexto, burnout significa entrar em colapso físico e mental devido à pressão excessiva no trabalho e o acúmulo de funções e responsabilidades que, ao longo do tempo, causam consequências físicas para a saúde.

Porque a síndrome de Burnout acontece?

Não é só a pressão que estimula o aparecimento da condição, a tensão emocional e o estresse crônico contribuem e muito para a doença. Além disso, a falta de reconhecimento, a chamada “síndrome do impostor” — onde a pessoa crê que não é capaz de realizar suas tarefas profissionais — e problemas sociais com os colegas também colaboram para o diagnóstico.

O transtorno é mais comum em profissionais que lidam diariamente com pressão no trabalho ou metas a serem batidas, por exemplo:

  • Médicos;
  • Jornalistas;
  • Professores;
  • Advogados;
  • Policiais.

Burnout na pandemia

Uma pesquisa da Microsoft apontou um aumento de 44% de brasileiros com esgotamento profissional. “A Síndrome de Burnout, consequência do excesso ou sobrecarga de trabalho, se agravou na pandemia. Assim, a pessoa se sente literalmente exausta, esgotada física e psicologicamente, seja pelo número de horas trabalhadas ou pelo estresse provocado pelas condições de trabalho”, explica a psiquiatra Danielle H Admoni.

O home office, por exemplo, se tornou uma rotina para muitos profissionais. No entanto, nem todos conseguiram se adaptar. “Pacientes [que desenvolveram burnout] relatam desânimo, dificuldade de raciocínio, ansiedade, irritabilidade, sensação de incapacidade, diminuição da motivação e da criatividade, entre outros sintomas”, conta o também psiquiatra Adiel Rios.

A privação do sono também é um forte gatilho para o diagnóstico. “Quando o profissional não dorme o suficiente para ser produtivo ou trabalha até tarde da noite, sua rotina do sono é prejudicada. O que desregula, desse modo, o relógio biológico. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado a um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tempo e resistência para se adequar às mudanças”, reforça Adiel.

Atenção aos sintomas da Síndrome de Burnout

A Síndrome de Burnout geralmente se inicia com episódios de estresse pontuais, mas que se tornam cada vez mais recorrentes até que a pessoa se sinta esgotada. 

Imagine a cena: você embarca em um desafio profissional e quer ser reconhecido pelo seu esforço. Então, começa a trabalhar duro, estica o horário um dia, depois outro… Quando vê, está assumindo mais tarefas do que dá conta e vai ficando mais sobrecarregado, sem energia e tampouco se sente motivado para outras atividades. Esse é um exemplo de situação na qual uma pessoa pode desenvolver a Síndrome de Burnout. Veja mais sintomas:

  • Cansaço crônico: qualquer atividade simples torna-se exaustiva;
  • Dificuldade de se concentrar;
  • Episódios constantes de irritabilidade e alterações de humor;
  • Fugas frequentes do trabalho e de outros compromissos;
  • Desânimo e perda de interesse por qualquer assunto que não seja relacionado ao trabalho;
  • Crises de estresse frequentes;
  • Tremores;
  • Falta ou excesso de apetite;
  • Taquicardia;
  • Pressão alta;
  • Exteriorização de problemas na pele;
  • Crise de asma;
  • Problemas gastrointestinais.

Possíveis causas para a Síndrome de Burnout

Sobrecarga

Quando o colaborador recebe tarefas além da conta. Para conseguir cumprir com os prazos, trabalha por mais horas por dia ou não faz pausas de descanso. Então, está sempre preocupado com as atividades do emprego e pensa constantemente, mesmo fora do horário de trabalho, sobre as tarefas.

Assume diversas tarefas que não são da própria função e acredita que isso ajuda no desempenho profissional. Contudo, não nota o reflexo desse esforço na saúde.

Falta de suporte e negligência

A falta de reconhecimento, feedbacks e reuniões de bem-estar também podem causar a síndrome. Sendo assim, a ausência de desafios profissionais no dia a dia colabora para o diagnóstico. Em contrapartida, ter uma rotina sem muita movimentação e novidades se torna outro fator da síndrome.

Além disso, conviver com situações estressantes relacionadas aos colegas e/ou omissão do RH sobre casos abusivos.

Autossabotagem

Neste caso, a síndrome é causado pelo profissional não achar que consegue realizar o trabalho designado. Isso vale para o trabalho sozinho, em time ou ajuda da empresa. Assim, tudo gera a sensação de incompetência, desmotivação, falta de criatividade — também presentes na chamada “síndrome do impostor”.

Será que sou vítima da Síndrome de Burnout?

Somente um psicólogo, psiquiatra ou outro profissional de áreas correlatas é capaz de realizar o diagnóstico correto. No entanto, os sintomas são fundamentais para ficar atento e procurar ajuda.

Ademais, outra forma de perceber se algo não vai bem é analisar o quanto você se desgasta no trabalho e os sentimentos que são despertados em um momento de estresse ou pressão. Por isso, avalie se são emoções passageiras ou se elas permanecem mesmo depois de “largar a caneta”.

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Dessa forma, caso perceba que a pressão está acima do normal e que você não está conseguindo lidar bem com ela, vale procurar ajuda profissional e conversar com seus gestores.

Consequências que o transtorno pode trazer

Uma consequência frequente do problema é o uso de drogas (álcool, tabaco, além das drogas ilícitas) como forma de alívio. “É importante prestar atenção na situação, uma vez que ela agravará ainda mais a condição física e mental do indivíduo. O mesmo pode ser dito da automedicação”, frisa a psiquiatra Danielle H. Admoni.

Nos casos em que a Síndrome de Burnout já foi diagnosticada, recomenda-se buscar auxílio de um profissional de saúde mental, médio psiquiatra ou psicólogo, para a orientação quanto ao tratamento. “O tratamento adequado depende das características de cada pessoa e, durante o processo de psicoterapia, o profissional poderá combinar com você o que é mais adequado e possível no seu caso”, avalia a psicóloga Monica Machado.

Além disso, pessoas que abusam do consumo do álcool e usuários de drogas são pré-dispostas e mais propícias a desenvolverem a síndrome.

Como evitar a Síndrome de Burnout

Antes mesmo de notar que a relação com o trabalho está extrapolando os limites e atrapalhando a saúde, é importante seguir um estilo de vida saudável e equilibrado. 

Exercite-se com frequência para estimular o corpo a produzir endorfina e outros hormônios responsáveis pelo bem-estar e pelo relaxamento. Portanto, atividades como yoga e meditação são excelentes para ganhar mais autoconhecimento, foco no momento presente, desestressar e se preocupar menos com o futuro.

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Por fim, desfrutar de uma rotina de autocuidado e lazer, além de aprender a estabelecer limites no trabalho, são as melhores ferramentas para manter sua saúde física e mental preservadas.

O tratamento da Síndrome de Burnout

O diagnóstico da síndrome é feito por meio da avaliação de um psicólogo ou um psiquiatra, e suas formas de tratar podem ser diversas. Em casos mais graves pode haver uso de medicamentos. Tudo dependerá do estágio em que a síndrome está. Dessa forma, o tratamento psiquiátrico com antidepressivos pode ajudar.

Contudo, o método mais comum é a terapia. O psicólogo pode ajudar o indíviduo a entender como foi o processo e quais as ferramentas ele pode desenvolver para lidar com as consequências dele. Aos poucos, também auxilia a modificar sua forma de se relacionar com o trabalho, transformando o comportamento e a visão de carreira. 

O mais importante é, sempre que possível, mudar os hábitos no trabalho. Se for o caso de trabalhar excessivamente, tentar maneirar a carga horária. Então, se o problema for com o ambiente, é possível conversar sobre o diagnóstico com o especialista de RH ou até mesmo mudar de emprego em prol da sua saúde.

Em muitos casos, os trabalhadores ignoram os sintomas. Entretanto, essa demora no diagnóstico pode agravar ainda mais o estado da síndrome de Burnout no paciente. No mais, em casos de dúvidas sobre o seu diagnóstico ou se sentir os sintomas citados, busque ajuda médica.

Perguntas frequentes sobre o transtorno

Como saber a diferença entre Burnout, depressão e ansiedade?

Os três transtornos psicológicos têm sintomas parecidos. Portanto, é preciso avaliar junto a um profissional (psicólogo ou psiquiatra) o que leva as crises no dia a dia. Tudo dependerá da investigação do profissional sobre a carga de estresse e tristeza.

Em conclusão, é preciso verificar se o estresse está ou não relacionado ao trabalho. Isso não descarta o fato de que, com o tempo, a síndrome pode causar quadro depressivo e ansioso.

Quanto tempo leva o tratamento da Síndrome de Burnout?

Alguns fatores influenciam o tempo de tratamento. Em casos descobertos em estágio inicial e que começam o tratamento cedo, a duração é de pequeno prazo. Sendo assim, casos mais graves e que não são tratados rapidamente podem levar anos até que o transtorno se estabilize.

De toda maneira, a manutenção regular da questão profissional e o cuidado com as tarefas no trabalho colaboram para que a síndrome não surja.

Como abordar a doença no RH?

Nestes casos, é comum que o colaborador se sinta desconfortável e receoso de comunicar a empresa. Contudo, é preciso deixar o RH ou responsável ciente da condição.

Deixe o superior bem informado sobre o que está acontecendo no dia a dia e pergunte como esses motivos de estresse podem ser evitados. Dessa forma, em algumas empresas, há realocação de times e mudanças nas regras internas. Seja sempre claro e sincero sobre o assunto.

Posso ser demitido por sofrer com Burnout?

Assim como em qualquer outra doença, o ideal é que o colaborador não perca o emprego após o retorno, caso haja uma pausa para recuperação.

Com a nova lei, em vigor desde janeiro de 2022, após o diagnóstico confirmado, o trabalhador com Burnout pode ser afastado por até 15 dias sem perder o emprego. Além disso, a licença médica também evita os descontos dos dias ausentes na folha de pagamento.

Em casos mais graves, onde é preciso solicitar afastamento por período longo, esse colaborador irá contar com o auxílio-doença e estabilidade por 12 meses após seu retorno.

Em caso de abuso do RH, ameaças ou atitudes perigosas, processos trabalhistas podem ser feitos partindo do colaborador para a empresa.

Como voltar a ter confiança no trabalho?

É uma questão a ser trabalhada com o tempo. Como já citado, o acompanhamento psicológico é necessário. Lidar com as questões mentais e não as deixar de lado é um ponto crucial do processo. Portanto, pedir feedbacks e aceitar as críticas construtivas de forma leve ajuda no dia a dia.

Dicas para as empresas 

Por fim, não podemos nos esquecer da responsabilidade que a empresa tem que ter com o seu funcionário. A área de Recursos Humanos deve estar sempre atenta ao bem-estar de seus colaboradores, além de ser bem preparada para agir em casos de Síndrome de Burnout.

Para as empresas, é interessante manter uma equipe sempre disponível e comunicativa sobre o tema. Muitos funcionários têm receio de falar para o RH que estão com Burnout por medo de represálias. Entretanto, é essencial esse contato com a equipe de recursos humanos. 

Além de comunicar, vale investir em receber os feedbacks dos funcionários sobre o que aquele ambiente pode melhorar e o que o empregado está achando da empresa. Cuidar da saúde mental do profissional é importante tanto para a empresa, quanto para o colaborador.

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Pratique a meditação

A meditação é uma ótima alternativa para tirar um tempo para você. Esse exercício promove a concentração e também o ritmo da respiração. Ou seja, além de ajudar a aliviar a tensão, também melhora a sua rotina no trabalho.

Então, não há um horário específico para a prática da meditação, o importante é separar alguns minutos do dia para exercer a técnica.

Fontes: Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (CASME); Danielle H. Admoni, psiquiatra na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); Adiel Rios, Mestre em Psiquiatria pela UNIFESP, pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); e Monica Machado, psicóloga pela USP, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.


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