Duas em cada três brasileiras têm problemas intestinais
- 1. O intestino é o nosso segundo cérebro
- 2. Problemas intestinais: quantas vezes por semana devemos ir ao banheiro?
- 3. Qual a relação entre a alimentação e a saúde do intestino?
- 4. Problemas intestinais: sinais de que o intestino pode estar prejudicado
- 5. Dicas de alimentação e hábitos para prevenir e tratar problemas intestinais
Quem nunca teve um acontecimento importante na vida e, na véspera, sofreu com alguns sintomas digestivos nada agradáveis por conta do nervosismo? Apesar de muita gente já ter passado por isso, poucas pessoas sabem que o intestino está intimamente ligado à saúde mental e física. E não para por aí: o órgão é capaz de influenciar até a imunidade. Mas, duas em cada três brasileiras têm problemas intestinais. O dado é do primeiro mapeamento em escala nacional sobre a saúde intestinal da mulher, realizado pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Isso equivale a 67% das 3.040 mulheres entre 18 e 60 anos avaliadas.
O intestino é o nosso segundo cérebro
Você já deve ter escutado a máxima por aí. E ela não deixa de ser verdade: o intestino concentra cerca de 500 milhões de neurônios — sim, o mesmo tipo de célula presente no cérebro — e tem o seu sistema nervoso próprio. “Ele responde a estímulos sensoriais e emocionais. A gente diz que existe um eixo intestino-cérebro. Ou seja, o cérebro pode afetar as funções intestinais, mas o inverso também acontece”, explica a nutricionista Laís Murta.
Além disso, a nossa saúde tem muito a agradecer ao órgão. “Há uma conexão forte entre o intestino e diversas outras áreas do corpo. Ele é responsável, por exemplo, por cerca de 90% da nossa imunidade”, complementa a profissional.
De acordo com ela, essa estrutura é tão complexa que os especialistas não estão nem perto de identificar todas as suas funções e papéis dentro do organismo. Mas já se sabe que ela é impressionante: começando ao final do estômago e terminando no ânus, o intestino é um tubo que pode atingir até 9 metros de comprimento. É nele que os nutrientes dos alimentos são absorvidos, e que moram trilhões de micro-organismos vivos (a chamada microbiota intestinal).
Problemas intestinais: quantas vezes por semana devemos ir ao banheiro?
O ideal é ir todos os dias, mas três vezes por semana também pode ser considerado normal, dependendo de quanto você come. Se você vai ao banheiro com uma frequência menor, sente a barriga inchada ou fica mais de dois dois sem evacuar, vale ficar atento.
Para a maioria dos casos, mudanças nos hábitos já resolvem o problema — com alimentação rica em fibras, ingestão adequada de água e prática regular de atividade física, por exemplo. Em outras situações, uma consulta com profissionais de saúde pode ser necessária.
Outro ponto que pode indicar problemas intestinais é o formato das fezes. Se elas forem granulares ou em pequenas bolas (e, principalmente, se a saída delas provocar sangramentos e hemorroidas no ânus), significa falta de líquidos e/ou fibras na dieta.
Por fim, fazer cocô mais de uma vez por dia não costuma ser um problema. Basta, apenas, verificar se há um quadro constante de diarreia. Se a resposta for positiva, também será preciso procurar a orientação do seu médico.
Qual a relação entre a alimentação e a saúde do intestino?
A nutricionista Karla Lacerda explica que, desde antes de nascermos, o nosso corpo começa a formar a chamada microbiota intestinal, que só fica completa alguns anos depois de já estarmos no mundo e é única — ou seja, uma nunca será igual a outra, como uma impressão digital.
Ela nada mais é do que o ambiente intestinal povoado por bactérias boas e ruins para nós, que precisam estar em equilíbrio (chamado também de homeostase) para que muitos processos funcionem adequadamente.
Mas por que, exatamente, precisamos de bactérias morando dentro de nós? “O microbioma intestinal interfere e influencia em muitas funções do organismo, incluindo o ritmo circadiano [famoso ‘relógio biológico’], as respostas nutricionais, o metabolismo e a imunidade”, diz a especialista.
O que a gente come, aliás, é a principal fonte de energia desses bichinhos. Por isso, mudanças bruscas na alimentação alteram rapidamente a nossa microbiota — tanto para o bem, quanto para o mal, viu? “Uma alimentação rica em produtos industrializados, com excesso de açúcares, pobre em vegetais e com baixa em hidratação resulta de um intestino doente e ineficiente em suas funções essenciais”, alerta Karla Lacerda.
Por outro lado, um cardápio cheio de legumes, verduras, frutas e oleaginosas tem o efeito contrário. “Um intestino saudável tem uma comunidade diversificada de bactérias — e cada uma delas precisa de alimentos diferentes. Por isso, quanto maior a variedade da alimentação, mais bactérias diversas vão povoar o intestino.”
E não adianta muito ter uma dieta ruim, mas apostar nos multivitamínicos para “compensar”, viu? “Suplementos isolados dificilmente terão a mesma eficácia que uma alimentação completa”, sugere a profissional.
Problemas intestinais: sinais de que o intestino pode estar prejudicado
De acordo com a nutricionista, os sintomas de problemas intestinais são muitos e bem diferentes, e isso dificulta tanto o diagnóstico, quanto o tratamento correto. “É comum que se observe apenas quadros de constipação, diarreia ou dores abdominais.”
Contudo, fadiga, falta de certas vitaminas ou minerais no corpo, problemas de pele, enxaqueca e dor de cabeça, inchaço, mudanças no humor e náuseas também indicam que alguma coisa pode estar errada por lá.
O ideal, nesses casos, é buscar ajuda de uma equipe multidisciplinar de profissionais. “Um coloproctologista, que é especialista em tratamentos do intestino, um gastroenterologista, que é um clínico especializado em todo o trato gastrointestinal, o clínico geral e claro, o nutricionista, que fará a prescrição correta da alimentação”, aconselha Karla Lacerda.
Dicas de alimentação e hábitos para prevenir e tratar problemas intestinais
A nutricionista elenca o que priorizar na rotina em prol de uma saúde gastrointestinal de qualidade:
Inclua mais vegetais na dieta
Legumes, verduras, frutas, oleaginosas, leguminosas, sementes e grãos integrais, por exemplo, contêm os elementos essenciais para o desenvolvimento das bactérias benéficas. “As fibras são determinantes para a diversidade, a função e a ecologia bacteriana intestinal, e devem ser a base da alimentação”. Ela dá alguns exemplos de bons alimentos:
- Leguminosas;
- Amaranto;
- Semente de chia, linhaça e gergelim;
- Açafrão;
- Cacau;
- Aspargos;
- Aveia;
- Abacate;
- Mamão;
- Chá verde.
“Uma dica excelente para sempre ter um cardápio variado em sabor e diverso em nutrientes é aproveitar os produtos de cada estação, evitando a mesmice de uma alimentação monótona e desfrutando dos alimentos que cada época do ano traz de melhor.”
Beba água!
“Outro ponto importantíssimo que muitas vezes é negligenciado é a hidratação. Isso porque para um bom funcionamento intestinal, a água é essencial, sendo a responsável por ‘carregar’ todos esses nutrientes. Ela ainda contribui com a motilidade e a eliminação de toxinas.”
Diminua os ultraprocessados
“O consumo excessivo de frutose e outros açúcares de alimentos industrializados prejudica e diminui a defesa da barreira intestinal, compromete sua integridade e a produção de muco — que é essencial para a correta absorção dos nutrientes ingeridos”. Além disso, as substâncias químicas presentes nesses produtos podem causar quadros de inflamação intestinal e até distúrbios no metabolismo.
Alimentação e intestino: cuide do corpo e da mente
“Hábitos como atividade física, técnicas de relaxamento e terapia também são encorajados, visto que corpo e mente estão relacionados e a modulação do estresse beneficia o desenvolvimento saudável da microbiota intestinal.”