Janeiro Seco: dicas (e motivos) para uma pausa no álcool
O início do ano é um período de recomeço, e muitas pessoas aproveitam esse momento para traçar novas metas em prol de um estilo de vida mais saudável. Parar ou diminuir o consumo de álcool é um dos objetivos mais comuns. Nesse sentido, a ONG britânica Alcohol Change United Kingdom criou a campanha ‘Janeiro Seco’ para incentivar as pessoas a não ingerirem bebidas alcoólicas durante um mês.
Nos últimos anos, o movimento Janeiro Seco, que começou no Reino Unido, tem ultrapassado as fronteiras para alcançar novos adeptos em outros países, como o Brasil.
Benefícios do Janeiro Seco
Não é difícil achar quem tenha aumentado o consumo de álcool durante e depois da pandemia — e principalmente depois das comemorações de Natal e Ano Novo. De acordo com uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 42% dos entrevistados no Brasil relataram uma alta na ingestão da substância.
“O álcool é uma substância tóxica para o organismo humano, e pode provocar doenças mentais, cânceres, problemas hepáticos (como a cirrose), alterações cardiovasculares (com risco de infarto e acidente vascular cerebral), e diminuição da imunidade, além de favorecer a desidratação, a inflamação e o acúmulo de líquidos”, diz a médica nutróloga Marcella Garcez.
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Em todo o mundo, a iniciativa Janeiro Seco visa desafiar a população a passar os 31 dias do mês sem álcool. E, mesmo que os malefícios não sumam do dia para a noite, acredite: um mês sem ele traz benefícios. Uma pesquisa publicada noBMJ Open descobriu que a abstenção do álcool durante um mês é realmente benéfica. Os participantes do estudo tiveram mais energia e perderam peso.
Consequências do álcool
A ingestão frequente de bebidas alcóolicas pode trazer vários problemas para a saúde. Assim, confira os principais:
Janeiro Seco: o álcool reduz o metabolismo
O fígado é o responsável por digerir as bebidas alcóolicas. Porém, esse mesmo órgão também metaboliza (isto é, queima) as gorduras.
“O fígado trabalha diariamente quebrando as gorduras da sua alimentação e eliminando as toxinas. Quando você bebe álcool, acaba adicionando mais uma tarefa na função do órgão. Dessa forma, seu fígado não consegue processar a gordura de maneira rápida e eficiente, pois estará, também, trabalhando para expelir o álcool. Como consequência, ocorre a desaceleração do metabolismo, levando, inclusive, ao acúmulo de gordura”, explica Marcella.
Logo, como o fígado já estará sobrecarregado na tentativa de metabolizar o álcool, o recomendado é que, depois de consumir bebidas alcóolicas, você evite alimentos pesados, como carnes vermelhas, dando preferência a carnes brancas cozidas e grelhadas, além de muita salada e frutas.
Vale lembrar, por fim, que a substância é bem calórica: 1g dela tem aproximadamente 7 calorias.
Ele pode causar infertilidade
Segundo o ginecologista obstetra Fernando Prado, um estudo do ano passado publicado no Human Reproduction, jornal mensal da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), mostrou que as mulheres que desejam engravidar devem evitar o consumo excessivo de álcool.
“Na segunda metade do ciclo menstrual, mesmo o consumo moderado está relacionado a chances reduzidas de gravidez, de acordo com o trabalho”, explica o especialista. Isso porque, possivelmente, a ingestão dele afeta os processos envolvidos na ovulação, de modo que nenhum óvulo é liberado durante o período ovulatório do ciclo. Além disso, a substância pode afetar a capacidade de um óvulo fertilizado se implantar no útero.
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Janeiro Seco: hábitos ruins prejudicam o cérebro
Uma análise de adultos com 80 anos ou mais mostra que um estilo de vida mais saudável está associado a um menor risco de comprometimento cognitivo. Os dados foram publicados no meio do ano passado no periódico PLOS Medicine.
Dessa forma, a pesquisa levou em consideração pontos como tabagismo, peso corporal, padrão alimentar, atividade física e, também, o consumo de álcool – que já foi relacionado a problemas de memória. “A análise confirmou que os participantes com estilos de vida saudáveis eram significativamente menos propensos a ter prejuízo cognitivo do que aqueles com estilo de vida não saudável”, diz o médico neurologista e neuro-oncologista Gabriel Novaes de Rezende Batistella.
Sua pele também sofre
A perda de água causada por drinks e doses afeta a saúde da pele. “A pele é um dos tecidos periféricos de onde o organismo retira água para metabolizar o álcool. Como resultado, o tecido cutâneo pode sofrer com desidratação, descamação e perda de viço e brilho”, afirma a dermatologista Paola Pomerantzeff.
Além disso, pode haver mais processos inflamatórios. “A inflamação crônica piora a qualidade da pele, prejudicando sua firmeza e sua elasticidade e acelerando o envelhecimento cutâneo, além de favorecer o surgimento de doenças como acne, psoríase, rosácea e dermatite seborreica”, complementa o dermatologista Daniel Cassiano.
Janeiro Seco: o risco de problemas circulatórios aumenta
Por favorecer a desidratação, o álcool, além de aumentar a incidência de cãibras e dores musculares, também pode fazer com que o organismo retenha mais líquidos. “Ficamos, desse modo, mais inchados e a pressão sobre as veias e as artérias aumenta, o que pode contribuir para o surgimento de problemas vasculares como varizes e trombose”, destaca a cirurgiã vascular Aline Lamaita.
Por fim, a saúde bucal pode sair perdendo
Outra estrutura afetada é a boca, com danos principalmente aos dentes e à gengiva. “A desidratação provoca uma diminuição na produção de saliva. Assim, ficamos mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças como cáries, gengivite e erosão dental, visto que uma das principais funções da saliva é justamente proteger os dentes e as mucosas orais”, conta o cirurgião-dentista Hugo Lewgoy.
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Janeiro Seco: como parar de beber (ou reduzir o consumo de álcool)?
Independentemente da motivação, a mudança de hábitos muitas vezes não é uma tarefa fácil. Assim, para contribuir com esse processo, o CISA destaca cinco orientações que podem fazer a diferença:
- Se definiu que é hora de reduzir ou parar de beber, não adie. Defina uma data e comece;
- Compartilhe a intenção de diminuir ou cessar o consumo. Isso poderá fazer com que seus familiares e amigos se mobilizem para apoiá-lo;
- Afaste-se do que possa lembrá-lo do álcool ou desencadear uma vontade de beber, por exemplo, bares ou setor de bebidas de um mercado. Também é válido não ter bebida alcoólica em casa;
- Preencha o tempo livre com um hobby e busque fazer atividades que não envolvam bebida alcoólica;
- Por fim, não se esqueça de que adotar outros hábitos saudáveis também irá ajudar nesse processo: procure se alimentar bem, ter uma boa noite de sono, praticar atividade física e beber água.
“O grau de dificuldade para reduzir o consumo ou parar de beber dependerá das características pessoais do indivíduo, da quantidade de bebida que costuma ingerir e se já apresenta complicações de ordem emocional, física ou interpessoal decorrentes desse uso”, explica o presidente do CISA, que recomenda a busca de auxílio de um profissional da saúde de confiança para uma avaliação detalhada, se houver dificuldade nesse processo.
Fontes: Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia; Fernando Prado, ginecologista e obstetra especialista em Reprodução Humana; Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista; Paola Pomerantzeff, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia; Daniel Cassiano, dermatologista da Clínica GRU Saúde; Aline Lamaita, cirurgiã vascular membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular; Hugo Lewgoy, cirurgião-dentista, doutor em Odontologia pela USP e Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.