Intolerância à rafinose: sensibilidade ao carboidrato pode gerar sintomas nada agradáveis. Entenda
Os carboidratos consistem em macronutrientes essenciais para a nossa sobrevivência. Afinal, são eles os principais responsáveis por fornecer energia para o corpo realizar diversas atividades, desde as mais “simples” (como respirar e fazer o coração bater), até as mais “complexas” (como praticar exercícios físicos). Mas você sabia que algumas pessoas apresentam a chamada intolerância à rafinose, um tipo do macronutriente?
Pois é. Tal condição pode desencadear sintomas incômodos, muitas vezes socialmente desagradáveis (gases, por exemplo), o que deixa muita gente com vergonha de consultar um médico. Mas não precisa ser assim! É possível, com a ajuda de um especialista, encontrar soluções para essa questão.
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O que exatamente é a rafinose?
Para entender o que é a rafinose, vale conhecer melhor os tipos de carboidratos. De acordo com o médico Dr Carlos Machado, clínico geral e especialista em medicina integrativa, os carboidratos costumam ser os macronutrientes mais abundantes e baratos que existem. Eles são divididos em alguns tipos, de acordo com a quantidade de “partes” que cada molécula carrega:
- Monossacarídeos: possuem apenas um fragmento e são conhecidos também como carboidratos simples. “Podemos citar a glicose, a frutose (açúcar das frutas) e a galactose (presente no leite e em outros elementos)”;
- Dissacarídeos: dois fragmentos — a partir daqui, já são chamados de carboidratos complexos. “Como a sacarose, a maltose e a lactose”;
- Oligossacarídeos: três a 10 “partes”;
- Polissacarídeos: mais de 10 fragmentos. “Exemplos são o amido e o glicogênio produzido pelo próprio fígado”, finaliza o profissional.
A rafinose entra no grupo dos oligossacarídeos (ou trissacarídeos), uma vez que ela é formada por três elementos (a galactose, a frutose e a glicose). Encontramos a rafinose em diversos alimentos que consumimos no dia a dia¹⁻²:
- Oleaginosas: amendoim, nozes;
- Cereais: arroz, aveia, centeio, cevada, granola, milho, trigo;
- Legumes: ervilha, feijão, grão-de-bico, lentilha;
- Frutas: banana, kiwi, laranja, uva;
- Vegetais: abóbora, abobrinha, alcachofra, alho-poró, aspargo, batata, beterraba, brócolis, cebola, cenoura, chicória, couve, couve-flor, couve-de-bruxelas, espinafre, pimentão, pepino, repolho.
“Esses alimentos também são ricos em carboidratos fermentáveis e mais difíceis de serem digeridos e absorvidos pelo corpo humano. Por isso, eles acabam sendo fermentados pelas próprias bactérias presentes no nosso intestino”, explica a médica nutróloga Dra Daniela Gomes, do Hospital Albert Sabin.
Em algumas pessoas, a sensibilidade é maior, o que exacerba a formação de gases e o aparecimento de sintomas como distensão abdominal, cólicas e diarreia³.
Intolerância à rafinose
No caso específico da intolerância à rafinose, os incômodos citados anteriormente aparecem porque nós, seres humanos, não temos a enzima responsável por quebrar o trissacarídeo em seus fragmentos menores. Desta maneira, ocorre a fermentação pelos micro-organismos do intestino. “O processo provoca a produção de dióxido de carbono, metano e hidrogênio, piorando gases e flatulência. Então, vão existir pessoas com mais gases, e pessoas menos gases, a depender da flora intestinal”, complementa o clínico geral.
Geralmente, o diagnóstico se dá pela auto-observação do paciente, que percebe os incômodos ao comer certos itens, e leva a queixa ao consultório.
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Tratamento para intolerância à rafinose
O tratamento busca reduzir o consumo dos alimentos “fermentadores”. “Mas não é interessante cortá-los completamente da dieta, uma vez que alguns são extremamente benéficos para a saúde”, pontua a nutróloga.
A médica explica que uma saída é diminuir a ingestão dos carboidratos fermentáveis em um primeiro momento, para então melhorar a microbiota intestinal. “Isso significa amenizar o estresse, restringir os industrializados e ricos em conservantes e fazer uso de probióticos específicos”. No caso da intolerância à rafinose, pode ser orientada a utilização da alfa-Galactosidase, a tal enzima que os seres humanos não possuem, e que digere o carboidrato em questão⁴.
Por fim, depois do tratamento, a reintrodução dos alimentos é feita de maneira gradual, “para que a alimentação possa ser saudável e equilibrada”, finaliza a Dra Daniela Gomes.
Fontes
- Prof Dr Carlos Machado (CRM SP 41.937), médico clínico geral e especialista em Medicina Preventiva. Autor do livro Você é o que você come;
- Dra Daniela Gomes (CRM SP 122.126), médica nutróloga do Hospital Albert Sabin.
Bibliografia
- [¹] – Pinheiro DM, Porto KRA, Menezes MES. A química dos alimentos: carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e minerais. Maceió, AL: Edufal; 2005. (Conversando sobre ciências em Alagoas);
- [²] – Courtois J. Oligosaccharides from land plants and algae: production and applications in therapeutics and biotechnology. Curr Opin Microbiol. 2009;12(3):261-73;
- [³] – Tahir M. Characterization of raffinose family oligosaccharides in lentil seeds.
Saskatoon, SK: Tese [Doutorado em Ciências Vegetais] – Universidade de Saskatchewan, Saskatoon, Saskatchewan; 2011; - [⁴] – Solomons N, Vasquez A, Grazioso C. Orally-ingested, microbial alpha-galactosidases produce effective in vivo, intraintestinal digestion of the bean oligosaccharide. Gastroenterology. 1991;100:A251.