Alimentação rica em açúcar pode servir como gatilho para transtornos mentais

Alimentação Bem-estar Equilíbrio
29 de Outubro, 2021
Alimentação rica em açúcar pode servir como gatilho para transtornos mentais

A relação entre a má alimentação e os transtornos mentais vem ficando cada vez mais clara para a ciência com o passar do tempo. E a questão é uma via de mão dupla: tanto a comida pode servir como válvula de escape para mascarar alguma doença (depressão, por exemplo), quanto o que a gente come pode favorecer condições psiquiátricas, como a ansiedade crônica. Entenda melhor:

Por que muita gente desconta as emoções na comida?

O Brasil é o quarto maior consumidor de sacarose (um tipo de açúcar) do mundo. No dia a dia, 16,3% dos alimentos ingeridos pelos brasileiros são fontes da substância, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa porcentagem não ultrapasse os 10%.

De acordo com o médico psiquiatra e nutrólogo Frederico Porto, é muito frequente recorrermos a uma alimentação rica no item durante picos de estresse — estes, cada vez mais comuns no mundo moderno. Isso acontece por conta de um mecanismo natural do corpo. “Sob estresse, o organismo produz adrenalina, um hormônio que funciona como uma defesa para que a pessoa consiga lidar com perigos. Automaticamente, também é liberada glicose na corrente sanguínea — substância que gera energia caso haja a necessidade de correr”, afirma.

Isso era muito importante para os nossos ancestrais. Afinal, se eles fossem perseguidos por um predador, por exemplo, a adrenalina liberaria o açúcar na corrente sanguínea, o que garantiria combustível suficiente para uma fuga. Hoje, o processo já não faz mais tanto sentido. “Os fatores que desencadeiam o estresse na atualidade geralmente podem ser resolvidos com o pensamento, e não com a ação”, afirma o especialista.

Quando você termina de resolver um problema no trabalho ou de escrever um e-mail complicado, ainda há muita glicose disponível no sangue. O corpo, então, reage secretando insulina, um hormônio que é responsável por controlar os níveis de açúcar na corrente. O problema é isso pode aumentar a fome — desse modo, o corpo entende que precisa de mais energia. “Aí, vem a vontade de comer um doce“, finaliza o profissional.

Leia também: Malefícios do estresse para o corpo a curto e a longo prazo

Má alimentação e transtornos mentais

O nutrólogo explica que o açúcar é de rápida absorção. “Ao ingerir alimentos com muita glicose, secretamos bastante insulina para controlar a quantidade dessa substância no organismo. A glicose vai embora e, em cerca de meia hora, estamos com fome novamente. Forma-se um ciclo vicioso”, destaca.

Para quebrar a associação entre estresse e comida, Frederico Porto recomenda que as pessoas adquiram o hábito de ingerir alimentos com altos índices glicêmicos. Isso porque eles são absorvidos lentamente, evitando esses picos de açúcar no sangue. Ele exemplifica alguns: laticínios, leguminosas, vegetais, oleaginosas e alguns cereais integrais (aveia, arroz, milho e quinoa).

Leia também: Frutas e vegetais beneficiam a saúde mental das crianças

Como a má alimentação pode causar transtornos mentais

“A mente e o corpo estão interligados. Então, uma dieta de baixa qualidade tende a favorecer o desenvolvimento de doenças mentais”, afirma o médico psiquiatra. Isso ocorre, conforme Frederico, porque alimentos industrializados, ultraprocessados, refinados, ricos em carboidratos e pobres em vitaminas e minerais, quando ingeridos em excesso, causam um estado pró-inflamatório no indivíduo. Apesar de sutil, a inflamação afeta o corpo todo — contribuindo para o aumento de peso e a resistência à insulina, duas condições relacionadas ao diabetes.

Além disso, substâncias chamadas de citocinas (proteínas que modulam a função das células) também são afetadas se exagerarmos no açúcar. Elas podem, desse modo, inflamar também o cérebro. “Há indícios de que a depressão é decorrente desse processo inflamatório. Sem contar que o corpo perde a capacidade de lidar com o estresse, o que aumenta as chances de quadros ansiosos”, explica.

Para buscar mitigar o desenvolvimento de transtornos mentais, o nutrólogo recomenda evitar o consumo de itens industrializados e refinados (pães, massas, sucos e doces). Ademais, priorizar a ingestão da chamada “comida de verdade”.

Leia também: Estresse excessivo aumenta o risco de hipertensão e doenças cardiovasculares, diz estudo

Fonte: Frederico Porto, médico psiquiatra e nutrólogo professor convidado da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, consultor sênior associado a consultorias internacionais e autor de dois livros.

Sobre o autor

Redação
Todos os textos assinados pela nossa equipe editorial, nutricional e de profissionais de Educação Física.

Leia também:

mulher praticando atividade física ao ar livre e suando
Bem-estar Movimento

Suar emagrece? Entenda se a transpiração ajuda a perder calorias

Suar demais realmente significa que você está perdendo peso? Descubra

foto mostra uma xícara de chá vazia com paus de canela ao lado em cima de um prato
Alimentação Bem-estar

É termogênico e ajuda no equilíbrio da glicemia e do colesterol; veja benefícios do chá de canela

A bebida é uma ótima opção para esquentar o corpo — muitos afirmam, ainda, que ela emagrece

farinha de beterraba
Alimentação Bem-estar

Farinha de beterraba: benefícios e como incluir na dieta

Pode prevenir doenças cardiovasculares, melhorar o aporte de fibras e ainda ajudar a aumentar a performance esportiva