Tuberculose: o que é, principais sintomas e transmissão

Saúde
06 de Junho, 2022
Tuberculose: o que é, principais sintomas e transmissão

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas. A doença é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Esse microrganismo é um tipo especial de bactéria, também conhecido como bacilo de Koch, em homenagem a Robertto Koch que identificou o Mycobacterium tuberculosis em 1882. Além disso, a tuberculose é uma das doenças mais antigas do mundo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, 10 milhões de novos casos da doença surgem no mundo. Estudos de autópsia apontam a TB como responsável por 33% das mortes de soropositivos, mesmo entre os que fizeram o tratamento com antirretroviral de elevada eficácia. 

O Dr. Enio Pires Studart, médico pneumologista e infectologista, destaca que em 2022, as pesquisas mostraram novamente um aumento de casos de tuberculose pelo primeiro ano, em mais de dez anos de queda de níveis de transmissão. 

“A pandemia da COVID-19 piorou o cenário da tuberculose no país devido a dificuldade de atendimento, distanciamento social e pela dificuldade que houve de atendimento ambulatorial no sistema de saúde, que colapsou”, completa. Entenda, agora, as causas, sintomas e transmissão da tuberculose.

Tipos de tuberculose

A tuberculose é uma doença que afeta primordialmente os pulmões, mas pode afetar outros órgãos. Nesse caso, trata-se de tuberculose extra-pulmonar. Esses tipos de tuberculose podem ser:

  • Pleural: é um tipo de tuberculose que acomete a pleura, uma membrana fina que reveste os pulmões. A tuberculose pleural é a forma de tuberculose extrapulmonar mais observada em pacientes imunocomprometidos, sobretudo com AIDS.
  • Ganglionar: é um tipo de tuberculose que acomete os gânglios linfáticos, isto é, os linfonodos, que são pequenos órgãos de defesa presentes em várias partes do corpo. A tuberculose ganglionar é a forma mais comum de tuberculose extrapulmonar em pessoas infectados pelo vírus HIV.
  • Óssea: é um tipo de tuberculose extrapulmonar que afeta ossos e articulações, principalmente as vértebras da coluna (Mal de Pott), os ossos longos e as articulações do quadril, joelho e tornozelo. É mais comum em crianças e idosos. A infecção dos ossos e das articulações pela bactéria causadora da tuberculose ocorre frequentemente através do sangue.
  • Miliar: é um tipo de tuberculose em que as bactérias estão disseminadas na corrente sanguínea, provocando lesões em vários tecidos e órgãos do corpo. A tuberculose miliar é uma das formas mais graves da doença. Afeta, sobretudo, pessoas com outras doenças de base, como cirrose, câncer, doenças reumatológicas e imunodeficiências. Situações de baixa imunidade também favorecem o desenvolvimento desse tipo de tuberculose, como nos casos de crianças pequenas, idosos e grávidas.
  • Laríngea: ao lado da TB pulmonar, o tipo laríngeo é o único que transmite o bacilo para outras pessoas.

Há, ainda, casos de tuberculose no sistema nervoso central, meningoencefálica, gastrointestinal, linfática, pericárdica, osteoarticular, intestinal, ocular, cutânea, entre outros tipos.

Transmissão 

A transmissão da tuberculose ocorre, principalmente, de forma aerógena, ou seja, pela tosse de pessoa a pessoa (gotículas de Flügge), em pacientes com predisposição genética e/ou adquirida. É importante destacar que a doença não é transmitida por meio de objetos compartilhados, como talheres, copos, entre outros.

Quais são as causas da tuberculose?

As principais causas para o surgimento da tuberculose são:

  • Vulnerabilidade social;
  • Contato domiciliar com doentes infectados;
  • Alcoolismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas.

Vale frisar que pneumonia ou gripe mal curada não causam tuberculose.

Fatores de risco

Dessa forma, atinge, em sua maioria, indivíduos que se encontram vulneráveis e em condições de alta densidade populacional, sobretudo falta de saneamento básico, bem como indivíduos em situação de cárcere. Além disso, estão mais propensos a terem a doença pessoas que tiveram contato prévio com doentes, pacientes com doenças subjacentes como AIDS, diabetes descompensada, insuficiência renal crônica e doenças reumáticas, além daqueles que fazem uso de medicações imunossupressoras e novos imunobiológicos para tratamento de doenças autoimunes.

Um outro dado importante: a OMS recomenda maior atenção às crianças. “Trata-se de um  grupo vulnerável, principalmente aquelas que têm um marcador imunológico de doença latente com PPD ou IGRA positivo e que devem ser tratados mesmo sem terem a doença ativa”, explica o médico.

Tuberculose e HIV: qual a relação?

A tuberculose é a doença infecciosa mais frequente nas pessoas vivendo com HIV e tem grande impacto na qualidade de vida e na mortalidade dessa população. Uma pessoa vivendo com HIV tem 28 vezes mais chances de contrair tuberculose do que uma pessoa que não tem HIV. No Brasil, a proporção da coinfecção TB-HIV é de 9,4%, ou seja, dos 69 mil novos casos de tuberculose registrados em 2016, 6,5 mil também apresentaram resultado positivo para o HIV. A coinfecção TB-HIV é a principal causa de morte em pacientes com aids.

Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que, em todas as oportunidades de atendimento às pessoas vivendo com HIV, seja feita a investigação para tuberculose. Da mesma forma, todas as pessoas diagnosticadas com tuberculose devem fazer o teste de HIV.

Sintomas

A princípio, a tuberculose causa um emagrecimento involuntário. Além desse sintoma, são comuns:

  • Febre vespertina
  • Suores noturnos
  • Tosse seca contínua no início, depois com presença de secreção por mais de quatro semanas, transformando-se, na maioria das vezes, em uma tosse com pus ou sangue
  • Adinamia (fraqueza muscular)
  • Fadiga e cansaço excessivo
  • Falta de apetite
  • Palidez
  • Queda do estado de saúde em geral.

Além disso, alguns pacientes são assintomáticos ou apresentam sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns anos (ou meses). Os casos graves apresentam dificuldade na respiração, eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acúmulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão).

Os riscos da tuberculose

Se o diagnóstico da tuberculose não for realizado o mais rápido possível e demore muito tempo para começar o tratamento, o quadro pode se agravar, ou seja, o pulmão pode ficar muito prejudicado pelo bacilo. Uma destas complicações é quando o paciente tosse com muito sangue. Além disso, a doença pode matar. Segundo dados da OMS, a tuberculose faz cerca de 1,5 milhão de vítimas por ano.

Como diagnosticar a tuberculose?

O principal meio de diagnóstico hoje no Brasil é por meio do exame de escarro. Assim, é possível fazer a pesquisa e cultura da Mycobacterium. Atualmente, também há um teste molecular chamado Genexpert ultra para um diagnóstico rápido. Todos eles estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, o diagnóstico inclui a história de adoecimento da pessoa e um exame clínico. Além do exame de escarro, outros específicos podem ser necessários, como no caso da baciloscopia e o raio-X de tórax. Pode ser que sejam necessários outros exames, como a biópsia, dependendo do órgão afetado.

Afinal, tuberculose tem cura?

Sim. Toda tuberculose tem cura se diagnosticada e tratada corretamente. Entenda melhor como funciona o tratamento.

Como é feito o tratamento da doença?

O tratamento da tuberculose inclui, além de medicamentos, mudanças no estilo de vida. Confira como ele é feito.

Medicamentos

O tratamento da tuberculose é feito com quatro tipos de medicamentos, também disponibilizados pelo SUS, uma vez que é uma doença de notificação compulsória, por ser uma questão de saúde pública. “Esse tratamento leva 6 meses e deve ser monitorado a cada mês pela conversão da cultura do escarro: de positivo para negativo”, explica o Dr. Enio.

O grande problema hoje em dia é que pela falta de aderência ao tratamento, abandono e uso de outros medicamentos que interferem na absorção desses medicamentos, há uma grande complicação com a resistência da Mycobacterium às drogas utilizadas. Como consequência, têm crescido os casos de resistência primária MDR (“Multidrug-resistant”) e XDR (“Extensively drug-resistant”).

Por essa razão, foi iniciado no Brasil – também pelo  SUS – o tratamento diretamente observado, ou seja, o paciente recebe a medicação no posto de saúde diariamente, pelo menos na fase inicial da doença. Existe também a possibilidade de vacina como proteção, entretanto, a vacinação infantil com BCG protege apenas as formas graves da doença, que são a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar disseminada. 

Alimentação

Já que um dos sinais de tuberculose é a queda de apetite, uma das consequências imediatas é a redução de peso, que pode, inclusive, evoluir para a desnutrição. Por isso, o ideal é procurar um nutricionista para balancear a alimentação. Apesar de não ter restrições alimentares, quanto mais saudável for a alimentação, mais benefícios irá trazer à saúde, de uma forma geral. Dessa forma, o ideal é escolher alimentos com alta densidade calórica e nutricional. Por exemplo, aposte em boas fontes de gorduras, como azeite, óleo de coco, oleaginosas, abacate, gordura natural das carnes e ovos, entre outros.

Também é recomendado consumir frutas, inclusive secas, grãos integrais e boas fontes de proteínas. Pode ser útil, também, algum tipo de suplemento nutricional para atingir as necessidades protéico calóricas, principalmente na falta de apetite. No entanto, o suplemento deve ser avaliado individualmente e prescrito por um profissional.

Diferentes especialidades médicas envolvidas nos cuidados

Pneumologista: é quem faz o diagnóstico, prescreve o tratamento e a medicação (quando necessário), identifica os fatores de risco para a doença e para as complicações, avalia as condições de saúde associadas e orienta sobre como prevenir e lidar com possíveis complicações.

Nutricionista: pode ajudar a montar uma dieta levando em consideração a perda de peso, sintoma comum da tuberculose.

O que perguntar para o médico na consulta

Tosse com sangue é sinal de tuberculose?

Sim. Inclusive, qualquer pessoa que tenha tosse por três semanas ou mais deve procurar um médico para checar a possibilidade de existência da doença. Dessa forma, a tosse com sangue ocorre em fases mais tardias da doença e pode estar relacionada a complicações, por isso é preciso investigar.

Quem convive com alguém com tuberculose também precisa fazer o tratamento?

Todas as pessoas que moram na casa de alguém diagnosticado com tuberculose, bem como outras com convivência próxima e contínua, precisam ser examinadas. Isto é, todos deverão fazer exames e, após avaliação, se alguém for diagnosticado, deve iniciar o tratamento.

Todas as pessoas que se infectam por tuberculose adoecem?

Estima-se que 10% das pessoas que se infectam com o bacilo da tuberculose desenvolvam a doença, sendo que 5% nos primeiros dois anos após a infecção e 5% tardiamente.

Toda pessoa com tuberculose pode transmitir a doença?

Não. A transmissão da doença só ocorre enquanto o paciente não se tratar. Após 15 dias de medicação, a chance é pequena e, com 30 dias, quase nula.

Estou sem sintomas. Posso parar o tratamento?

Não. Os sintomas desaparecem com 20 a 30 dias de tratamento, mas ele deve se estender por seis meses. Caso contrário, o problema volta e ainda pode se mostrar resistente à medicação.

É necessário separar objetos de uso pessoal da pessoa com tuberculose e isolá-la?

Não. No entanto, é necessário que o doente utilize alguma proteção na hora de tossir, como lenço ou máscara, enquanto está na fase de tratamento em que ainda pode transmitir a patologia.

Mulheres que já tiveram tuberculose podem engravidar?

Durante muito tempo, a mulher que teve tuberculose foi orientada a evitar a gravidez. Isso porque havia um receio da doença voltar, especialmente no pós-parto e aleitamento. Porém, após a descoberta do tratamento, esse mito caiu por terra. Dessa forma, com o tratamento adequado, o risco de recidiva na mulher grávida é idêntico ao da população em geral

É possível prevenir?

De acordo com o especialista, é possível sim evitar a tuberculose. “A OMS tem a intenção de controlar a tuberculose mundial até 2030. Entretanto, com várias turbulências mundiais que estamos enfrentando, o próprio órgão postergou esse controle para 2050”, explica o pneumologista.

Dessa forma, as principais formas de prevenção incluem tratamento precoce do caso índice, tratamento dos contactantes desse caso, rastreamento populacional da doença, melhores condições de habitação e saneamento, ventilação adequada, assepsia, bem como melhores condições de capilaridade do sistema de saúde em chegar até aos doentes nas comunidades mais carentes. 

Por fim, caso a pessoa apresente sintomas de tuberculose, a recomendação do Ministério da Saúde é de procurar a unidade de saúde mais próxima da residência para avaliação e realização de exames. Se o resultado for positivo para tuberculose, deve-se iniciar o tratamento o mais rápido possível e segui-lo até o final.

Vacina BCG

A vacina BCG protege contra a tuberculose, entretanto, ela não oferece eficácia de 100% na prevenção, mas sua aplicação em massa permite a prevenção de formas graves da doença, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar (forma disseminada). No Brasil, embora a incidência de tuberculose pulmonar venha aumentando, quase não são mais registradas suas formas graves.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, nos países onde a tuberculose é frequente e a vacina integra o programa de vacinação infantil, previna-se mais de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa. Impacto como este depende de alta cobertura vacinal, razão pela qual é tão importante que toda criança receba a vacina BCG. Além das crianças, a vacina é indicada para pessoas de qualquer idade que convivam com portadores de hanseníase e estrangeiros, ainda não vacinados, que estejam de mudança para o Brasil.

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Referências:

Ministério da Saúde

Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde – Universidade Federal da Paraíba

Sobre o autor

Fernanda Lima
Jornalista e Subeditora da Vitat. Especialista em saúde

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