Diabetes tem cura? Veja o que dizem os médicos sobre a remissão da doença
Se você tem ou conhece alguém que sofre com o aumento da glicose no sangue (hiperglicemia), é possível que já tenha se perguntado se a diabetes tem cura. Sendo muito categórica e objetiva, a endocrinologista Paula Pires, formada pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a resposta para essa dúvida é não.
Isso é explicado pelo fato da diabetes ser crônica. A doença, que atinge 537 milhões de adultos no mundo inteiro, segundo a Federação Internacional de Diabetes, começa de forma gradual. Suas causas são variadas e a evolução costuma ser longa e até incerta. Ao mesmo tempo, o tratamento consiste em um processo de cuidado contínuo, mas que não surte efeito definitivo.
“Uma vez que a pessoa foi diagnosticada com diabetes, isso já significa alterações metabólicas irreversíveis, como resistência à insulina e alteração no funcionamento do pâncreas, que é o órgão que secreta insulina. Por isso, a prevenção é mesmo o melhor remédio”, adverte Paula.
Apesar desse cenário, existe uma boa notícia para as pessoas com diabetes: o problema oferece a possibilidade de remissão. “A remissão é quando a doença está silenciada. Ou seja, o paciente, mesmo sem tomar os medicamentos, não tem sinal, sintoma ou alteração laboratorial que indique o seu desenvolvimento”, explica Thais Mussi, endocrinologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Diabetes: diferença entre cura e remissão
Thais afirma que, com frequência, os dois termos (remissão e cura) causam confusão quando o assunto é diabetes. Afinal, o estado de remissão pode levar a pessoa a acreditar que a condição simplesmente acabou ou desapareceu. A verdade, no entanto, é que, se ela deixar de seguir hábitos de vida saudáveis, sobretudo em relação à alimentação e exercícios, a doença irá retornar.
É importante ainda ressaltar que isso acontece apenas no caso da diabetes tipo 2, que representa cerca de 90% dos casos de pacientes com diabetes. “Ela é causada pela resistência à insulina, que diminui a ação do hormônio no corpo, fazendo com que o organismo aumente a produção de insulina para tentar garantir níveis normais da glicose. Quando esse ‘movimento’ deixa de ser sustentável, surge o diabetes”, detalha Thais.
Essa variedade se associa ao alto consumo de gorduras e carboidratos e à ausência de atividade física. Por consequência, afeta especialmente adultos a partir dos 50 anos, embora os índices da doença venham crescendo muito entre jovens, adolescentes e até crianças.
Aliás, esse é o público que mais desenvolve a diabetes tipo 1, fruto de uma reação autoimune do organismo. Isso significa que o próprio sistema imunológico destrói as células que produzem a insulina no pâncreas. Quando esse hormônio não é produzido, a glicose acaba acumulando no sangue.
Por ser uma resposta do próprio corpo, a diabetes tipo 1 ainda não é passível de remissão. Por isso, é necessário o uso de insulina para controlar os níveis de glicose na corrente sanguínea. De acordo com Thais, até existem estudos sobre o tema em andamento, como é o caso do tratamento com células-tronco, mas ainda estão em fase inicial.
Diabetes tem cura: como chegar ao estágio de remissão?
Para atingir o estágio de remissão, o ideal é que a pessoa com diabetes foque sua atenção em levar uma rotina saudável. É preciso, por exemplo, manter um peso adequado, adotar uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos regularmente. “É importante, claro, que qualquer tentativa de reverter a diabetes seja feita com acompanhamento de médicos”, aconselha Thais.
De acordo com a médica, algumas pesquisas recentes apontam que, “em pacientes com menos de seis anos de doença, dietas de baixa calorias por três meses, acompanhadas de uma reintrodução calórica progressiva e uma fase de acompanhamento de manutenção de peso perdido, podem fazer atingir o estágio de remissão sem a necessidade de medicamentos”.
Como conquistar qualidade de vida
“Chegar à remissão de uma doença é algo muito difícil e complexo. Valorize o papel do estilo de vida sobre a saúde, que inclui sono de qualidade, manejo do estresse, meditação, saúde mental, alimentação saudável, atividade física e felicidade.” Essas são as orientações de Paula para quem tem diabetes tipo 2.
Thais complementa as sugestões indicando a busca por um endocrinologista de confiança. “Ele será o seu braço direito em todo o processo, já que fará todo o acompanhamento da evolução da doença, monitorando todos os riscos e possíveis problemas.” Além disso, vale controlar o peso, tomar corretamente os medicamentos receitados pelo médico e medir as taxas de açúcar no sangue diariamente.
Fonte: Dra. Paula Pires, endocrinologista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e Thais Mussi, endocrinologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).