Mundo enfrenta crise de depressão sem precedentes, dizem pesquisadores

Bem-estar Equilíbrio Saúde
16 de Fevereiro, 2022
Mundo enfrenta crise de depressão sem precedentes, dizem pesquisadores

A depressão afeta, atualmente, 5% da população adulta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Considerada uma das doenças mais incapacitantes, enfrenta, ainda, a negligência de casos nos países desenvolvidos. Já em países de baixa ou média renda, como o Brasil, a situação é ainda mais difícil, já que a falta de diagnóstico e tratamento atinge mais de 70% das pessoas, agravando ainda mais a crise de depressão.

Dados de um relatório da Associação Mundial de Psiquiatria sobre Depressão e da revista científica The Lancet são preocupantes. O documento chama a atenção para o descaso com que os países têm lidado com a grave crise global de depressão e pede uma resposta de toda a sociedade para reduzir o impacto do transtorno.

O grupo de trabalho responsável pelo relatório conta com 25 especialistas de 11 países, incluindo o Brasil, abrangendo disciplinas da neurociência à saúde global. Entre as propostas, está a capacitação de outros profissionais não médicos, pessoas da comunidade e jovens que já tiveram depressão e estejam dispostos a ajudar quem passa pelo mesmo problema.

Leia mais: Saúde mental após Covid: estudo indica aumento de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático

Pandemia agravou crise de depressão

Com o isolamento social, o luto, as dificuldades e o acesso limitado aos cuidados de saúde provocados pela pandemia de Covid-19, a saúde mental das pessoas se deteriorou ainda mais. Dessa forma, segundo o relatório, há um “tsunami” de necessidades não atendidas nessa área.

De acordo com o psiquiatra Christian Kieling, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coeditor do relatório, a meta foi concentrar no documento todo o conhecimento acumulado até agora sobre depressão, as barreiras e os caminhos para enfrentá-la.

“Tem muita coisa que a gente ainda não sabe sobre depressão e que precisamos investir em pesquisas para avançar, mas tem muito que a gente já sabe como prevenir e tratar depressão. Infelizmente, a maior parte do planeta não tem acesso.”

Os pesquisadores apoiam uma abordagem personalizada da doença, que reconheça a cronologia e a intensidade dos sintomas. Além de intervenções adaptadas às necessidades específicas do indivíduo, deve-se ainda analisar a gravidade da doença e os recursos disponíveis.

Como amenizar a crise global de depressão?

Ainda segundo o relatório, entre as estratégias para evitar a crise de depressão global, estão desde autoajuda e mudanças no estilo de vida até terapias psicológicas. Além disso, remédios antidepressivos e tratamentos mais intensivos, como terapia eletroconvulsiva (ECT) para as formas graves e refratárias da doença, também são indicados.

“Há até estratégias de interação social e convívio social para a terceira idade. Hoje, a gente vê claramente a associação entre solidão e depressão em idosos”, diz Kieling.

Ainda segundo Christian Kieling, há evidências bem robustas sobre a eficácia desse conceito de cuidados colaborativos. “Se eu capacitar pessoas, sob supervisão do médico de família da UBS, envolvendo outros membros da comunidade, como escolas, serviços sociais, grupos religiosos. Com o paciente no centro, é possível oferecer um cuidado tão eficaz ou mais do que aquele oferecido pelo especialista.”

Além disso, o engajamento de pessoas que já passaram por episódios de depressão no cuidado de outras é uma outra estratégia que se mostra exitosa. “O jovem, muitas vezes, não vai buscar ajuda formal no sistema de saúde. O jovem que está pensando em suicídio não vai acordar às 5h da manhã para entrar numa fila do posto de saúde e pegar uma ficha para ser atendido. Nem vai falar para a família, nem vai falar para a escola. Mas de repente vai falar para o melhor amigo, a melhor amiga”, diz o pesquisador.

Estratégias para frear a crise de depressão

O documento também alerta que são necessárias estratégias que reduzam a exposição a experiências adversas na infância para diminuir a depressão na vida adulta, como casos de violência, negligência e traumas.

Há ainda fatores de risco associados à depressão que podem ser prevenidos por políticas públicas. Alguns exemplos são o tabagismo, consumo de álcool, inatividade física, violência doméstica, luto e crise financeira, por exemplo. Grupos desprivilegiados socioeconomicamente, que passam por situações de discriminação por raça ou gênero, e mulheres, também são mais suscetíveis à doença.

Dessa forma, há evidências na literatura mostrando que a psicoterapia, associada ou não à medicação, apresenta resultados melhores do que o tratamento só com o uso de medicamentos.

As consequências da depressão

De acordo com o relatório, na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Estudos indicam que cerca de metade das pessoas que se matam em países de baixa e média renda sofre de doenças mentais. A depressão é a causa mais comum, chegando a 90% nos países de alta renda.

Além disso, lutar contra o estigma que ainda envolve a doença é um outro desafio. Uma das estratégias tem sido “empoderar” as pessoas que vivem com depressão, trazendo-as para uma posição mais ativa no debate. 

O documento reforça ainda que a depressão tem um custo social e econômico enorme e ainda pouco reconhecido. Mesmo antes da pandemia da Covid-19, a perda de produtividade econômica global ligada à depressão era cerca de US$ 1 trilhão por ano. “Não há outra condição de saúde que seja tão comum, tão onerosa, tão universal ou tão tratável quanto a depressão, mas que recebe pouca atenção e recursos nas políticas”, diz Kieling.

Fonte: Folha de São Paulo e CNN.

Sobre o autor

Fernanda Lima
Jornalista e Subeditora da Vitat. Especialista em saúde

Leia também:

mulher praticando atividade física ao ar livre e suando
Bem-estar Movimento

Suar emagrece? Entenda se a transpiração ajuda a perder calorias

Suar demais realmente significa que você está perdendo peso? Descubra

foto mostra uma xícara de chá vazia com paus de canela ao lado em cima de um prato
Alimentação Bem-estar

É termogênico e ajuda no equilíbrio da glicemia e do colesterol; veja benefícios do chá de canela

A bebida é uma ótima opção para esquentar o corpo — muitos afirmam, ainda, que ela emagrece

farinha de beterraba
Alimentação Bem-estar

Farinha de beterraba: benefícios e como incluir na dieta

Pode prevenir doenças cardiovasculares, melhorar o aporte de fibras e ainda ajudar a aumentar a performance esportiva