O que acontece com o corpo ao cortarmos os carboidratos
A dieta low carb (ou seja, baixa em carboidratos) pode ser uma estratégia válida e segura para alguns casos. Contudo, vale lembrar que o macronutriente é essencial para a nossa sobrevivência, e cortar carboidratos de forma radical e sem a indicação (ou o acompanhamento) profissional pode gerar consequências nada agradáveis para o corpo. Saiba mais a seguir:
Afinal, qual a importância dos carboidratos?
Muita gente parece ter medo dos carboidratos, seja porque escutou que todos eles engordam, ou porque podem aumentar o risco de doenças. Mas a verdade é que essas ideias não passam de preconceitos infundados.
Os carboidratos fazem parte do time de macronutrientes, ou seja, os nutrientes que precisamos em maiores quantidades e que são facilmente absorvidos pelo organismo, assim como as proteínas e as gorduras.
De acordo com a nutricionista Shirlei Tessarini, professora e coordenadora do curso de Nutrição da Estácio, a principal função deles é nutrir o organismo, especialmente as células do sistema nervoso central (SNC), que é o principal responsável pela sobrevivência do corpo humano.
“É através da energia gerada pelo carboidrato (combustível) que desempenhamos todas as ações e os movimentos (voluntários e involuntários). Por exemplo: caminhar, pensar, praticar exercícios físicos, respirar e ter energia suficiente para que os órgãos vitais como coração e rins possam funcionar”, complementa a especialista.
Com a moda das dietas low carb, que preconizam o mínimo de carboidratos na alimentação com objetivo de emagrecer e outros benefícios, o macronutriente ganhou uma fama controversa. Entretanto, restringir seu consumo sem orientação profissional pode trazer prejuízos para a saúde, incluindo o ganho de peso.
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Cortar carboidratos emagrece? O que pode acontecer com o corpo?
Para algumas pessoas, reduzir o consumo de carboidratos pode sim contribuir para o emagrecimento, desde que isso seja feito com a ajuda de um profissional. Mas cortá-los completamente do cardápio de maneira repentina e sem indicação não é nada recomendado.
Isso porque o macronutriente é essencial para nós, e a falta súbita e radical dele pode gerar consequências a curto, médio e longo prazo:
Cortar carboidratos: o que acontece a curto prazo
Sem energia, o corpo logo precisa de uma nova forma de combustível. Então, ele passa a transformar a proteína armazenada nos músculos em glicose.
“Depois, com a escassez da proteína, há o que chamamos de cetose. A cetose é a formação de corpos cetônicos no organismo e se dá porque a gordura armazenada nos órgãos e tecidos é desviada, e passa a servir como fonte de energia para que as ações voluntárias e involuntárias vitais continuem acontecendo.”
Como resultado de todo esse processo, explica a nutricionista, podem ocorrer alterações nos hormônios que controlam o apetite e a fome. “Vale a pena destacar que, para o organismo, o tecido adiposo serve como defesa, como um estoque para sobrevivência. Quando se perde esse estoque, ele faz um grande esforço para retomar os níveis anteriores à restrição. Daí acontece o efeito rebote, que é o reganho da perda de gordura.”
A médio prazo
Há risco de comprometimento nutricional, uma vez que os carboidratos também são fontes de outros nutrientes, como fibras, vitaminas e minerais. Logo, o cérebro também sofre com a falta do macronutriente, e o indivíduo desenvolve, nos primeiros dias, sintomas como:
- Irritabilidade;
- Fadiga;
- Dores de cabeça;
- Mau humor.
Esses sintomas tendem a melhorar em cerca de uma semana, mas podem comprometer a performance cognitiva relacionada à atenção, ao aprendizado e até à memória.
Cortar carboidratos: o que acontece a longo prazo
“Acontece a perda de tecido muscular, que é de fundamental importância, visto que é por meio dos músculos que se mantém o metabolismo”, diz Shirlei Tessarini, que completa. “Não há referências na literatura de pacientes que adotam a restrição drástica de carboidratos por longo prazo.”
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Dicas e cuidados
Contudo, isso não significa que a dieta low carb não funciona. Na verdade, ela traz vantagens para certos indivíduos. “Recomendamos para pacientes com obesidade, diabetes, hipertensão arterial e sistêmica, e ainda para pessoas com complicações no aparelho circulatório (cardiopatas e quem tem colesterol e triglicérides elevados”, explica a especialista.
Além disso, indivíduos com comprometimento cognitivo (Alzheimer, por exemplo) podem se beneficiar da redução de carboidratos. “Isso porque os portadores dessa doença perdem a capacidade de usar a glicose como fonte de energia, aumentando ainda mais o comprometimento cognitivo.”
Mas é claro que é preciso alguns cuidados. Além de ser muito bem acompanhado por profissionais, o paciente deve basear-se em uma alimentação saudável, com cereais integrais, frutas, verduras e legumes, além de proteínas magras (peixes e carnes brancas), gorduras boas (sementes, castanhas, abacate e azeite de oliva) e água.
Fonte: Shirlei Tessarini, professora e coordenadora do curso de Nutrição da Estácio.