Riscos do diabetes gestacional: saiba quais são e como se prevenir

Gravidez e maternidade Saúde
24 de Maio, 2023
Bárbara Shibuya Alves
Revisado por
Enfermeira • Coren-SP 752311
Riscos do diabetes gestacional: saiba quais são e como se prevenir

A gravidez é uma fase da vida em que a mulher passa por diversas transformações físicas e emocionais. Alterações no peso, no apetite e no humor, por exemplo, são perfeitamente normais. No entanto, nem sempre o corpo segue o curso da normalidade, e pode manifestar problemas sérios. Um deles é o diabetes gestacional, que traz riscos à saúde da mãe e do bebê se não for controlado.

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O que é o diabetes gestacional?

Como o próprio nome sugere, é um tipo de diabetes que surge durante a gestação. É como outro quadro de diabetes, que gera o acúmulo de glicose no organismo (hiperglicemia), devido à insuficiência de insulina. Mas, por que isso pode acontecer com mulheres grávidas?

No início deste artigo, falamos que o organismo da mulher enfrenta uma série de mudanças para acolher o bebê. Dentre elas, estão as hormonais, que comandam todo o funcionamento do corpo.

Na gravidez, a placenta é um produtor e condutor de hormônios da mãe para o bebê, e vice-versa. Nesse período, ela pode fabricar hormônios que inibem a ação da insulina, cuja função é quebrar as moléculas de glicose no sangue.

Então, para contornar o problema do acúmulo de glicose, o pâncreas faz um esforço e aumenta a produção de insulina, que atua na quebra e na metabolização desse açúcar.

Esse processo é normal e temporário, já que só ocorre enquanto o bebê ainda está no ventre. Contudo, o pâncreas de algumas mulheres não dá conta desse trabalho extra, o que gera o quadro conhecido como resistência à insulina. Como resultado, o diabetes gestacional se instala.

Quais são os riscos do diabetes gestacional?

Como os demais tipos de diabetes, o gestacional é silencioso ou tem sintomas que podem ser confundidos com os da gravidez. Por exemplo, o diabetes gestacional aumenta a vontade de urinar e causa cansaço, que são dois desconfortos típicos da gestação.

Então, é importantíssimo realizar o acompanhamento pré-natal para identificar o quadro logo no início. Bastam alguns exames para verificar a presença do diabetes gestacional, e todos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o Ministério da Saúde, eles devem ser feitos no começo da gravidez e a partir da 24ª semana (sexto mês). São eles: a glicemia em jejum e o teste oral de tolerância à glicose, que mede a atividade da insulina após a ingestão de glicose.

Entretanto, muitas mulheres não seguem os devidos cuidados mesmo com o conhecimento do diagnóstico. Sem o tratamento adequado, o diabetes gestacional traz riscos de vida e sequelas que podem custar a saúde de mãe e filho. A seguir, veja quais:

Risco de obesidade e diabetes para os bebês

Muitos estudos já investigaram a relação entre diabetes gestacional e o impacto no metabolismo das crianças. O mais recente, aliás, é brasileiro, publicado na Nature Reviews Endocrinology em abril deste ano.

O trabalho reúne os principais estudos relacionados ao mecanismo de ação de dois hormônios, a leptina e a adiponectina, e seu efeito de uma geração para outra — observado durante a gestação.

Originadas no tecido adiposo, as substâncias atuam no controle de aspectos metabólicos do organismo. A leptina contribui para a regulação da fome e do peso. No entanto, seu desequilíbrio pode causar a ingestão exagerada de alimentos e a consequente obesidade.

Já a adiponectina ajuda a regular a quantidade de glicose no sangue, e, quando escassa, pode favorecer o surgimento de diabetes. Se ocorrerem durante a gestação, esses desequilíbrios podem ser transferidos da mãe para o embrião ou para a criança, sobretudo nos primeiros dois anos de vida.

No caso da adiponectina, sua sobra ou falta causam efeitos diversos, seja na mãe ou no feto. “A escassez de adiponectina causa excesso de glicose no sangue, o que pode desencadear o diabetes. Por outro lado, na placenta a escassez aumentaria a captação de nutrientes pelo feto, comprometendo o seu desenvolvimento”, comenta o professor José Donato Junior, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e autor da revisão.

Aborto espontâneo ou prematuridade

Muitas mães com diabetes gestacional correm o risco de perder o bebê durante a gravidez. Em outros casos, o feto pode nascer antes do tempo. O contrário também pode acontecer: há bebês que vêm ao mundo no período esperado, mas com tamanho e pesos acima da média.

Nesse cenário, o excesso de glicose da mãe passa pela placenta, afetando o bebê, que começa a produzir mais insulina para quebrar o açúcar. Porém, além da função sobre a glicose, a insulina influencia o ganho de peso e o crescimento do bebê, que se desenvolve demais e pode nascer com mais de 4 kg.

Malformações variadas

As altas quantidades de açúcar no sangue materno, assim como as alterações metabólicas causadas por esse excesso impactam o desenvolvimento saudável da criança. As mutações são diversas, e podem se apresentar em qualquer lugar do corpo, incluindo as malformações no coração, que elevam a incidência de doenças cardiovasculares futuras.

Uma condição bem comum em partos desse tipo é a síndrome do desconforto respiratório, que dificulta a respiração do bebê, podendo ser mortal quando associada a um nascimento prematuro, por exemplo.

Hipoglicemia neonatal

Às vezes, os bebês nascem com pouco açúcar no sangue (hipoglicemia), mas alguns quadros severos podem provocar convulsões no recém-nascido. Então, para salvar a vida da criança, os médicos precisam agir rapidamente aplicando uma solução intravenosa de glicose. 

Pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é o nome dado à hipertensão em gestantes. Todavia, ela é perigosa e traz muitos riscos, pois pode acontecer com qualquer mulher, principalmente se houver diabetes gestacional.

Geralmente a condição se manifesta na segunda metade da gravidez ou em até seis meses pós-parto. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pré-eclâmpsia acomete de 5% a 10% das gestantes em todo o mundo.

Outro dado preocupante: ela é a principal causa da mortalidade materna e infantil, com predominância maior em países pobres ou subdesenvolvidos.

Fatores de risco do diabetes gestacional

As complicações podem assustar qualquer futura mamãe, e não é para menos. Ter consciência de uma doença tão devastadora evita os possíveis desfechos acima. Além disso, é importante conhecer os fatores de risco — ou seja, condições que favorecem o diabetes gestacional. Fique de olho:

  • Histórico familiar de diabetes.
  • Exames com alterações na glicose antes da gravidez.
  • Filhos de outras gestações que nasceram com 4 kg ou mais.
  • Gravidez anterior com quadro de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.
  • Síndrome dos ovários policísticos.
  • Obesidade ou sobrepeso.
  • Uso contínuo de medicamentos corticoesteroides.

Como se prevenir?

A melhor maneira de proteger você e seu bebê dos riscos do diabetes gestacional é o pré-natal. Esse tipo de acompanhamento é essencial para descobrir quaisquer problemas prejudiciais à mãe e ao feto.

Por fim, o estilo de vida da mulher antes mesmo de engravidar pode fazer toda a diferença no andamento da gestação. Priorizar uma alimentação balanceada, exercícios físicos, check-ups frequentes e controle de doenças existentes são imprescindíveis para o planejamento de uma gravidez segura.

Referências: Unifesp; CDC; NHS; MSD Manuals; Sociedade Brasileira de Diabetes; e FEBRASGO.

 

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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