Como saber se é hora de trocar o método contraceptivo (e como fazer isso)

Saúde
02 de Julho, 2024
Como saber se é hora de trocar o método contraceptivo (e como fazer isso)

Está considerando trocar o método contraceptivo e se perguntando por onde começar? A escolha ideal pode variar de acordo com as necessidades de cada pessoa — e uma vez que existe uma infinidade de opções disponíveis, é necessária muita cautela ao realizar a mudança. 

Existem diversos cenários em que o médico pode recomendar a troca, especialmente quando há dificuldade de adaptação ou efeitos colaterais indesejáveis, além de problemas de saúde que tornam o método menos eficaz ou potencialmente arriscado, de acordo com a ginecologista e obstetra Mariana Rosário, membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

“Por exemplo, a paciente descobriu um problema hepático, então ela não pode usar anticoncepcional oral. Ou ela descobriu uma trombofilia, então é preciso mudar o tipo de contraceptivo que ela usa. Não posso usar mais estradiol, por exemplo, eu preciso mudar para um progestágeno. É isso que a gente tem que avaliar”, explica a especialista.

Em todo caso, o processo deve ser orientado por um ginecologista, para avaliar os benefícios e os efeitos adversos esperados do método escolhido. Também é essencial realizá-lo de maneira adequada, obedecendo ao tempo de adaptação, o momento da troca e a forma ideal de uso, a fim de evitar uma gravidez não planejada. 

Quando trocar o método contraceptivo? 

No caso de pessoas que estão adaptadas ao método contraceptivo e não apresentam efeitos colaterais, não é necessário realizar a troca — desde que ele seja utilizado de maneira correta. 

A mudança pode ser considerada nas seguintes situações: 

Efeitos colaterais persistentes

Os efeitos colaterais podem surgir para quem está em período de adaptação do método contraceptivo — especialmente o hormonal, como pílula e o implante. Os mais comuns, como náuseas, inchaço, dor de cabeça e menstruação irregular, costumam ser leves e tendem a desaparecer com o tempo. 

O importante é observar se os sinais persistem por um longo período: esse é um dos primeiros alertas para consultar o ginecologista. 

Os quadros de dor de cabeça, em especial, exigem atenção. Segundo estudos recentes, a pílula anticoncepcional está entre os fatores determinantes para a ocorrência de cefaleia (nome científico das dores de cabeça), podendo agravar quadros existentes. 

Leia também: DIU ou pílula anticoncepcional? Conheça as vantagens e desvantagens

Condições médicas 

A troca do método contraceptivo deve acontecer caso a paciente desenvolva alguma condição clínica que o torne menos eficaz ou arriscado. Para algumas doenças crônicas, como diabetes ou hipertensão arterial, existe a restrição para a utilização de alguns métodos hormonais. No caso de pacientes com câncer, como o de mama ou de endométrio, há uma contraindicação absoluta para o uso de contraceptivos hormonais. 

Amamentação

Pacientes que utilizavam algum método contraceptivo antes da gravidez e desejam retornar após o parto devem ser avaliadas quanto à viabilidade durante a amamentação, de acordo com Monique Novacek, ginecologista e obstetra da Clínica Mantelli.

“Na amamentação, apenas alguns tipos de anticoncepcionais são possíveis de usar. Pílulas orais, por exemplo, devem conter apenas progesterona. Existem também os DIUs e os métodos de barreira, como a camisinha, e os métodos definitivos, como a laqueadura ou a vasectomia“, esclarece a especialista. 

Leia mais: Métodos contraceptivos na amamentação: afinal, o que pode ou não usar?

Sintomas causados pelo anticoncepcional

Em pessoas que utilizam contraceptivos orais combinados, o risco de apresentar coágulos sanguíneos nas veias pode aumentar entre duas a quatro vezes. Por isso, sintomas como inchaço, dor e vermelhidão nas pernas necessitam de acompanhamento imediato com o médico, pois podem indicar início de trombose

Além disso, o uso de anticoncepcionais hormonais pode causar alterações na libido, mas um especialista deve investigar mudanças muito significativas no desejo que não estejam relacionadas com situações pessoais.

Idade 

A partir de determinada idade, existem algumas recomendações que podem diminuir o risco de quadros tromboembólicos. A maioria das pessoas pode utilizar um método contraceptivo até entrar na menopausa, caso não tenha nenhuma comorbidade, mas pacientes tabagistas apresentam restrição para o uso de algumas categorias. 

Com o passar dos anos, alguns métodos também podem ser afetados pela mudança nos níveis hormonais. De acordo com Mariana Rosário, isso ocorre especialmente em pacientes na transição menopausal, marcado pelo declínio na produção dos hormônios progesterona e estrogênio.

“É preciso prestar muita atenção nesse período e realizar verificações a partir de exames com mais frequência. É uma fase muito delicada da vida da mulher, em que ela começa a apresentar sintomas que incomodam muito no dia a dia. Então, nós temos que olhar para essa mulher de forma diferente”, esclarece a ginecologista. 

Uso de medicações 

Além das alterações hormonais, o uso de alguns medicamentos pode afetar a eficácia de métodos contraceptivos hormonais, como antibióticos, antifúngicos e anticonvulsivantes, segundo Mariana. 

Se o uso ocorrer por um período curto de tempo, você pode utilizar o método de barreira (como camisinha) para prevenir uma gravidez não planejada. No entanto, se precisar usar o medicamento por um longo período, pode ser necessário trocar o método por alternativas que não sejam afetadas pela medicação.

Mudanças no estilo de vida ou uso incorreto

Mudanças significativas no estilo de vida podem influenciar na decisão de trocar o método contraceptivo, como planejamento de filhos, entrada ou saída de um relacionamento, ou até mesmo horários irregulares em um novo emprego. 

Para somar, a difícil adaptação ao método (especialmente devido ao ritmo de vida) pode acarretar erros de uso — o que reduz a eficácia e aumenta o risco de efeitos adversos. 

“Por exemplo, métodos que precisam de ingestão diária e não podem ser esquecidos, como as pílulas orais.  Se ela está esquecendo de tomá-las, o efeito não está sendo produzido, aumentando o risco não apenas de gravidez, mas também de atrapalhar todo o ciclo menstrual”, aponta Monique Novacek. 

Por isso, se você frequentemente esquece de tomar ou de realizar a troca no período correto, é momento de considerar a mudança para um método que se adeque a sua rotina. 

Como fazer a troca do método contraceptivo? 

Com a orientação do ginecologista, a transição do método contraceptivo pode acontecer de maneira segura. Primeiro, não é necessário esperar o início de um novo ciclo menstrual para começar um novo método. As lacunas na proteção não devem acontecer! 

Então, você está migrando de uma pílula anticoncepcional para outra, inicie o novo comprimido no dia seguinte à última dose da anterior, para que não haja intervalo entre elas. 

Para outros tipos de mudanças, é necessário uma sobreposição para assegurar a proteção contraceptiva: 

  • Pílula para o adesivo contraceptivo: é preciso uma sobreposição de dois dias entre os métodos para evitar a queda nos níveis de hormônios. Ou seja, após o início do uso do adesivo, mantenha a pílula por dois dias
  • Pílula ou anel vaginal para DIU de progestina ou implante hormonal: é preciso 7 dias de sobreposição para garantir a proteção. Quando você troca para um DIU de cobre, não é necessária nenhuma sobreposição.
  • DIU de cobre para pílula, adesivo ou anel intravaginal: utilize o novo método por 7 dias antes de retirar o dispositivo intrauterino

“A transição do método vai depender muito do que a paciente quer, se ela pode ou não engravidar, se ela está tentando, se está tendo relações sexuais, se está tendo risco de engravidar nesse período. E, obviamente, se é um método que está causando algum malefício, a gente precisa suspender imediatamente e começar outro”, acrescenta Mariana. 

Por fim, é importante ressaltar que o uso de métodos contraceptivos hormonais não previne o surgimento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV, sífilis e HPV. O recomendado é usar um método de barreira, como camisinha masculina ou feminina, em todas as relações sexuais. Elas podem ser retiradas gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde. 

Fontes

Mariana Rosário, ginecologista e obstetra, membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

Monique Novacek, ginecologista e obstetra da Clínica Mantelli.

Referências

Frances E. Casey, MD, MPH, Virginia Commonwealth University Medical Center. Métodos hormonais de contracepção. Revisado/Corrigido: ago 2023. Acesso em 26 de maio, 2024. 

Governo do Estado da Bahia, Secretaria da Saúde, SUS. Cartilha: Métodos Contraceptivos na Atenção Básica, 1 Edição. 2023. Acesso em 26 de maio, 2024. 

Pahim LS, Menezes AM, Lima R. Prevalência e fatores associados à enxaqueca na população adulta de Pelotas, RS. Rev Saúde Pública. 2006;40(4):692-8. Acesso em 26 de maio, 2024.

Conitec, Ministério da Saúde. Relatório para Sociedade: informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS. Nº 3226, abril | 2022.  Acesso em 26 de maio, 2024.

Sobre o autor

Susana Targino
Jornalista da Vitat

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