AVC: o que é, sintomas, causas e tratamento

Saúde
22 de Julho, 2022
AVC: o que é, sintomas, causas e tratamento

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é uma emergência médica que pode causar danos ao cérebro devido à interrupção do fornecimento de sangue para o órgão. Desse modo, o rápido atendimento e o tratamento precoce são imprescindíveis para evitar sequelas graves. Por isso, é muito importante conhecer a condição, bem como seus principais sintomas e as técnicas para detectá-la. Saiba tudo sobre a seguir.

Leia mais: Ataque Isquêmico Transitório: afinal, o que é o “mini-AVC”

Dados sobre AVC no Brasil e no mundo

Embora o AVC (Acidente Vascular Cerebral) seja uma condição mais comum em adultos mais velhos, a incidência em jovens e pessoas de meia-idade tem crescido nas últimas décadas.

De acordo com as últimas informações disponíveis no Painel de Mortalidade do DataSUS, dos anos 2000 até 2019, 174.355 pessoas até 49 anos morreram no Brasil em decorrência de doenças cerebrovasculares.

Um estudo publicado na revista The Lancet, por exemplo, relaciona o excesso de trabalho a um maior risco de AVC em jovens. Outros motivos também ganharam destaque, tais como o sedentarismo, pressão arterial elevada, diabetes, colesterol alto e obesidade, bem como o uso de cigarro e drogas ilícitas.

Além disso, a pesquisa também concluiu que entre as 600 mil pessoas acompanhadas durante o estudo, aquelas que trabalhavam mais de 55 horas por semana tinham uma chance 33% maior de ter AVC do que os que trabalhavam entre 35 e 40 horas semanais.

De acordo com a neurocirurgiã Danielle de Lara, esse resultado pode ser explicado de maneira multifatorial. “A sobrecarga de trabalho faz com que a pessoa se alimente mal, diminua a prática de exercícios físicos e tenha menos tempo para cuidar de sua saúde. Por fim, o estresse pode também aumentar a incidência de hipertensão e diabetes”.

AVC (Acidente Vascular Cerebral): afinal, o que é?

O AVC diz respeito a um problema que atinge o fornecimento de sangue, oxigênio e outros suprimentos para o cérebro. Esses três pilares são importantes porque ajudam no funcionamento do órgão.

Uma pessoa diagnosticada com AVC pode ter uma ou mais regiões do cérebro afetadas. Além disso, o problema tende a ser mais grave quando os neurônios e as células acabam morrendo, principalmente caso o AVC não seja tratado de forma imediata.

Isso porque os neurônios não se multiplicam conforme o resto das células que estão no corpo. A morte deles em virtude do AVC pode trazer sequelas irreversíveis para o paciente, uma vez que aquelas células ficaram comprometidas. A medicina destaca ainda que há mais de um tipo de AVC, e inclusive, os sintomas podem ser silenciosos. Assim, cada um tem um tratamento e uma orientação diferentes.

Tipos de AVC

O AVC pode ser:

  • Isquêmico: obstrução ou diminuição brusca do fluxo de sangue em uma artéria do cérebro, causando, então, a falta de circulação vascular naquela área;
  • Hemorrágico: ocorre quando um vaso sanguíneo se rompe. Assim, nesse cenário, há um extravasamento de sangue para dentro do órgão.

Fatores de risco para o AVC

Os principais consistem em:

  • Histórico familiar;
  • Colesterol alto;
  • Hipertensão arterial;
  • Idade acima de 40 anos;
  • Tabagismo e uso excessivo de álcool;
  • Obesidade;
  • Ademais, sedentarismo;
  • Diabetes mellitus;
  • Uso de drogas ilícitas;
  • Estresse, depressão ou ansiedade;
  • Doenças cardíacas, como fibrilação atrial ou endocardite infecciosa, por exemplo;
  • Inflamação dos vasos sanguíneos (vasculite);
  • Por fim, ser homem.

Além disso, estudos recentes têm demonstrado que outros hábitos podem aumentar o risco do problema. Veja a seguir alguns deles:

Horário irregular das refeições

De acordo com um estudo publicado na revista científica Nutrients, o horário no qual você realiza o jantar impacta nas chances de ser acometido por um derrame.

Para chegarem à essa conclusão, cientistas da Universidade de Osaka, no Japão, e da Universidade de Minia, no Egito, analisaram as informações de 28 mil homens e 43 mil mulheres, entre 40 e 79 anos, durante 19 anos.

Os participantes foram divididos em três grupos. O primeiro era composto pelos que jantavam cedo, antes das 20h. O segundo, por quem comia tarde, isto é, depois das 20h. Por fim, o último grupo era composto por aqueles que tinham horários irregulares.

Como resultado, estudo concluiu que as pessoas que não seguem um mesmo horário para comer têm mais chances de morrer por AVC hemorrágico em comparação com as que jantam cedo.

Inverno e temperaturas mais baixas

No período do ano em que as temperaturas são mais frias, especialmente no outono e no inverno, crescem os riscos de AVC (tanto o isquêmico quanto o hemorrágico). Há várias possíveis explicações para isso:

  • A pressão arterial aumenta devido à vasoconstrição para evitar a perda de calor.
  • Pode ocorrer diminuição de líquidos no sangue e, então, aumento da viscosidade (por aumento de colesterol, plaquetas e fibrinogênio) e risco de obstrução das artérias cerebrais.

Lazer sedentário

O lazer sedentário (assistir à televisão, ler, mexer no celular, usar o computador ou jogar videogame, por exemplo) é uma forma de descontrair para diversas pessoas. No entanto, este comportamento pode aumentar o risco de AVC entre adultos, de acordo com um estudo publicado no periódico científico Stroke, da Associação Americana do Coração.

Assim, ao revisarem registros canadenses de saúde e estilo de vida, pesquisadores da Universidade de Calgary descobriram uma relação entre adultos com menos de 60 anos que gastam oito ou mais horas do dia em lazer sedentário e maior incidência de AVC.

Causas do AVC

Causas do AVC isquêmico

Um AVC isquêmico pode ser dividido em quatro principais causas:

  • AVC isquêmico aterotrombótico: causado por um ateroma ou placa de gordura dentro de uma artéria que leva o sangue para o cérebro. Essa placa pode se romper, formar um coágulo grande que bloqueia totalmente a artéria (trombo) e então provocar a morte das células cerebrais dessa região. Pode, ainda, resultar em pequenos coágulos que podem ser levados pela circulação e obstruir vasos menores do cérebro (êmbolo).
  • AVC isquêmico cardioembólico: ocorre quando um coágulo que se forma no coração ou em uma válvula cardíaca, sobretudo em válvulas artificiais ou com infecção, solta-se e obstrui uma artéria cerebral (êmbolo). Esse AVC é mais frequente em pessoas com uma arritmia chamada fibrilação atrial;
  • AVC isquêmico de outra etiologia: é mais comum em pessoas jovens e pode estar relacionado a distúrbios de coagulação no sangue;
  • AVC isquêmico criptogênico: ocorre quando a causa do AVC isquêmico não foi identificada, mesmo após investigação detalhada pela equipe médica.

Causas do AVC hemorrágico

Os dois principais desencadeantes do AVC hemorrágico são pressão alta descontrolada ou a ruptura de um aneurisma (dilatação anormal de uma artéria). Existem dois tipos principais de acidente vascular cerebral hemorrágico:

  • Hemorragia intracerebral: o sangramento ocorre dentro do cérebro. As principais causas são: pressão alta, traumas, doenças que alteram a coagulação e aneurisma cerebral.
  • Hemorragia subaracnóidea: o sangramento acontece entre as camadas que cobrem a superfície do cérebro. A causa mais comum é a ruptura de um aneurisma em uma artéria, que ruptura costuma provocar uma dor de cabeça repentina e intensa.

Principais sintomas de AVC

  • Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, sobretudo em um lado do corpo;
  • Confusão mental;
  • Alteração da fala ou compreensão;
  • Alteração na visão (em um ou ambos os olhos);
  • Alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar;
  • Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.

Os sintomas de um acidente vascular cerebral hemorrágico podem também incluir os seguintes:

  • Náuseas e vômito
  • Perda de consciência temporária ou persistente
  • Pressão arterial muito alta

Acima de tudo, o AVC é uma doença que precisa de cuidados médicos com urgência. Por isso, se você ou alguém próximo estiver com os sintomas, recomenda-se ir até o centro de saúde mais próximo da sua casa.

Como identificar um AVC rapidamente

É muito importante saber como identificar corretamente o AVC, pois quanto antes for o atendimento, maiores serão as chances de sobrevivência e recuperação total. Confira dois métodos bastante conhecidos:

Como identificar: método FAST

  • Face (rosto): quando ele cai para um certo lado e o indivíduo tem dificuldade para sorrir;
  • Arms (braços): o indivíduo tem dificuldade para levantar um ou ambos os braços;
  • Speech (fala): nesses casos, a fala fica arrastada ou distorcida e a pessoa tem dificuldade para conversar, apesar de estar acordada;
  • Time (tempo): ligue para o número de emergência imediatamente caso perceba algum desses sintomas.

Como identificar: método SAMU

  • Sorria: peça para o indivíduo sorrir. Se ele apresentar uma certa resistência, a face entortar ou paralisar, pode ser um AVC;
  • Abrace: dê um abraço na pessoa e confira se ela consegue fazer isso;
  • Música: cante uma música e veja se ela consegue te acompanhar;
  • Urgente: leve o paciente para o hospital mais próximo rapidamente.

Ao chegar no hospital, os médicos podem pedir uma bateria de exames que ajudam a identificar o problema precocemente. Alguns incluem, por exemplo, tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio, eletrocardiograma, ecocardiograma, ultrassom Doppler de carótidas, Doppler transcraniano e outros.

Tratamento para o AVC

O tratamento do AVC deve ser feito de acordo com o seu tipo, o tempo passado desde o início dos sintomas e as outras doenças do indivíduo.

  • Acidente vascular cerebral isquêmico: o objetivo do tratamento é desobstruir o vaso cerebral que foi afetado, regularizando a circulação sanguínea cerebral. Isso pode ser feito com o uso de medicamentos específicos ou com um procedimento chamado angioplastia;
  • Acidente vascular cerebral hemorrágico: pode ser necessária uma cirurgia para retirar o sangue acumulado.

Ambos os tipos pedem um bom controle dos níveis de glicemia (açúcar no sangue) e da pressão arterial. Além disso, também podem ser recomendadas terapias que tratam as sequelas do AVC, como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional.

Sequelas do AVC

A pessoa com alterações decorrentes de um AVC pode apresentar diversas limitações. Por isso, a recuperação é diferente em cada caso.

Mas a boa notícia é que o tratamento médico imediato, associado à reabilitação adequada, pode minimizar as incapacidades, evitar sequelas e proporcionar ao indivíduo o retorno o mais breve possível às suas atividades. Confira, então, as principais sequelas do AVC:

Disfagia

Disfagia é a dificuldade para engolir. Alguns sinais e sintomas podem ser indícios de disfagia em quem sofreu AVC. Dessa forma, são eles: recusa alimentar, diminuição ou ausência do controle da mastigação, presença de tosse, pigarro/ou engasgos durante a refeição e alterações vocais após a alimentação.

Paralisia facial

É uma das sequelas do AVC mais frequentes. Dessa forma, caracteriza-se pela diminuição dos movimentos faciais, (principalmente a boca fica caída ao tentar sorrir), podendo resultar em alterações nas expressões faciais e nos atos de mastigar e falar.

Fraqueza muscular e limitação de atividades

A fraqueza muscular representa um dos maiores contribuintes para a incapacidade após o AVC e geralmente ocorre em apenas um lado do corpo.

Déficits de sensibilidade

Déficits de sensibilidade envolvem percepções alteradas de dor, tato e sensação térmica (frio ou calor), também em geral de um lado do corpo.

Alterações visuais

Há diversos tipos, mas as alterações, bem como suas gravidades, dependerão da área do cérebro atingida. Assim, podem ser agrupadas em categorias: perda da visão central, perda de um lado do campo visual, problemas com movimentos oculares e problemas de processamento visual.

Afasia

As afasias são distúrbios que afetam a linguagem oral e escrita nos aspectos de conteúdo e forma. Ou seja, a pessoa pode ter as suas capacidades de comunicação e de leitura ou compreensão afetadas.

Disartria

A disartria é a perda da capacidade de articular as palavras de forma normal. Nesse caso, a articulação da fala fica imprecisa, a voz torna-se monótona em relação à frequência e à intensidade, pode haver rouquidão, soprosidade (voz que sai com um ruído excessivo de ar), voz fraca, hipernasalidade (voz “fanha”), voz tensa, velocidade de fala variável e pausas inapropriadas).

Cognição

A cognição é a capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento. Dessa forma, envolve várias habilidades mentais e/ou cerebrais como a percepção, a atenção, o raciocínio, a linguagem, a memória entre outros. O comprometimento cognitivo é comum em pacientes com AVC agudo, com 45% de prevalência de pacientes com déficit cognitivo. Estas disfunções comumente proporcionam consequências devastadoras na vida do indivíduo e exercem forte impacto no desempenho das atividades habituais do paciente.

Distúrbios do humor ou comportamento

A mudança do estado de humor do indivíduo após AVC é comum. Geralmente, ocorre após um longo período, sobretudo durante a reabilitação. É caracterizada por crises de choro e/ou riso incontrolável, podendo, inclusive, ocorrer de forma dissociada ao estado de humor do sujeito acometido, que pode reconhecer esse comportamento como inadequado, o que aumenta ainda mais a sua ansiedade e contribui para o seu isolamento.

Como prevenir o AVC?

A principal estratégia para a prevenção do acidente vascular cerebral é cuidar dos fatores de risco. Existem algumas ações que ajudam a reduzir o risco de um AVC, por exemplo:

  • Controlar a pressão arterial e os níveis de glicemia e colesterol;
  • Não fumar ou parar de fumar;
  • Evitar excesso de consumo de álcool;
  • Não fazer uso de drogas.
  • Manter o peso ideal a partir de uma alimentação saudável;
  • Beber bastante água;
  • Praticar atividades físicas regularmente.

Cuidado com a pílula anticoncepcional

As mulheres também devem ter um cuidado, sobretudo, com a pílula anticoncepcional. De acordo com o neurologista, Rodrigo Schultz, ela aumenta as chances de uma paciente ter AVC. “Trombose, infarto e Acidente Vascular Cerebral são alguns dos problemas que ela pode trazer para as mulheres”.

Por fim, o especialista ainda alerta as mulheres, especialmente, aquelas que têm enxaqueca com aura para ignorarem esse tipo de medicamento. “A melhor saída, então, é contar com o auxílio de preservativos”, completa.

Fontes:

Referências:

  1. AVC: o que é, causas, sintomas, tratamentos, diagnóstico e prevenção. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/avc. Acesso em 05/09/2022.
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