Sangue na urina é perigoso? Especialistas explicam quando se preocupar
A presença de sangue na urina é uma condição que recebe o nome técnico de hematúria. Ela pode ser identificada tanto pelo paciente – a partir de traços de cor avermelhada ao urinar – ou só aparecer após uma avaliação pelo microscópio ou por meio de exames laboratoriais.
Quando esse tipo de situação acontece de forma isolada, em geral, não apresenta maiores complicações. Mas é preciso estar atento se outros sintomas estiverem relacionados, o que pode variar de acordo com o agente do problema.
Causas de sangue na urina
De acordo com João Otavio Ribas Zahdi, médico clínico e nefrologista, são bastante diversos os fatores que envolvem o trato urinário resultando em hematúria.
“As causas mais comuns são a litíase em aparelho urinário (cálculo urinário, também chamado de ‘pedra nos rins’) e infecções urinárias. No entanto, é imprescindível lembrar-se de causas não tão incomuns, como tumores e causas glomerulares, próprias de doenças microscópicas associadas à filtração propriamente dita do sangue nos rins”, indica.
Além disso, outras condições podem provocar o aparecimento de traços de sangue na urina. É o caso de inflamação na bexiga (cistite), lesões ou traumas na região do trato urinário (provocadas por acidentes, quedas e até esportes), malformações vasculares, endometriose no trato urinário e alguns medicamentos (sobretudo anticoagulantes).
No entanto, outros problemas também levam à hematúria. “Prostatite, doença cística renal, hiperplasia, câncer de próstata, tuberculose, histórico de irradiação pélvica nos pacientes em tratamento com radioterapia, sonda vesical de demora e anormalidades estruturais”, explica Artur Faro Fonseca, médico de família da rede Meu Doutor Novamed.
Mulheres no período menstrual costumam notar a presença de sangue ao urinar, especialmente nos primeiros dias do ciclo. Atletas que praticam atividade física muito intensa podem também apresentar hematúria. “Geralmente, ela desaparece após alguns dias de repouso. Em pacientes jovens sem comorbidades, quando não acompanhada de outros sintomas, não há necessidade de investigação mais profunda”, tranquiliza Bruna Fávaro, médica clínica geral do Hospital Albert Sabin (HAS) de São Paulo.
Essa situação só passa a ser preocupante se, ao realizar exercícios mais vigorosos, especialmente sem a supervisão de um profissional qualificado, houver dano nas fibras musculares, liberando sangue na urina, o que pode ser lesivo aos rins.
Quando procurar suporte médico
“Sem dúvidas, assim que percebida, ou mesmo apenas amostrada em exame de urina de rotina, a hematúria deve ser avaliada por um nefrologista. Por vezes, trata-se do único sinal em doenças potencialmente graves e, na maioria das vezes, tratáveis”, aponta o nefrologista João Otavio.
O paciente pode ainda procurar a ajuda de um urologista. Já as mulheres contam também com o auxílio do ginecologista para avaliar e diagnosticar o problema que está levando ao sangue na urina. Para além das análises de urina, o especialista poderá solicitar exames específicos, tais como ressonância magnética, tomografia e ecografia.
“Em alguns casos, conforme a suspeita, pode ser indicada até mesmo biópsia renal. Eventualmente, caso haja uma explicação muito evidente para a hematúria, como sinais de infecção urinária ou visualização de cálculo em exame de imagem, por vezes o médico abre mão desse fluxo de investigação”, comenta João Otavio.
Tratamentos e complicações do sangue na urina
O nefrologista afirma que a gravidade depende da etiologia – ou origem – da hematúria. “Se não tratadas, causas inicialmente mais benignas, como cálculos ou infecção urinária, podem evoluir com alto risco de complicações.”
Artur diz ainda que a condição pode indicar gravidade em homens acima de 50 anos, embora algumas referências também englobem homens acima de 35 anos. Febre, hematúria persistente, retenção de coágulo, histórico de tabagismo e de exposição a carcinógenos ambientais/químicos são algumas delas.
No caso de sangue na urina durante a gestação, a questão pode ser consequência de uma simples infecção ou representar uma condição mais séria, como descolamento da placenta. Por isso, o obstetra deve ser informado o mais rápido possível para evitar obstáculos no desenvolvimento do bebê.
Com relação a tratamentos, o caminho mais adequado dependerá do agente causador da hematúria. Isso porque não há um tratamento padrão para a perda de sangue na urina. Para prevenir, o ideal é evitar o surgimento das causas mais comuns, como pedras nos rins e infecção de trato urinário.
Para fugir dessas condições, a dica de Bruna é manter uma rotina com alta ingestão de líquidos, alimentação balanceada, bons hábitos de higiene genital e visitas regulares ao médico. “Sempre procurar o clínico para exames de rotina e, para homens, acompanhamento regular com o urologista também se faz necessário”, conclui a médica.
Fontes: João Otavio Ribas Zahdi, médico clínico e nefrologista, coordenador do serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie e professor do estágio de Clínica Médica da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná; Artur Faro Fonseca, médico de família da rede Meu Doutor Novamed; e Bruna Fávaro, médica clínica geral do Hospital Albert Sabin (HAS) de São Paulo.