Neuralgia do trigêmeo: doença que provoca uma das piores dores do mundo
Uma dor tão violenta e intensa que figura entre as piores do mundo. Essa é a principal característica da neuralgia do trigêmeo, uma doença rara do sistema neurológico que atinge cerca de cinco pessoas a cada 100 mil no mundo inteiro.
A maioria dos casos é registrada entre a população de meia idade e idosos, com uma predominância do público feminino: as mulheres representam em torno de 60% dos pacientes.
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O que é nervo trigêmeo?
De acordo com Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, é o comprometimento do nervo trigêmeo que denomina a doença. Essa estrutura tem três ramificações diferentes: uma que se localiza na pálpebra superior e em uma porção da testa; outra na região maxilar, perto da bochecha; e a última, na parte inferior do rosto, próxima à mandíbula. “A neuralgia do trigêmeo pode acontecer em uma dessas três localizações.”
O que causa a doença
As causas do problema permanecem como uma incógnita para a ciência, que até hoje não conseguiu definir um fator específico. “Parece haver uma possível correlação entre a neuralgia do trigêmeo e a hipertensão e a enxaqueca, mas mais estudos ainda são necessários”, relata o médico.
Uma possível causa seria a presença de um pequeno vaso dentro do cérebro que, ao encostar e comprimir o nervo, o irritaria, causando a dor. Há ainda situações mais raras de pacientes com esclerose múltipla que exibem o mesmo tipo de sintoma, que também pode surgir em decorrência de traumas importantes no rosto ou no crânio.
A prevalência entre os idosos também poderia sugerir que a bainha de mielina, membrana que protege os nervos, acaba se deteriorando com o tempo. Desse modo, causa um processo degenerativo.
Apesar desses indícios, a verdade é que a maioria dos casos de neuralgia do trigêmeo não tem uma origem certa. Por outro lado, o que se sabe é que há mecanismos que estimulam as crises de dor, como malformação dos vasos da região posterior do encéfalo e tumores que afetam o nervo trigêmeo.
“Espirrar, mastigar, coçar o rosto e fazer movimentos na linha mediana (no meio do nariz) costumam provocar a dor. Os pacientes aprendem a não encostar nessa parte do corpo. Febre, estresse, infecções também podem causar a dor. É difícil prever tudo o que pode desencadear a dor”, avalia Gabriel.
Sintomas da neuralgia do trigêmeo
O médico explica que os episódios de neuralgia do trigêmeo apresentam dores muito fortes e rápidas em apenas um lado do rosto, ou seja, somente à direita ou à esquerda da face. “As dores têm em comum uma sensação de choque, de facada, um golpe muito forte. Elas são de intensidade máxima desde o início, ou seja, o paciente não tem uma dor que vai aumentando, ele já recebe uma dor muito forte sem esperar.”
Essa dor violenta, em geral, dura apenas alguns segundos e desaparece na sequência. No entanto, retorna em intervalos de tempo que sempre variam, surgindo várias vezes dentro de um minuto, algumas horas ou até mesmo ao longo do dia. “O paciente não sabe o que fazer, se fica parado, ou se deve se mexer, se toca no rosto ou não. Ele fica extremamente incomodado”, diz.
Quando a doença acomete a porção mais alta do nervo, os olhos podem ficar avermelhados, o paciente pode lacrimejar e até sentir o nariz congestionado no mesmo lado do rosto.
Outro sinal da neuralgia do trigêmeo é que, entre cada crise, a dor lancinante cessa e a pessoa fica totalmente sem sintomas. Porém, como muitas vezes o espaço entre uma e outra é pequeno, a sensação pode ser a de que o sofrimento é constante.
Diagnóstico e tratamento da neuralgia do trigêmeo
O diagnóstico da doença é essencialmente clínico, ou seja, é realizado a partir da descrição dos sintomas. “Geralmente, encontramos alguma alteração vascular próxima ao nervo do trigêmeo, então, uma ressonância de crânio com avaliação dos vasos intracranianos pode ser também essencial para o diagnóstico.”
Além disso, o tratamento é feito com medicamentos que controlam o quadro de dor. Há pacientes, por exemplo, que ficam muito tempo ou até para sempre sem episódios de dor. “A maioria dos pacientes se mantêm com os medicamentos e, portanto, devem ter acompanhamento neurológico por tempo indeterminado”, informa o especialista. “Em casos mais graves, quando a medicação não é suficiente, pode ser indicada uma neurocirurgia.”
Por fim, durante uma crise de neuralgia do trigêmeo, Gabriel aconselha que o importante é conhecer o próprio corpo e saber quais ações ajudam a evitar a propagação ou a permanência da dor. “Alguns pacientes ficam mais imóveis, evitando mastigar, passar a mão no rosto, bocejar, ter expressões sociais. O melhor é esperar a dor passar. Se a dor se tornar mais frequente que o habitual, talvez seja necessário um ajuste no remédio ou uma nova investigação do caso”, conclui.
Fonte: Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista