O que acontece com o seu corpo quando você reduz a carne?
Quem deseja diminuir o consumo de carne, ou até parar por completo de comer alimentos de origem animal, provavelmente já elencou os motivos pelos quais quer fazer isso. Questões religiosas, ambientais e até econômicas podem estar por trás da escolha, mas a verdade é que o nosso corpo também sai ganhando com isso.
Quando bem estruturadas e planejadas, dietas como a vegana, a vegetariana e a flexitariana trazem inúmeros benefícios para a saúde. Isso porque todas elas priorizam cardápios baseados em alimentos naturais (frutas, verduras, legumes e grãos), além de reduzirem a ingestão de ultraprocessados e embutidos. Saiba mais:
Ao diminuir o consumo de carne, as chances de desenvolver câncer de intestino caem
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica as carnes processadas (como salsicha, linguiça, bacon e presunto) no grupo 1 de elementos carcinogênicos, isto é, para os quais já há evidência suficiente de ligação com o câncer. Na mesma lista estão o tabaco, o amianto e a fumaça de óleo diesel.
A decisão veio após a publicação de um estudo feito pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) no periódico científico The Lancet. Nele, os pesquisadores concluíram que a ingestão de 50g desses alimentos por dia já aumenta o risco de câncer colorretal (de intestino) em 18%.
A pressão arterial também pode ficar mais baixa
De acordo com a médica nefrologista Dra Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, muitos estudos demonstraram que há redução de valores de pressão arterial sistólica (até cerca de 5 mmHg) e diastólica (até cerca de 3 mmHg) com a adoção de uma dieta baseada em vegetais.
“Essa relação pode ser explicada pela redução de peso promovida na dieta vegetariana, já que a pressão arterial é sabidamente associada ao peso”, diz a profissional.
Além disso, existem outros mecanismos que relacionam a dieta vegana a benefícios de redução de pressão. “A ingestão de mais potássio dos vegetais tem efeitos diuréticos; as fibras alimentares melhoram a sensibilidade à insulina e a absorção intestinal de magnésio; e a maior ingestão de carboidratos complexos está associada a uma melhora do perfil lipídico”, diz a médica.
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Ao diminuir o consumo de carne, você tem menos risco de diabetes
Outra boa consequência da adoção da dieta vegana (quando é natural e variada) é a maior sensibilidade à insulina. Segundo estudos, indivíduos que seguem essas dietas têm menos de 50% de chance de desenvolver diabetes quando comparados aos não-vegetarianos.
“A explicação pode ser o baixo índice glicêmico de grãos integrais e legumes. Esse efeito é potencializado quando a dieta é combinada com a atividade física, implicando inclusive na diminuição do uso de hipoglicemiantes orais para quem já tem diabetes e dos valores de glicemia de jejum”, diz a Dra Caroline.
Ademais, a síndrome metabólica também pode ser reduzida em cerca de duas vezes na prevalência ou no risco mediante a adoção da dieta vegana.
Os rins são protegidos
“E esse tipo de dieta também pode trazer benefícios aos rins. Uma alimentação baseada em verduras, legumes e grãos está associada à diminuição de fatores de risco relacionados à doença renal. Isso acontece porque há um maior aporte de fibras e antioxidantes na dieta. Esses nutrientes ajudam o corpo contra componentes inflamatórios e o estresse oxidativo”, explica a nefrologista.
A médica ainda destaca que a dieta vegana pode ser especificamente interessante para pessoas que já sofrem com a doença renal crônica. Isso porque esses pacientes apresentam mudança na microbiota, implicando em várias alterações na fermentação bacteriana e na geração de proteínas tóxicas.
“Estas proteínas tóxicas se acumulam no plasma dos pacientes, contribuindo para a síndrome urêmica, e como efeito da progressão da doença renal, em mediadores pró-inflamatórios e estresse oxidativo, no risco cardiovascular e na resistência insulínica. Foi demonstrado que a produção desses solutos é influenciada por modificações nos hábitos alimentares, uma vez que dietas veganas ricas em fibras não digeríveis podem reduzir em cerca de 60% a excreção urinária dessas proteínas tóxicas”, explica a médica.
“Sabemos que o estresse oxidativo está relacionado à progressão da lesão renal, das complicações cardiovasculares e das maiores taxas de mortalidade. Assim, os veganos podem ter, a longo prazo, melhor status antioxidante com o maior consumo de frutas e vegetais, que contêm fitoquímicos, poderosos antioxidantes, impedindo a geração de radicais livres”, destaca a Dra. Caroline.
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Poréns
A médica enfatiza, por fim, que esses benefícios também podem ser experimentados por pacientes não-veganos, mas que optam pela redução do consumo de carne e, principalmente, pelo aumento da ingestão de alimentos naturais, especificamente as frutas, verduras e legumes.
“Devemos ressaltar, sempre, que esse tipo de benefício não se aplica àqueles pacientes que mantêm um alto consumo de alimentos ultraprocessados, principalmente os ricos em sódio e aditivos químicos alimentares, que estão relacionados à inflamação. O planejamento de uma dieta vegana requer muitos cuidados e a consulta com um profissional é fundamental”, finaliza a médica.
Fonte: Dra Caroline Reigada, médica nefrologista especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.