Câncer infantil: diagnóstico precoce aumenta chance de cura em até 80%

Saúde
23 de Fevereiro, 2023
Câncer infantil: diagnóstico precoce aumenta chance de cura em até 80%

O câncer infantil é a principal causa de morte em crianças no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Com o diagnóstico precoce, as chances de cura podem chegar até 80%, mas a maioria das famílias descobre a doença em um estágio mais avançado.

Um estudo do Hospital Pequeno Príncipe com pacientes atendidos entre 1998 e 2017 mostrou que 57,6% das crianças deram entrada com câncer em nível já avançado. Apenas 8,8% chegaram com o primeiro estágio da doença, e 33,5%, com o segundo.

Segundo a chefe da Seção de Oncologia Pediátrica do INCA, Sima Ferman, o câncer infantil tem suas particularidades em relação ao do adulto, já que o tipo celular e o comportamento clínico são diferentes. Nos adultos existem fatores de risco conhecidos; já nas crianças as causas, na maioria das vezes, são desconhecidas.

“Precisamos falar sobre o câncer, sem alarmar. Os pais precisam ficar atentos que é uma possibilidade. Médicos devem dar atenção aos sintomas, examinar a criança toda, ouvir as queixas dos pais. Sintomas persistentes merecem atenção”, explica.

Causas e principais tipos de câncer infantojuvenil

Diferentemente do que ocorre em adultos, a doença em crianças e jovens não está tão relacionada a fatores externos. Mas, sim, a alterações no DNA do pequeno antes do seu nascimento ou no começo da vida. Além disso, são raros os casos de câncer familiar ou hereditário.

A médica oncologista pediatra do Hospital da Baleia, Dra. Clara Pereira, explica quais são as diferenças entre o público adulto e infantil: “O câncer infantil não é uma doença prevenível. Diferente do adulto, em que há claramente fatores associados ao desenvolvimento do câncer, como tabagismo, etilismo, sedentarismo e história familiar. Na faixa etária pediátrica não existem evidências científicas que deixem clara a associação entre o câncer e os fatores ambientais”, afirma. 

Confira os tipos mais comuns (em ordem decrescente):

  • Leucemia (que afeta os glóbulos brancos);
  • Câncer no sistema nervoso central;
  • Linfomas (que afetam o sistema linfático).

De acordo com a Dra. Clara Pereira, as leucemias representam de 35% a 40% dos diagnósticos e os tumores de sistema nervoso central representam de 8 a 15% dos casos de câncer infantil. 

Ademais, outras doenças que também acometem as crianças são neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal), câncer ósseotumor de Wilms (tipo de tumor renal) e retinoblastoma.

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Por que é difícil diagnosticar o câncer infantil?

Os sintomas do câncer podem ser confundidos com doenças comuns da infância, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. A oncologista Ana Paula Kuczynski Pedro Bom, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que, pelo fato de as crianças serem muito ativas, os sinais que elas apresentam podem passar despercebidos.

“Um exemplo de sintoma que pode ser confundido é a febre, pois ela é bastante comum nas viroses, mas também muito comum em vários tipos de câncer, assim como queixas de dores. As dores nas pernas, por exemplo, acabam sendo comuns em crianças, já que elas são muito ativas, correm, pulam, e que os pais ou mesmo o médico que atende a criança pode relacionar essa dor a uma queda ou algum trauma”, destaca.

Câncer em criaças X câncer em adultos

As diferenças entre os cânceres infantis e de adultos consistem no tipo do tumor, comportamento clínico da doença e localização. Nas crianças e nos adolescentes, a doença geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Nos adultos, as células epiteliais, que recobrem órgãos, são as mais atingidas.

Enquanto o câncer no adulto apresenta mutações, geralmente, em decorrência de fatores ambientais, como cigarro e exposição ao sol, por exemplo, o câncer pediátrico ainda não possui estudos conclusivos sobre a influência desses aspectos. 

Sinais de alerta para o câncer infantil

Ainda segundo o INCA, os sintomas abaixo podem estar associados ao surgimento do câncer infantil:

  • Palidez, hematomas ou sangramento, dor óssea;
  • Manchas roxas pelo corpo;
  • Caroços ou inchaços, especialmente se indolores e sem febre ou outros sinais de infecção;
  • Perda de peso inexplicada ou febre, tosse persistente ou falta de ar, sudorese noturna;
  • Alterações oculares – pupila branca, estrabismo de início recente, perda visual, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos;
  • Inchaço abdominal 
  • Dores de cabeça, especialmente se incomum, persistente ou grave;
  • Dor em membros ou dor óssea, inchaço sem trauma ou sinais de infecção;
  • Fadiga, letargia ou mudanças no comportamento, como isolamento;
  • Tontura, perda de equilíbrio ou coordenação;
  • Perda de equilíbrio;
  • Vômito persistente.

Diagnóstico

Os cânceres infantis são mais agressivos e se desenvolvem rapidamente, porém as crianças respondem melhor ao tratamento. “Quanto mais precoce for a descoberta do câncer na criança, maiores são as chances de cura. Esse diagnóstico também é extremamente importante em relação ao tratamento, pois aquelas crianças que vêm com um estágio mais avançado serão submetidas a um protocolo muito mais agressivo e com maiores efeitos colaterais”, conclui Ana Paula Kuczynski.

Dessa forma, o tratamento do câncer começa com o diagnóstico correto. Para isso, é necessário um laboratório confiável e o estudo de imagens. Para isso, um exame de imagem orienta o procedimento que deverá ser realizado: algumas vezes é possível abordagem cirúrgica para a ressecção completa do tumor. Quando não é possível, será realizada uma biópsia para chegar ao diagnóstico e início do tratamento quimioterápico.

Tratamento do câncer infantil

Pela complexidade da doença, um centro especializado em câncer deve ser escolhido para realizar o tratamento. Dessa forma, ele é composto por três modalidades principais: quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Assim, o trabalho envolvendo vários especialistas (oncologistas pediatras, cirurgiões pediatras, radioterapeutas, patologistas, radiologistas, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos) também é determinante para o sucesso do tratamento.

Portanto, tão importante quanto o tratamento do câncer em si é a atenção dada aos aspectos sociais da doença, uma vez que a criança deve receber atenção integral, inclusive no seu contexto familiar, visando o bem-estar e qualidade de vida do paciente. Nesse sentido, a criança e os familiares devem ter suporte psicossocial desde o início do tratamento. Por isso, de acordo com o INCA, os “Cuidados Paliativos em Oncologia Pediátrica” são parte integrante do cuidado e devem ser incluídos desde o início do tratamento, pois melhoram a qualidade de vida das crianças em qualquer fase do processo terapêutico.

É possível evitar o câncer infantil?

Por fim, a Dra. Ana Paula Kuczynski reforça que não é possível evitar o aparecimento da doença, mas é importante que as crianças tenham uma rotina saudável, recebam o leite materno até os 2 anos, pratiquem exercícios físicos e façam consultas regulares ao pediatra ou médico de confiança.

A boa notícia é que com o aumento da curabilidade da doença, muitos pacientes com câncer na infância convivem bem com a doença, inclusive na fase adulta. Para que isso ocorra, é importante continuar com o tratamento, para reconhecimento precoce e cuidado apropriado das complicações tardias que possam surgir.

Fonte: Ana Paula Kuczynski Pedro Bom, oncologista do Hospital Pequeno Príncipe e INCA.

Dra. Clara Pereira, médica oncologista pediatra do Hospital da Baleia.

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