“Falta de organização da casa pode desencadear transtornos psicológicos”, diz psicanalista
Desde a infância, a forma de convívio, comportamento e exemplos influenciam diversos cenários da vida. Dessa forma, essas memórias ficam no subconsciente e podem deixar marcas, impactando o bem-estar infantil. Até mesmo a higiene e limpeza do ambiente em que a criança vive colabora para possíveis problemas físicos e mentais. Você já parou para pensar como a falta de organização da casa afeta as crianças?
Eventualmente, bate uma preguiça e você deixa de arrumar a casa? Esse hábito constante é prejudicial para os pequenos. Segundo a psicanalista e psicopedagoga Andrea Ladislau, a criança passa a se espelhar no ambiente. Sendo assim, se acostuma com lugares desorganizados.
Leia também: Desenvolvimento da fala do bebê: o que esperar de cada mês
A bagunça pode causar transtornos psicológicos
De acordo com a psicanalista e psicopedagoga Andrea Ladislau, a falta de organização no lar pode, sim, desencadear transtornos psicológicos e problemas a curto e longo prazo, além de atrasar o desenvolvimento da criança.
“Podemos citar transtornos como a assiduidade generalizada, o pânico, acumulação (ou síndrome de Noé), e até mesmo o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Lembrando também do estresse, depressão, insônia e desregulação de apetite. Além de atrasos da fala, do sistema motor e cognitivo”, explica Ladislau.
Erivânia Teixeira, psicóloga do Grupo Reinserir Psicologia, afirma ainda que em um ambiente com pouca higiene, a criança pode desenvolver ansiedade generalizada, algum modelo de fobia específica (por bichos ou outras situações) e também o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), com a mania de limpeza.
Leia também: Estudo revela principais sintomas da Covid longa em crianças
Bem-estar infantil: a bagunça reflete os sentimentos
O comprometimento do senso de disciplina, sinais de falta de foco e fragilidade na construção da autonomia também são afetados. Tanto Ladislau quanto Teixeira afirmam que o ambiente bagunçado reflete a vida e os sentimentos. Então, se as coisas estão fora de ordem, isso também sinaliza desordem emocional.
“Essa dinâmica afeta diretamente o agir, o pensar e até o ato de se comunicar de um ser em desenvolvimento, como uma criança. O nosso ambiente externo pode refletir o nosso ambiente interno ou o nosso inconsciente. E se do lado de fora, as coisas não são organizadas, claras e arejadas, certamente, o inconsciente ou o emocional deste indivíduo, seja criança ou adulto, também não será”, diz Ladislau.
A desorganização pode ocasionar problemas físicos?
Um ambiente mal higienizado sempre é um risco para a saúde de quem convive no local. Segundo Luciana Gualberto Rocha Caldeira, pediatra do Hospital Universitário Clemente Farias e parceira da Iron Saúde Digital, essa desorganização afeta também a saúde física.
Para garantir o bem-estar infantil, as crianças precisam de lugares seguros, onde suas integridades físicas estejam garantidas. “Se a criança for menor, alguns fatores podem ser de grande risco. Por exemplo: tomadas sem os dispositivos de segurança, produtos de limpeza tóxicos, remédios, sacos plásticos e materiais cortantes que estejam em locais com alcance das crianças”, afirma Caldeira.
A pediatra ainda ressalta que esses objetos causam desestabilização no mundo infantil. A bagunça na hora da brincadeira é normal, contudo, é preciso lembrar de guardar os brinquedos depois do passatempo. “Cuidados com objetos cortantes, pontiagudos, tapetes, fios expostos e quinas de mesas precisam de atenção”, completa.
Além disso, uma casa desorganizada e mal limpa se torna o ambiente propício para o acúmulo de sujeira, fungos, bactérias e ninhos de animais. Dessa forma, pode desencadear problemas de pele, infecções e doenças mais graves.
Bem-estar infantil: falta de organização afeta os relacionamentos
Por fim, toda a bagunça reflete também nos futuros relacionamentos dessa criança. A psicanalista Andrea Ladislau afirma que se o indivíduo convive no ambiente bagunçado, ele apresenta aspectos de insegurança, falta de pertencimento, dispersão, falta de foco e de rotina. Além disso, também tem sentimentos confusos, mal compreendidos e difícil interpretação pessoal.
“Sem dúvida, seus relacionamentos não serão leves, saudáveis ou transparentes. Seus relacionamentos, sejam de amizade, íntimos, sociais, de trabalho, ou qualquer outro tipo, podem ser frágeis por conta de uma possível personalidade inconstante gerada pelo ambiente de convívio desorganizado”, afirma a psicanalista.
Por fim, Erivânia Teixeira, psicóloga do Grupo Reinserir Psicologia, conta que há dois cenários para essas relações:
- Onde o indivíduo vai sempre manter relações conflituosas, onde a “bagunça” prevalecerá. Onde não existe cuidado com esta relação;
- Onde haverá necessidade incessante de manutenção das relações. Assim, para que fiquem sempre em ordem e equilibradas.
“Porém, isso será feito de forma excessiva e até desnecessária. Essa criança também levará essas influências para a relação consigo mesmo, na maneira em que cuidará de si, se dará prioridade ou não, na forma que verá e levará em consideração seus sentimentos, pensamentos e atitudes”, completa.
Fonte: Andrea Ladislau, psicanalista e psicopedagoga; Erivânia Teixeira, psicóloga do Grupo Reinserir; Luciana Gualberto Rocha Caldeira, pediatra do Hospital Universitário Clemente Farias e parceira da Iron Saúde Digital (CRM-MG 33447).