O mês de agosto é marcado por ser o Agosto Dourado: período de conscientização sobre o aleitamento materno. Sem dúvida, a amamentação é muito importante para o desenvolvimento do bebê e para a recuperação da mamãe no período pós-parto.
Por isso, confira tudo o que você precisa saber sobre o assunto:
O leite materno é considerado o melhor alimento do mundo. E por bons motivos. “É o único completo, capaz de sustentar o bebê até os seis meses de vida sem precisar de nenhum outro suplemento — nem de água”, explica a médica Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista.
Os estudos científicos concordam. Recentemente, uma pesquisa divulgada no periódico The Lancet mostrou que a amamentação está associada a uma redução de 13% na probabilidade de sobrepeso e/ou obesidade em crianças, e também a uma queda de 35% na incidência do diabetes tipo 2. A mesma análise comprovou que o leite materno contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência (QI) dos pequenos.
Além disso, por ser repleto de anticorpos fundamentais para a saúde e para a resistência do bebê, o alimento ajuda na composição de uma microbiota intestinal equilibrada, que protegerá a criança de possíveis doenças na vida adulta, incluindo a asma. Foi o que mostrou um outro artigo, desta vez da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá).
Mas não para por aí. “Não devemos nos esquecer do vínculo emocional entre mãe e filho criado com a amamentação. Durante as mamadas, o organismo da mulher produz ocitocina, o famoso ‘hormônio do amor’. Desse modo, ela sente cada vez mais afeto pelo pequeno”, diz a médica. Ela cita, ainda, que amamentar emagrece por gastar muitas calorias, o que contribui para a perda de peso no pós-parto.
Leia também: Microbiota intestinal e asma: entenda a relação
Por mais que seja muito indicado por especialistas, o aleitamento materno nem sempre é natural e fácil. Contudo, além de uma boa rede de apoio, as mamães precisam saber de algumas dicas que as ajudarão (e muito) na hora de amamentar. Confira:
Não, não existe posição certa para amamentar. “A mulher tem que perceber em qual delas o bebê faz a pega correta, em qual ela se sente mais confortável e qual é a menos dolorosa”, recomenda Mariana Rosario.
Há quem goste de ficar deitada de lado na cama, sentada com o pequeno no colo, em pé e até no sling (acessório que prende a criança à mãe). Você provavelmente terá que testar algumas até encontrar a ideal.
Também não há um número exato de mamadas que um recém-nascido dá por dia. “Depende do regime escolhido. Algumas mulheres optam pela livre demanda, ou seja, alimentam a criança toda vez que ela chora de fome. Já outras preferem horários marcados (geralmente de duas em duas ou três em três horas).”
Teoricamente, todas as mulheres produzem leite desde a gestação. Após a saída da placenta, existe a fabricação do colostro, que dura de três a cinco dias e é um alimento fundamental para o bebê porque traz anticorpos imprescindíveis para a proteção de seu organismo.
Depois desse período, começa uma fase que é popularmente chamada de “descida do leite”: as mamas ficam bem cheias e é possível o surgimento de um pequeno desconforto — em alguns casos, até febre. “Não é um momento para estresse, porque apenas com calma e paciência é que a mãe conseguirá amamentar. O estresse, inclusive, pode prejudicar a produção do leite”, diz a mastologista.
Leia também: Como lidar com a ansiedade e o estresse na amamentação
Mito! “Há duas situações que levam a esse entendimento errado. A primeira é que a produção do leite materno pode ser menor em alguns casos – e, então, a mãe passa a acreditar que seu leite é pouco ou fraco. A segunda é que o bebê pode não conseguir mamar adequadamente e, por isso, vai chorar de fome com mais frequência”, explica Mariana Rosario.
Vale lembrar, também, que os estímulos hormonais que acontecem durante e após a gestação provocam um crescimento das glândulas mamárias, mas a percepção disso varia muito de mulher para mulher. “Mamas grandes ou pequenas não têm relação com a produção de leite. Uma mama maior não produz mais leite que uma menor”, ressalta a enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, consultora em amamentação.
De acordo com ela, o melhor a fazer é acreditar no próprio corpo. “Ao longo da gravidez, o organismo se encarrega de deixar a mama pronta para a amamentação. Então, relaxe e não recorra às dicas mirabolantes que você vê por aí”, alerta. Contudo, caso sinta que precisa de ajuda, busque orientação profissional.
Você já deve ter ouvido falar que é necessário preparar os mamilos para a amamentação. Mas não precisa! Atualmente, especialistas afirmam que o próprio corpo se encarrega de deixá-los prontos para o aleitamento materno. Aliás, isso pode até prejudicar o processo.
“A aréola tende a crescer naturalmente, e há o aparecimento de uma aréola secundária, como se fosse uma ‘sombra’ ao redor da principal. Ela escurece logo após o parto e serve para o bebê ‘encontrar’ onde deve abocanhar”, diz Cinthia.
Por isso, evite passar buchas e/ou usar conchas na região. “Antigamente, a concha era indicada na gestação para ajudar a formar o bico, principalmente das mulheres que tinham o mamilo plano ou invertido. Mas, com o tempo, descobriu-se que o acessório não ajuda em nada. E pior: como é muito rígido, pode pressionar demais os ductos mamários, prejudicando a produção de leite” complementa Mariana Rosario.
O que você pode fazer, por exemplo, é tomar sol no peito pela manhã (até às 10h) por alguns minutos. Dessa forma, a pele fica mais forte. Ademais, você pode estimular os mamilos com as mãos, fazendo movimentos leves. Mas jamais deve usar pomadas emolientes antes do parto.
Muitas mães ainda têm medo das mudanças estéticas que a amamentação pode causar nas mamas. “Existe o mito de que a sucção da criança deixa as mamas flácidas e caídas. Esse é um erro de interpretação: as mulheres que já têm as mamas flácidas realmente terão o problema acentuado. Porém, as que não têm, não sofrerão com isso”, explica a médica.
Dependendo da pega do bebê, o aleitamento materno pode causar rachaduras. Por isso, é fundamental seguir as orientações da equipe de enfermagem e do obstetra, que têm muita experiência. Também existem pomadas específicas para o tratamento, que devem ser usadas apenas após o nascimento do bebê. E indicadas por um especialista.
Leia também: Como emagrecer amamentando? Dicas para fazer isso com segurança
Não existe nenhuma evidência científica de que o coronavírus seja transmitido pelo leite materno. Portanto, mães que não estão infectadas com o coronavírus podem amamentar tranquilamente, sem restrições. E devem manter-se em casa, já que estão com a imunidade mais baixa.
Por outro lado, as mulheres infectadas com o coronavírus, com ou sem sintomas, devem isolar-se do bebê, deixando-o aos cuidados de outras pessoas. Elas podem fazer a ordenha (retirada do leite) para que ele seja servido à criança em mamadeiras.
Tudo o que você come vai ser passado para o bebê. Por isso,é muito importante manter uma alimentação equilibrada e com intervalos regulares (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite, por exemplo).
De acordo com a nutricionista Dayse Paravidino, o cardápio deve ser pensado desde a gestação. “É necessário o consumo diário de frutas e legumes. Assim como de alimentos ricos em sementes e cereais integrais. As proteínas e as gorduras boas também devem estar presentes nesse período.”
Além disso, a água é essencial: ela reflete na quantidade e na qualidade do leite materno. Portanto, beba sempre antes e depois das mamadas.
A mãe deve evitar certos ingredientes para prevenir possíveis cólicas na criança. Dayse explica que esses incômodos costumam aparecer após a terceira semana de vida, geralmente começam depois das 17h e podem se prolongar por até três horas. “Na maioria dos casos, a cólica costuma relacionar-se à imaturidade intestinal da criança. Por isso, a qualidade da alimentação materna é importante para garantir um leite mais saudável”. Então, confira o que evitar:
Leia também: Grávidas podem tomar café? Veja se há uma quantidade segura
Algumas pessoas acreditam que ingerir leite e vaca ou comer canjica aumentam a produção de leite. “Isso não tem comprovação científica. A mulher precisa alimentar-se bem, preferencialmente com a orientação de um nutricionista, para que seu organismo consiga produzir o leite.”, diz a ginecologista.
A seguir, Dayse Paravidino dá uma sugestão de cardápio para quem está amamentando:
Pão caseiro com queijo cottage, suco de laranja com couve e raspas de limão;
Abacate com amêndoas e suco;
Filé de peixe, purê de batata baroa, salada verde com rúcula e agrião (temperada com azeite e limão), e grão-de-bico refogado. Sobremesa: melão;
Torta de liquidificador recheada com legumes e frango e suco de abacaxi;
Filé de frango grelhado, quinoa cozida, suflê de legumes e mix de folhas verdes;
Vitamina vegetal enriquecida com cálcio, mamão e farelo de aveia.
Leia também: Chá para cólica do bebê: Conheça as melhores opções
Fontes: Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP); Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra da UNIFESP e Consultora em Amamentação; E Dayse Paravidino, nutricionista.