Medo de engordar: o que ninguém fala depois do emagrecimento

Bem-estar Equilíbrio
22 de Julho, 2022
Medo de engordar: o que ninguém fala depois do emagrecimento

“Quando a gente vive em uma sociedade gordofóbica, o medo de engordar novamente e ser rejeitado, menos valorizado e até depreciado acaba se tornando maior”, é o que diz a psicóloga especialista em transtornos alimentares pela Universidade de São Paulo (USP) Milena Bahia.

Perder peso é um dos grandes objetivos dos brasileiros em 2022. De acordo com a Pesquisa Global de Sentimento do Consumidor, feita pela empresa WW, 40% deles pretendem emagrecer. Para além da saúde, a estética da magreza é vista como referência do que é bonito e aceitável. A luta contra a balança é desafiadora e vai muito além de alimentar-se bem e realizar atividades físicas. Afinal, mesmo aqueles que conseguem perder peso têm de enfrentar um outro adversário, que sabe como ser ardiloso: a própria mente.

O desejo de emagrecer surge por uma série de fatores. A pesquisa da WW descobriu que as duas principais razões são minimizar os riscos de outros problemas de saúde e melhorar autoestima e confiança. Entretanto, o processo exige diversas mudanças no estilo de vida e na relação com a comida.

A nutricionista e terapeuta nutricional Lais Baltieri Momesso explica que o principal motivo pelo qual as pessoas tendem a sentir muito medo de engordar depois de emagrecer é a dificuldade em estabelecer relações saudáveis com a alimentação e com o próprio corpo.

Comportamentos compensatórios punitivos

Os comportamentos compensatórios punitivos são mais vistos em quem sofre com essa pressão. Quando o receio de ganhar peso novamente toma proporções excessivas, consequentemente as atitudes daquele indivíduo passam a refletir esse medo e se tornam disfuncionais. 

“Restrições alimentares que levam a exageros ou compulsão, não respeitar a fome e comer menos do que o corpo necessita. Além disso, sentir culpa ao comer, o que faz com que a pessoa coma rápido e exagere nas quantidades, são alguns dos comportamentos mais vistos”, relata Lais.

Milena destaca, ainda, a importância de perceber a frequência e a intensidade desses comportamentos. Além disso, é necessário ficar atento à influência deles em outras áreas da vida. “É preciso perceber se está atrapalhando a socialização e apresentando outros impactos na qualidade de vida de forma geral”, diz.

Por fim, pensar em comida o tempo todo, não conseguir se alimentar sem medo, ter descontroles alimentares frequentes e buscar estratégias para sentir menos fome são outros sinais pontuados pela nutricionista que alertam para a necessidade de buscar ajuda.

Medo de engordar: muito além do peso

Os comportamentos causados pelo medo de engordar podem acarretar diversas consequências que vão além de números a mais na balança. A saúde mental é um dos aspectos mais afetados por essa condição, que alimenta, principalmente, o estresse e a ansiedade

Questões nutricionais também podem ser lesadas. “A saúde sai prejudicada. Isso porque não são consumidos nutrientes em quantidades necessárias para o bom funcionamento do organismo. Além disso, há perda de qualidade de vida por não se permitir sentir prazer, frequentes episódios de exagero alimentar e alteração no funcionamento do metabolismo”, completa Lais.

Ademais, é comum perceber o efeito sanfona, isto é, quando uma pessoa perde peso, mas o recupera rapidamente. Geralmente, essa situação acontece quando há adoção de dietas restritivas. Estudos já comprovaram que cerca de 95% das pessoas que fazem esse tipo de dieta voltam a engordar e, em alguns casos, ganham quilos extras. Normalmente, tais indivíduos mudam o estilo de vida por um período, mas a relação com a comida e com o corpo segue desequilibrada. Por fim, é questão de tempo para voltar aos hábitos não saudáveis.

Leia também: Efeito sanfona pode aumentar riscos de doenças cardíacas e diabetes

Refém do medo de engordar. É possível se livrar?

Quem convive com o constante medo de engordar pode ter dificuldade de enxergar um cenário no qual essa situação não tem mais controle sobre os próprios comportamentos. Tentar lutar sozinho, entretanto, pode não ser uma boa ideia. Procurar ajuda de profissionais especializados é um grande divisor de águas rumo a relações saudáveis com a comida e com o corpo.

Fazer as pazes com o espelho é extremamente importante, principalmente na prevenção de possíveis transtornos alimentares. O medo de engordar por si só não é considerado um transtorno, mas ele pode ser um alerta para uma outra condição. “Os transtornos alimentares são diagnosticados através de um conjunto de sinais e sintomas, e o medo de engordar pode ser um deles, porém, isso deve ser avaliado individualmente”, pontua Lais.

Além disso, Milena destaca que um dos critérios da anorexia, distúrbio alimentar no qual a pessoa passa a ter uma visão distorcida do próprio corpo e adota comportamentos extremos para emagrecer cada vez mais, é o medo de engordar.

Um novo olhar

Com o auxílio de um nutricionista especializado e o acompanhamento psicológico, é possível identificar a estrutura desse medo e buscar estratégias para lidar com a condição. Lais também pontua a necessidade de começar a ouvir e respeitar os sinais do próprio corpo, além de compreender que um alimento isolado não é capaz de engordar ou emagrecer. 

“É preciso começar a olhar o seu corpo com mais respeito, escolher se cuidar e não se punir, se alimentando com a intenção de proporcionar saúde e bem-estar, nutrindo seu amor próprio. Assim, o emagrecimento será uma consequência disso tudo, de uma forma muito mais leve e sustentável a longo prazo”, finaliza a nutricionista.

Fonte: Milena Bahia, psicóloga especialista em Transtornos Alimentares pela USP (Universidade de São Paulo) CRP 03/21017; e Lais Baltieri Momesso, nutricionista e terapeuta nutricional CRN CRN3-39094

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