Dieta epigenética: alimentação dos pais pode neutralizar os “genes ruins” dos filhos?

Alimentação Bem-estar Saúde
16 de Março, 2022
Dieta epigenética: alimentação dos pais pode neutralizar os “genes ruins” dos filhos?

A genética é uma área da biologia que estuda os mecanismos de hereditariedade dos seres vivos. Isto é, a transmissão de certas características ao longo de gerações e como elas podem (ou não) se manifestar. E apesar de a ciência já ter avançado bastante na discussão e nas descobertas sobre o tema, ainda há muito a ser pesquisado e entendido. É por isso que, vez ou outra, aparecem declarações confusas acerca do tema, como é o caso da ideia da dieta epigenética.

A história veio à tona depois que a influenciadora digital e coach de emagrecimento (como ela mesma se intitula), Maíra Cardi, concedeu uma entrevista a um programa de televisão nacional. Na conversa, Maíra afirma que ela e o marido (Arthur Aguiar) seguiram uma alimentação específica antes de engravidar a fim de realizar uma “modulação epigenética”.

“Eu fiz modulação epigenética antes de engravidar da Sophia. Como nem todo mundo sabe o que é, deixa eu fazer uma explicação breve. É quando você e seu marido mudam a alimentação antes da gravidez para zerar a genética de doenças. Câncer, diabetes, qualquer doença genética vem zerada. Aí o seu filho nasce sem nenhum gene ruim de doenças”, afirmou, dizendo ainda que eles precisaram manter essa dieta por apenas seis meses antes de gerarem a filha.

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A fala logo viralizou, e especialistas apontaram uma série de questões sobre ela. Entenda melhor:

O que é a epigenética?

De acordo com biomédica Larissa Pena, que faz parte do time de Pesquisa e Desenvolvimento da Genera, laboratório especializado em genoma humano, a palavra epigenética significa “acima da genética”. “Consiste em mecanismos de ativação e desativação de nossos genes que são influenciados por fatores ambientais e estilo de vida.”

Ou seja, as alterações epigenéticas não são capazes de modificar o nosso DNA, mas, sim, de “ligar” e “desligar” os nossos genes — e, desse modo, desencadear (ou não) algumas características relacionadas a eles. “Estudos científicos identificaram fatores (dieta, obesidade, atividade física, tabagismo, consumo de álcool, poluentes ambientais e estresse psicológico, por exemplo) como modificadores dos padrões epigenéticos”, afirma a especialista.

No que diz respeito à alimentação, as pesquisas também apontam que o cardápio dos pais pode influenciar a saúde dos seus filhos — e até dos netos. O problema? É que ainda não se sabe exatamente como isso acontece, e os exames atuais não conseguem mostrar quais genes estão “ligados” ou “desligados”.

Além disso, “adotar dietas específicas não faz com que uma alteração na sequência do seu DNA deixe de existir ou seja passada adiante”, finaliza a biomédica. E vale ressaltar: os genes não são “bons” ou “ruins”, todos eles exercem papéis fundamentais para o corpo.

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Papel do estilo de vida

Alterações genéticas podem ser determinantes para o desenvolvimento de diversas condições, como é o caso do Albinismo e da Síndrome de Down. “Contudo, para a maioria das condições, além de alterações genéticas associadas a uma maior predisposição, temos fatores ambientais que as influenciam, o que nos impossibilita afirmar se uma criança desenvolverá determinada doença”, explica Larissa Pena.

Por exemplo, mesmo que você tenha uma maior predisposição para desenvolver obesidade, você pode reduzir a chance adotando hábitos de vida mais saudáveis, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física durante a vida.

Cada vez mais gente anda recorrendo ao mapeamento genético para entender se há alguma tendência a ter enfermidades. “Ele pode apontar uma predisposição para determinada doença e, através do aconselhamento genético com profissionais especializados, é possível saber o quanto a pessoa deve retomar a atenção para a prevenção daquela potencial patologia”, diz a biomédica.

O caso mais famoso talvez seja o de Angelina Jolie, que retirou as mamas e os ovários após descobrir uma propensão ao câncer nesses locais. Contudo, é sempre bom lembrar: “o mapeamento genético não possui caráter diagnóstico […]. Há outros fatores, além dos genéticos, que influenciam o surgimento de doenças.”, diz a profissional.

Ou seja, mesmo com a predisposição, não necessariamente a atriz americana teria a doença no futuro.

Por isso, é muito importante ter o acompanhamento de um médico especializado nesse caso. Somente ele poderá avaliar a real necessidade de um teste genético, e, posteriormente, de um tratamento para prevenir a condição em questão.

Fonte: Larissa Pena, biomédica e integrante do time de Pesquisa e Desenvolvimento da Genera, laboratório especializado em genoma humano.

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