Diabetes gestacional: sintomas, tratamentos e riscos
De acordo o Ministério da Saúde, o Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo. Ou seja, existem 16,8 milhões de pessoas dos 20 aos 79 anos com a condição. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5 milhões. Os dados correspondem ao ano de 2022 e estão no Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF). Nesse quadro, o diabetes gestacional também preocupa.
A complicação atinge de 2% a 15% das grávidas. Embora existam alguns fatores que favoreçam a situação, ele pode ocorrer com qualquer mulher.
Veja também: Dieta mediterrânea na gravidez: benefícios e como seguir
O que é diabetes gestacional?
Basicamente, o diabetes gestacional resulta no mesmo mecanismo do diabetes tipo 2. Então, a condição provoca o aumento nos níveis de glicose (carboidrato utilizado como fonte de energia) no sangue da gestante.
Contudo, o quadro ocorre porque, na gestação, o organismo materno sofre algumas alterações hormonais para ajudar no desenvolvimento do bebê.
Assim, boa parte da glicose presente na corrente sanguínea da mulher precisa ir para o feto. E quanto mais ele cresce, maior é a sua necessidade (principalmente a partir do segundo trimestre). Como resultado, isso faz com que a mãe tenha um maior risco de hipoglicemia (glicose sanguínea baixa) em jejum ou durante o sono.
A questão é que o efeito dessas substâncias é tão forte que, ao final da gravidez, o pâncreas precisa fabricar mais insulina em até 50% a fim de dar conta de equilibrar a quantidade de glicose no sangue da mãe. Contudo, em alguns casos, o órgão não consegue atingir o objetivo, e eis que ocorre o diabetes gestacional.
Fatores de risco e causas
A princípio, algumas características que elevam o risco da complicação. Por exemplo:
- História familiar de diabetes mellitus.
- Apresentar alterações na glicemia em algum momento antes de engravidar.
- Excesso de peso antes ou durante a gravidez.
- Gravidez prévia com nascimento de bebê com mais de 4 kg.
- Hstórico de aborto espontâneo sem causa esclarecida
- Hipertensão arterial.
- Pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.
- Síndrome dos ovários policísticos.
- Idade materna mais avançada.
- Por fim, uso crônico de corticoides.
Sintomas
Na maioria dos casos, a gestante não apresenta sintomas, o que pode ser perigoso. Quando se manifestam, costumam ser sintomas inespecíficos, que podem confundir com desconfortos típicos da gravidez. São eles:
- Aumento da sede e da fome.
- Idas frequentes ao banheiro e dificuldade para segurar a micção.
- Visão turva e cansaço.
Diabetes gestacional: diagnóstico
Existem inúmeras formas de diagnosticar a condição. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), por exemplo, recomenda que todas as grávidas façam exames regulares de glicemia a partir da primeira consulta pré-natal.
Valores de referência
- 85 mg/dl ou menos: valor ideal. Nenhuma outra investigação é feita, principalmente se a mulher não apresentar fatores de risco;
- De 86 a 126 mg/dl: grupo de risco para o diabetes;
- Maiores que 127 mg/dl: indicativo de diabetes. O exame provavelmente será repetido duas vezes para a confirmação, mas a mãe precisará iniciar o tratamento adequado.
Em adição aos exames tradicionais, as mulheres geralmente fazem um teste de tolerância oral à glicose (ou curva glicêmica) entre a 24ª e a 28ª semana. Nele, são coletadas amostras de sangue em três momentos diferentes: em jejum; depois de uma hora do consumo de um xarope de glicose; e, por fim, depois de duas horas da ingestão do carboidrato. Os números ideais são:
- Glicemia jejum: normal até 92 mg/dl;
- Logo após 1 hora: normal até 180 mg/dl;
- Glicemia após 2 horas: normal até 153 mg/dl.
Desse modo, se a mulher tiver duas dessas três referências alteradas, ela possui, sim, diabetes gestacional.
Tratamentos disponíveis
Grávidas com diabetes gestacional precisam de um acompanhamento adequado e frequente. Além disso, mudanças no estilo de vida são fundamentais para uma gestação tranquila e sem complicações.
Atividade física
O movimento é essencial em qualquer fase da vida, e na gestação não poderia ser diferentes. Além do efeito terapêutico, o exercício pode melhorar a postura, aliviar dores da gestação e trazer mais autoestima para a mulher. Contudo, para quem tem diabetes gestacional, a atividade frequente pode ajudar a controlar os níveis de glicose no sangue.
Mas, antes de sair se exercitando por aí, o aval médico é fundamental. Algumas atividades são contraindicadas nos primeiros meses de gravidez. Portanto, mantenha o diálogo com seu obstetra.
O que comer com diabetes gestacional
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, ao longo do dia, deve -se priorizar o consumo de:
- Verduras e legumes à vontade (alface, couve, abobrinha, etc);
- 1 porção de feijões ou oleaginosas (feijão, soja, lentilha, amendoim, castanha, etc);
- 2 porções de carne ou ovos;
- 1 porção de óleos ou gorduras (manteiga, margarina, azeite, óleo, etc);
- 3 porções de legumes de raiz (abóbora, cenoura, chuchu, quiabo, vagem, etc);
- 3 porções de frutas (maçã, banana, abacaxi, laranja, etc);
- 3 porções de leite ou derivados (queijo, iogurte, coalhada, etc);
- 5 porções de carboidratos (macarrão, arroz, angu, batata, mandioca, farofa, pães, bolos, biscoitos, etc).
Para saber mais sobre alimentação voltada para diabetes gestacional, clique aqui.
Uso de insulina na gravidez
Em casos nos quais a glicemia não normaliza mesmo com a adoção de hábitos saudáveis, são utilizados insulina e/ou medicamentos via oral para o controle da glicose. Entretanto, tudo deve ser feito com prescrição e orientação profissionais.
Perguntas frequentes sobre diabetes gestacional
Quais são as complicações se não houver tratamento?
Ter concentrações muito altas de açúcar no sangue pode significar problemas na saúde da mulher e do bebê. Afinal, a criança pode crescer excessivamente (macrossomia fetal) ter obesidade ou desenvolver diabetes na vida adulta.
Além disso, o feto sofre risco maior de morte, de problemas cardíacos, de doenças respiratórias, de problemas na visão (retinopatias) e de icterícia (pele e/ou olhos amarelados). Sem contar que o parto costuma ser mais traumático e requer mais cuidados.
Quais são os cuidados durante o parto?
O tipo de parto depende muito do estado de saúde da mãe e do bebê. Dessa forma, o acompanhamento pré-natal é necessário para manter ambos saudáveis e com a condição sob controle.
Em um cenário cuja gestante está com os exames normais e seguindo o tratamento correto, o parto normal é a primeira opção. Porém, em casos mais delicados, como hipertensão grave, doenças renais ou problemas de saúde no bebê, a cesárea torna-se o meio mais seguro.
Mas, vale reforçar que a futura mãe precisa realizar diversos exames a fim de se chegar à melhor decisão. Além disso, durante o parto, os médicos costumam manejar o uso de insulina em doses baixas, a fim de garantir o equilíbrio da glicose no organismo.
Diabetes gestacional é considerado gravidez de risco?
Sim, a enfermidade pode ser um risco para a gestação, já que pode comprometer o desenvolvimento saudável do embrião e do feto, que pode ir a óbito. Além disso, a mãe corre o risco de ter complicações no parto e alto risco de infecções, que podem ser mortais.
Então, é válido reiterar que o controle da condição faz toda a diferença para evitar esses perigos.
Bebê com diabetes gestacional nasce com quantas semanas?
Depende. Há dois cenários: mães com a glicemia sob controle e com bebê pesando menos de 4 kg, o parto pode aguardar a 38ª semana, inclusive de forma natural. Porém, para isso acontecer, é preciso ter o aval médico.
Por outro lado, se o feto tiver mais de 4 kg e a gestante apresentar altos níveis de glicemia, o nascimento pode ser induzido antes das 38 semanas.
Converse com seu médico sobre as possibilidades e, acima de tudo, tire sempre todas as dúvidas.
Tratamento do diabetes gestacional depois do nascimento do bebê
A mãe precisa manter a continuidade com os cuidados. O motivo é que o corpo passa novamente por inúmeras transformações hormonais, sobretudo por conta da amamentação.
Nas primeiras 6 semanas pós-parto, é importantíssimo alinhar os níveis glicêmicos. Para tal, a mulher precisa fazer os testes antes de comer e ao se deitar. Quanto à amamentação, não há restrições, desde que a mãe siga as orientações médicas adequadamente.
Outra medida é realizar o teste oral de tolerância à glicose de 2 horas com 75 g de glicose, entre 6 a 12 semanas após o parto. Nesse sentido, o exame ajuda a avaliar se o quadro de diabetes gestacional se resolveu, ou se ainda precisa de tratamento de controle.
Referências: Febrasgo; MSD Manuals; Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD); CDC; e Mayo Clinic.