Quando o estresse vira compulsão alimentar

Bem-estar Equilíbrio
16 de Julho, 2019
Quando o estresse vira compulsão alimentar

Sentir vontade de comer e beliscar fora das refeições, exagerar no prato aqui ou ali, atacar uma caixa de bombons ou um pote de sorvete… São todos atos presentes vez ou outra na vida da maioria das pessoas. Mas, e quando a prática ultrapassa os limites, está relacionada ao estresse e se torna compulsão alimentar? Aí, ela não é considerada nada saudável.

A compulsão alimentar é o aumento da ingestão de alimentos, podendo ser algo gradual e acontecer em alguns episódios ou até mesmo se tornar algo diário. É o exagero do “comer sem fome”. 

Relações entre estresse e compulsão alimentar

O estresse é um dos motivos mais comuns que leva à compulsão alimentar, e ela acontece porque o indivíduo vê nos alimentos uma maneira de minimizar alguma sensação indesejada. “Comer gera prazer momentaneamente, ainda mais quando essa comida se trata de alimentos industrializados. O ato de comer algo que a pessoa gosta dá a sensação de alívio naquele momento específico, além de ser uma forma de recompensar ela mesma por estar passando por um estresse”, complementa a nutricionista Ana Caroline Oliveira. 

Leia também: Compulsão alimentar: Como identificar e controlar esse distúrbio

Para a nutricionista Isabelle Zanoni, de São Paulo, o estresse é o acúmulo de sentimentos e situações de irritabilidade e angústias e pode estar relacionado ao afeto. “A compulsão também pode estar relacionada aos afetos, aos sentimentos, as angústias, ao sentimento de vazio ou então de exagero. Sendo assim, é muito provável o estresse levar a um episódio de compulsão, o acúmulo da falta pode levar a uma necessidade de preenchimento (comida), ou o excesso de algo pode levar ao desespero e o escape pode vir a se tornar também a comida”,  explica. 

Sintomas de compulsão alimentar

Um dos principais sintomas é o exagero, comer muito sem que haja fome. “Alimentar-se rapidamente, continuar comendo mesmo depois de se sentir saciado ou continuar comendo independente de sentir desconfortos estomacais também são características apresentadas por quem tem esse transtorno”, conta Isabelle.

Fome x vontade de comer

A fome fisiológica é a real necessidade do organismo de se nutrir, uma sensação através da qual o corpo percebe que precisa de alimento para manter as atividades inerentes à vida. Ela é um recado do cérebro informando que é preciso comer, que seu corpo necessita de “combustível” para continuar funcionando, e qualquer alimento nessa hora será bem-vindo.

Já a vontade de comer é algo específico, você sabe exatamente o que quer. Está ligada ao prazer, ao alívio de algum desconforto emocional, a sentir o gosto, degustar um determinado alimento.

Apesar de distintas, nem sempre é tão fácil diferenciá-las. “Requer autoconhecimento”, entrega a nutricionista. “Ao sentir fome, procure perceber como você fica quando está faminta, e ao comer sem fome, perceber como o corpo reage. Claro que algumas vezes comemos sem fome e está tudo bem. A preocupação maior está na repetição desse hábito e no exagero da comida. Conseguir diferenciar esses momentos é essencial. Além disso, entender que é normal comer mais do que o comum algumas vezes também é importante. A comida está presente em nossas cerimônias culturais e tem muita relação com nossas emoções e com os nossos afetos, então nem sempre comemos com fome ou para nos nutrir”, esclarece. 

Tratamento para compulsão alimentar

Em relação à prevenção, é preciso evitar gatilhos que possam causar essa compulsão, no caso, o estresse.  Iniciar tratamento com profissionais da área da saúde e da saúde mental também é muito importante. 

O psicólogo irá proporcionar reflexões acerca dos sintomas, podendo chegar aos motivos dos episódios ou das questões emocionais que levam a determinada postura. Isso porque na terapia, a pessoa compreende o que está por trás da sua relação com a comida e aprende novas formas de lidar com as questões emocionais e perceber a presença da comida nelas também.

Além do psicólogo, outros especialistas também são necessários em casos de episódios compulsivos. Para algumas pessoas, por exemplo, será necessário o uso de medicamentos. Os remédios ajudam a amenizar os sintomas do estresse e da ansiedade, enquanto as raízes da compulsão alimentar podem estar sendo trabalhadas na terapia. 

O nutricionista também é essencial para quem enfrenta compulsão alimentar. “É muito importante que, nesse processo, a pessoa receba informações sobre os alimentos, sobre seu organismo e sobre sua saúde. Ademais, conhecer os alimentos que te fazem mal é um processo de respeito e cuidado com seu caminho para uma vida saudável”, diz Isabelle. 

“Alimentos ricos em fibras e água como frutas, verduras e legumes estão associados à saciedade e ajudam a diminuir a vontade descontrolada de comer. Além disso, alimentos com baixa taxa glicêmica estimulam menos a insulina e auxiliam muito a reduzir a compulsão alimentar. Lanches intermediários também são úteis para não ocorrer picos de insulina”, diz sugere a nutróloga Dra. Mariela Silveira. 

Combinar o tratamento com atividades físicas também é indicado, já que o exercício, independente da modalidade, tem uma liberação hormonal de adrenalina, noradrenalina e serotonina, substâncias que ajudam no controle do apetite.

Leia também: Por que você sente compulsão por doces?

Dicas para controlar a compulsão

  • Não espere sentir muita fome para comer. Dessa forma, o ideal é  fazer de cinco a seis refeições por dia – duas principais e três ou quatro lanches intermediários saudáveis;
  • Mastigue devagar, sem pressa. Assim, o cérebro leva alguns minutos para processar a sensação de saciedade;
  • Evite estocar excesso de alimentos em casa, na bolsa ou no armário do trabalho. Isso porque ter guloseimas sempre à mão facilita o processo de compulsão;
  • Planeje o que vai comer durante o dia e separe em porções reduzidas para evitar grandes quantidades de uma só vez;
  • Não pule refeições. uma vez que este hábito altera a glicemia e provoca mais compulsão na refeição seguinte;
  • Mantenha–se hidratado. A região cerebral que controla a sede é a mesma que controla a fome e, por isso, pode gerar confusão;
  • Picar frutas e legumes em tamanhos pequenos também ajuda a enganar o cérebro, que acha que está ingerindo uma porção maior;
  • Pratique exercícios físicos, já que eles ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, aumentam a resiliência emocional, melhoram o equilíbrio de hormônios e neurotransmissores e ajudam a manter o peso corporal adequado;
  • Comer com atenção plena, com momento reservado para isso, sentado à mesa e sem presença de telas, também são fatores protetores para evitar a compulsão. 

Leia também: Mindful Eating: O método que ensina a comer de forma consciente

Fontes: Ana Carolina Oliveira, nutricionista; Isabelle Zanoni, nutricionista de São Paulo; e Mariela Silveira, médica nutróloga.


Sobre o autor

Amanda Figueiredo
Amanda Figueiredo é nutricionista clínica pela USP (Universidade de São Paulo), pós-graduada em Saúde da Mulher e Reprodução Humana pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) e especialista em emagrecimento e nutrição estética CRN-3 77456 Também é jornalista e editora-chefe da Vitat.

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