Por que o açúcar pode viciar? Especialista explica
Branquinho e docinho, mas nada inofensivo. O açúcar é um ingrediente presente em quase todas as casas ao redor do mundo. Além disso, ele está escondido em alimentos que menos imaginamos. Ketchup, fast food (até os pratos salgados!), pães industrializados e iogurtes carregam grandes concentrações do ingrediente. E quanto mais comemos, mais queremos, não é mesmo? Isso acontece porque o açúcar vicia!
A seguir, a nutricionista Thaisa Leal explica melhor:
Por que consumimos tanto açúcar atualmente?
De acordo com a especialista, o consumo de açúcar começou a crescer exponencialmente na década de 60. Isso porque a ciência descobriu a relação do consumo excessivo de gordura saturada com doenças cardíacas.
Assim, a indústria passou a produzir itens com reduzido teor de gordura, como leites desnatados e outros produtos do gênero. Mas como a gordura dá sabor para o alimento, foi necessário incluir algo em contrapartida para manter o mesmo aspecto: o açúcar.
Então, segundo Thaisa Leal, a ação começou a ser apoiada pela indústria do açúcar, que saiu vantajosa, já que passou a adicionar o item não apenas em alimentos doces, mas também em salgados, estimulando o consumo e aumentando o vício em açúcar em milhares de pessoas.
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Açúcar vicia?
A nutricionista explica que a liberação do hormônio dopamina causada pela ingestão do açúcar traz a sensação de bem-estar. Desse modo, isso faz com que o consumidor se torne dependente — assim como acontece com o cigarro, por exemplo.
Quando os níveis do hormônio baixam no sangue, queremos essa sensação novamente, o que estimula a vontade e a necessidade de consumo constante do item. Assim, esse ciclo colabora para manter o vício e gerar, pouco a pouco, problemas de saúde. A profissional cita alguns:
Prejuízos para o cérebro
Alguns estudos atuais já demonstram, inclusive, a relação entre o alto consumo de snacks açucarados com a piora da memória e do estado mental.
Sobrepeso e obesidade
Hoje, é evidente que o açúcar é um produto de elevadíssimo teor calórico e que seu consumo frequente está associado ao ganho de peso e a doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à obesidade (diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares).
Sabe-se, aliás, a partir de estudos da OMS, que essas doenças constituem 7 das 10 principais causas de morte no mundo.
Diabetes
O consumo elevado de açúcar predispõe ao diabetes, e o Brasil é o 4º país com maior índice de pessoas com a condição. O diabetes tipo 2 é o tipo que adquirimos ao longo da vida devido aos nossos hábitos ruins.
No momento que consumimos açúcar em grande quantidade, nosso pâncreas, órgão responsável por produzir insulina – molécula que transporta o açúcar que consumimos pelo sangue –, começa a trabalhar mais intensamente, a fim de produzir quantidade suficiente da substância para transportar toda essa glicose para algum lugar.
Quando consumimos muito açúcar com frequência, nosso pâncreas começa a se encontrar sempre nesse estado de trabalhar muito e muito rápido. Por conta disso, em algum momento, ele começa a cansar e reduzir seu ritmo – o que afeta a produção de insulina e, consequentemente, faz com que a glicose se acumule no sangue, não sendo transportada para nenhum lugar e causando o diabetes.
O diabetes é a principal causa de novos casos de cegueira, derrames cerebrais, infarto do miocárdio, amputações de membros, insuficiência renal e transplante renal no mundo.
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Açúcar vicia: o que fazer
De acordo com Thaisa Leal, é preciso tratar o excesso de consumo de açúcar como um problema real e dar ao problema a importância que merece, veiculando propagandas de educação nutricional nas TVs, assim como passou a ser feito com o cigarro.
“Às vezes, penso: no início, o cigarro era visto como algo legal e não sabíamos os malefícios. As propagandas estimulavam seu consumo. Passados alguns anos, as propagandas e embalagens começaram a conter informações das consequências para a saúde: impotência sexual, câncer de boca e perda dos dentes, infarto, doença vascular, amputação, problemas pulmonares, aborto espontâneo e muito mais. Assim, é preciso caminhar para uma educação nutricional, não apenas pela indústria alimentícia, com informações nos rótulos dos produtos açucarados, mas também com incentivo por parte do governo, para que nossas crianças aprendam, desde novas, a importância de um equilíbrio e da prática de exercícios físicos.”
Fonte: Thaisa Leal é nutricionista formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e pós-graduanda em Neurociência comportamental.