Vacinados podem se infectar e transmitir variante alfa do coronavírus

Saúde
26 de Julho, 2021
Vacinados podem se infectar e transmitir variante alfa do coronavírus

Uma pesquisa brasileira descobriu que mesmo quem foi vacinado com todas as doses das vacinas de Covid-19 pode se infectar e transmitir a variante do coronavírus conhecida como alfa. A conclusão foi baseada no estudo de dois surtos que contaminaram moradores e funcionários de duas casas de repouso em Campinas. Contudo, os infectados, com média de idade acima de 70 anos, tinham tomado uma dose da vacina da AstraZeneca ou as duas da CoronaVac. Foi registrado uma única morte, de uma pessoa de 84 anos com mal de Alzheimer.

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado na plataforma Preprints with The Lancet, mas ainda está sem revisão. “Os resultados mostram que pessoas que foram vacinadas podem se infectar com a variante do coronavírus alfa. E, desse modo, independentemente de ter a doença ou não, transmitir o vírus a quem ainda não foi vacinado. Isso é preocupante porque pode gerar um gargalo de seleção para linhagens que podem voltar a causar a doença mesmo em pessoas vacinadas. E mostra a importância de manter medidas de distanciamento social e o uso de máscara”, conta José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), que coordenou o estudo.

Em um trabalho anterior, o grupo já havia mostrado que o soro do sangue de pacientes vacinados com a CoronaVac criava menos anticorpos para a variante gama. Indicando, portanto, que os vacinados poderiam potencialmente se infectar.

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Variante alfa do coronavírus

Um estudo publicado em abril por pesquisadores da Universidade de Oxford mostra que a variante alfa pode infectar mesmo imunizados com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca.

“Nosso trabalho é um dos primeiros relatos de uma dinâmica de transmissão de uma variante de preocupação do SARS-CoV-2 em pessoas vacinadas. Ao mesmo tempo, com uma taxa de agravamento da doença muito baixa, muito menor do que esperaríamos de uma população com uma média tão alta de idade. Portanto, mostra um efeito protetor da vacinação para o desenvolvimento de COVID-19”, explica Módena.

O estudo ressalta, no entanto, uma dinâmica de transmissão sustentada do vírus. Os surtos foram contidos por conta de um diagnóstico rápido e o isolamento imediato dos infectados pelo Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Com isso, pouco mais da metade das populações estudadas foi infectada.

Os pesquisadores mediram a carga viral em vacinados infectados nos dois locais, mas não houve diferenças significativas entre as duas vacinas. Além disso, avaliaram a quantidade de anticorpos neutralizantes para a variante alfa nos que testaram positivo.

“Não encontramos correlação do quadro da doença com o título [quantidade] de anticorpos neutralizantes. Quem teve sintomas tinha mais anticorpos do que os assintomáticos, provavelmente uma resposta à infecção e não às vacinas. Isso quer dizer que a proteção não depende necessariamente apenas de anticorpos, mas de outros componentes da resposta imune induzida pela vacinação”, explica o pesquisador.

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Casos leves e assintomáticos da variante do coronavírus no Brasil

A variante alfa, anteriormente chamada de B.1.1.7, foi detectada pela primeira vez no Reino Unido em setembro de 2020. Ela foi responsável pela segunda onda da pandemia naquele país e em outros da Europa. No Brasil, por outro lado, foi reportada pela primeira vez em dezembro de 2020 e sua presença comprovada em mais de dez Estados.

No estudo atual, foram sequenciados genomas do novo coronavírus de moradores e trabalhadores de dois lares de idosos de Campinas. O sequenciamento teve apoio do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela FAPESP.

Em um dos surtos, em um convento de freiras aposentadas, 15 das 18 residentes e sete dos oito funcionários foram vacinados com uma dose da vacina ChAdOx1, desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A média de idade era de 73 anos. Foram 16 casos registrados, metade deles classificados como leves e a outra metade como assintomáticos. No entanto, não houve casos moderados ou severos e nenhum exigiu hospitalização.

No outro local, uma casa de repouso para homens e mulheres, 32 dos 36 residentes e dez dos 16 funcionários tomaram as duas doses da CoronaVac, do laboratório SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. Em 18 dos 22 casos (75%) o quadro foi assintomático e, nos outros quatro, leve. A média de idade dos pacientes era 77 anos.

No mesmo asilo, dias antes das coletas para o estudo, um residente de 84 anos portador do mal de Alzheimer apresentou sintomas de COVID-19, depois confirmada, 21 dias depois de tomar a segunda dose da vacina. Ele morreu após cerca de 20 dias internado.

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Conclusão

Os autores ressaltam que o resultado aponta, sim, uma proteção das vacinas para quadros graves de Covid-19. Mas que é preciso vacinar a maior parte da população o mais rápido possível. Além disso, a mensagem é que as pessoas vacinadas devem continuar adotando medidas não farmacológicas, como uso de máscara e distanciamento social.

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(Fonte: Agência Fapesp)

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