Os níveis de poluentes estão tão altos que 99% da população respira ar que excede os limites de qualidade definidos pelo órgão. É isso o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um alerta recente. Mas a poluição não está somente no ar. Ela também pode ser encontrada na água, nos alimentos (com os agrotóxicos) e, também, nos produtos químicos. Assim, os chamados desreguladores ou disruptores endócrinos – que podem afetar as funções hormonais e metabólicas do organismo, predispondo o aparecimento de diversas disfunções.
“Todas podem causar impactos negativos à saúde da população e do ambiente. O problema se agrava nos países em desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas vezes a legislação ambiental é deficiente. Assim, aliada à falta de infraestrutura de saneamento básico nesses países, que agrava o cenário”, explica a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
O contato com a poluição traz diversos danos à saúde, comprometendo não só o pulmão, ao causar doenças respiratórias, mas também sendo responsável por uma cascata de danos. Dessa forma, acometem o coração e os rins, causa doenças metabólicas e infertilidade, e – além disso – mesmo se desconsiderarmos a poluição que inalamos, o próprio contato dela com a pele já é o suficiente para causar problemas cutâneos. Abaixo, consultamos especialistas para explicar mais sobre os problemas:
Em 2018, um estudo científico da revista Circulation, da Associação Americana do Coração, fez um alerta preocupante: a poluição do ar foi responsável por cerca de 3,3 milhões de mortes no mundo decorrentes de doenças cardiovasculares em 2016 – esse número supera o de óbitos atribuídos a problemas crônicos, como tabagismo (2,48 milhões), obesidade (2,85 milhões) e diabetes (2,84 milhões). Segundo o trabalho científico, a poluição do ar é uma mistura complexa de poluentes que gera doenças cardiovasculares por diversas vias.
O material particulado 2.5 (PM 2.5), menor que 2,5 micrômetros, ou seja, trinta vezes menor que a espessura de um fio de cabelo humano, por exemplo, é considerado um fator de risco cardiovascular, uma vez que viaja até o pulmão desencadeando uma cascata de efeitos fisiológicos, de forma que as micropartículas se alojam no sangue, causando inflamação e estresse oxidativo sistêmico, com risco de aumento da vasoconstrição, pressão arterial, frequência cardíaca e resistência à insulina. Suas micropartículas provêm de usinas elétricas, fábricas e veículos, ou seja, a poeira, a queima de combustíveis e os veículos automotores são as principais fontes desse tipo de poluente.
O aumento da temperatura global, cujo principal responsável é a poluição, está contribuindo para maior número de casos de doenças renais. Dessa forma, o problema que vem aumentando e tende a crescer ainda mais nos próximos anos caso não haja uma redução dos níveis da poluição, segundo a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
“A sudorese induzida pelo calor e a consequente desidratação predispõem ao maior risco de desenvolvimento de doenças renais. Além disso, à medida que as temperaturas da superfície global continuam a aumentar devido à atividade humana, os impactos adversos são agravados para as pessoas que já têm doenças renais”, explica a médica nefrologista.
“Essa população é mais vulnerável à exposição ao calor e desidratação e aumento do risco de cálculos renais e lesão renal aguda. A má qualidade do ar também está associada à insuficiência renal crônica progressiva”, completa Reigada.
Segundo a médica nutróloga Marcella Garcez, um poluente pode ter vários tipos de ações. Assim, dependendo do composto químico, ele terá diferentes impactos nas atividades hormonais ou metabólicas de acordo com o órgão alvo. “Vários estudos têm associado esse composto com alterações em nosso sistema reprodutivo, aumento do risco de obesidade, neoplasias e outras disfunções. Alguns destes compostos afetam a microbiota do indivíduo e acarretam disfunções metabólicas”, conta a médica.
“Agentes ambientais tóxicos podem afetar a fertilidade alterando os hormônios e o ciclo menstrual de uma mulher, interferindo na qualidade do espermatozoide ou causando alterações no desenvolvimento de um feto ou uma criança. Alguns agentes podem passar de uma mulher grávida para o feto e podem levar a mutações genéticas”, explica Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio-fundador do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana.
Um dos poluentes com efeitos mais danosos à fertilidade é o material particulado 2.5 (PM 2.5). “Segundo estudos, a exposição gestacional a partículas finas (PM 2.5) de poluentes esteve associada a um aumento da probabilidade de perda da gravidez em diversas regiões do mundo. Além disso, homens e mulheres que trabalham ao ar livre (agentes de trânsito, taxistas, motoristas de ônibus etc.) em cidades grandes têm maior dificuldade em engravidar”, diz o ginecologista.
Segundo a dermatologista Paola Pomerantzeff, diversos estudos epidemiológicos mostram o impacto da poluição na pele. Isso acontece principalmente por conta de partículas e micropartículas que causam diversos danos e inflamação.
“Esses processos podem levar ao aumento de doenças cutâneas inflamatórias como acne, dermatites e psoríase, degradação do colágeno e envelhecimento da pele. O sabonete comum consegue eliminar as partículas maiores de poluição, no entanto as menores são capazes de adentrar os poros e causar danos. Por isso, é fundamental incluir o uso de substâncias antioxidantes e antipoluição na rotina de beleza. Especialmente no caso de pessoas que moram em grandes centros urbanos, metrópoles e megalópoles”, destaca a dermatologista.
Rugas, manchas, olheiras e flacidez são só mais alguns dos problemas que os poluentes podem causar. Segundo a médica, um grande problema mundial tem sido encontrar um meio de evitar as micropartículas. “Seu potencial irritativo para a pele é gigante: elas contêm fortes agentes que se depositam na pele, causando danos à barreira cutânea, formação de radicais livres e envelhecimento celular”, conta Pomerantzeff.
Para minimizar os impactos dos desreguladores endócrinos, Marcella Garcez, médica nutróloga, explica que é necessário:
Os hábitos saudáveis também minimizam o impacto da poluição no coração e nos rins, segundo a nefrologista Caroline Reigada. “Para prevenção de doenças renais, além de aumentar o consumo de água e ter uma alimentação saudável, é importante visitar um médico de confiança regularmente para detecção precoce e intervenção de doenças renais genéticas e comorbidades como hipertensão e diabetes”, conta.
Quando o assunto é fertilidade você deve estar ciente de que o que come, onde mora e seu ambiente de trabalho podem afetar sua exposição a agentes ambientais tóxicos. “Leia os avisos do rótulo, procure aconselhamento sobre possíveis efeitos e pense nas mudanças que você pode fazer para reduzir sua exposição (aos poluentes)”, diz ginecologista obstetra Rodrigo Rosa. Então, o médico indica adotar um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada, boas noites de sono e praticando exercícios físicos. Dessa forma, o bom funcionamento do organismo é garantido e melhora a fertilidade e as chances de sucesso na gravidez.
Com relação à pele, por fim, existem cosméticos com ativos antipoluição. Eles podem ter diversos mecanismos, geralmente de reparação. Algumas substâncias são incorporadas a filtros solares, justamente porque ajudam a formar um filme de proteção sobre a pele. Assim, impedindo a penetração das micropartículas, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff. Um exemplo é o ativo antipoluição Exo-P. Um polissacarídeo altamente purificado de um microrganismo e que pode ser manipulado, por exemplo, em sabonete, espuma, fluido de limpeza, cremes e séruns.
“Exo-P é um antipoluente que reduz a adesão das PM 2.5, além de ‘sequestrar’ metais pesados. Além disso, o ativo reduz a atividade dos radicais livres, protege a pele e a integridade celular contra os poluentes, inclusive fumaça de cigarro. A concentração de 1% do ativo é suficiente, com uso preferencialmente noturno ou conforme orientação médica”, finaliza Maria Eugênia Ayres, farmacêutica e gestora técnica da Biotec Dermocosméticos.
Fontes: Caroline Reigada, nefrologista e especialista em Medicina Intensiva; Marcella Garcez, médica nutróloga; Maria Eugenia Ayres, farmacêutica e gestora técnica da Biotec Dermocosméticos; Paola Pomerantzeff, dermatologista; Rodrigo Rosa, ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana.