Obesidade e fertilidade: como a relação afeta homens e mulheres

Gravidez e maternidade Saúde
18 de Março, 2022
Obesidade e fertilidade: como a relação afeta homens e mulheres

A obesidade é um problema de saúde pública e o avanço da doença impacta na qualidade de vida. Principalmente no desejo de gerar filhos, que tem como obstáculo muitas alterações metabólicas e endócrinas. Dessa forma, obesidade e fertilidade caminham juntas para um possível distúrbio. Ainda mais se não houver tratamento e acompanhamento profissional, fundamentais para reverter o quadro da doença.

Para se ter uma ideia, dados do IBGE mostram que, em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos era portadora de obesidade. Ou seja, 41 milhões de pessoas. Por sua vez, o excesso de peso atingia 60,3% da população de 18 anos ou mais, o equivalente a 96 milhões de pessoas, sendo 62,6% das mulheres e 57,5% dos homens. Atualmente, não se sabe o número exato de indivíduos com obesidade no Brasil, mas existe o consenso de que o número é crescente, inclusive entre crianças e adolescentes.

Veja também: Gestantes saudáveis têm filhos com menor tendência à obesidade

O que é a obesidade?

A condição é caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que desencadeia processos inflamatórios e compromete diversas funções importantes do organismo. Tal desequilíbrio nas funções, como a resistência à insulina, se torna responsável pelo desenvolvimento de doenças graves, como diabetes, hipertensão e diversos problemas hormonais e cardiovasculares.

Há uma classificação para caracterizar uma pessoa em relação ao seu peso chamada Índice de Massa Corporal (IMC). A princípio, a conta é feita dividindo o peso pela altura ao quadrado: IMC = Peso/Altura². Veja os indicadores de acordo com a faixa do IMC:

CategoriaIMC
Abaixo do pesoAbaixo de 20
Peso normal20,0 – 24,9
Sobrepeso25,0 – 29,9
Obesidade30,0 – 39,9
Obesidade mórbida40,0 e acima

Obesidade e fertilidade: entendendo a relação

Ambos os especialistas consultados para esta matéria foram enfáticos em relação à obesidade e fertilidade: homens e mulheres portadores da doença são extremamente afetados. “A obesidade tem grande influência na infertilidade. Em outras palavras, o processo inflamatório atrapalha na produção de hormônios sexuais que estão envolvidos na fertilidade. Logo, a gordura corporal produz enzimas que irão atrapalhar na formação de espermatozoides nos homens e na ovulação nas mulheres”, explica Guilherme Corradi, especialista em medicina do esporte e membro titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

De acordo com Geraldo Caldeira, ginecologista, obstetra e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), tanto a mulher quanto o homem com obesidade sofrem queda da libido. Como resultado, a mulher pode ter secura vaginal e o homem enfrenta dificuldades de ereção.

Em síntese, a culpa é dos hormônios testosterona (masculino) e estrogênio (feminino), que sofrem uma descompensação em ambos os sexos devido ao quadro da obesidade. “A mulher normalmente apresenta redução no estrogênio e alterações metabólicas, que levam à síndrome do ovário policístico, desenvolvimento de acne e crescimento de pelos devido ao aumento da testosterona”, explica Caldeira.

Outras consequências da relação entre obesidade e fertilidade

  • Juntamente com a queda de testosterona e aumento do estrogênio, a qualidade do espermatozoide entra em declínio.
  • Nas mulheres, a síndrome do ovário policístico atrapalha as tentativas de engravidar. Além disso, a menstruação se torna irregular.
  • Aumento da probabilidade de abortos, malformação do bebê, partos prematuros e morte do feto ao nascer.
  • Crescem as dificuldade para engravidar, sobretudo se ambos os indivíduos do casal forem portadores de obesidade.

Afinal, a infertilidade em decorrência da obesidade pode ser revertida?

Segundo Corradi e Caldeira, é possível recuperar a fertilidade, principalmente se ela estiver ligada ao quadro de obesidade. Embora seja uma condição séria, é importante ressaltar que a infertilidade pode ser causada por diversas razões, tais como idade, já que a produção hormonal depende desse fator, e outras doenças. Para a perda de peso, ambos recomendam:

  • Antes de mais nada, iniciar um programa de reeducação alimentar com acompanhamento profissional.
  • Realizar atividades físicas igualmente sob supervisão de um profissional, com o objetivo de perder peso. Por exemplo, caminhadas, treinos de fortalecimento e modalidades de baixo impacto são boas opções para iniciar o movimento.
  • Fazer exames periódicos para monitorar os indicadores de saúde.
  • Alguns médicos podem indicar a cirurgia bariátrica, que auxilia na perda peso mais rápida. Consequentemente, o procedimento reduz os indicadores mais críticos (resistência à insulina, por exemplo). Em contrapartida, existem efeitos colaterais que precisam ser discutidos com o especialista.
  • Uso de medicamentos controlados, caso haja outras enfermidades envolvidas, como diabetes e hipertensão.

Alternativas para melhorar a fertilidade

Ao passo que o tratamento para a obesidade progride, as chances de engravidar naturalmente podem aumentar. Contudo, se as tentativas do casal ultrapassarem 1 ano, os especialistas recomendam outras alternativas. “Existem tratamentos específicos para estimular as gônadas e reconfigurar a produção e qualidade dos espermatozoides e óvulos. Assim, pode ser mais fácil ter sucesso na concepção”, informa Corradi. “Outros métodos como a fertilização in vitro podem ser eficazes para a mulher conseguir engravidar. No entanto, é importante realizar exames específicos para ambos. Assim, é possível observar a qualidade dos óvulos e espermatozoides”, finaliza Caldeira.

Fontes: Guilherme Corradi, médico especialista em Medicina do Esporte. Pós-graduado em Lifestyle Medicine (Medicina do Estilo de Vida). Membro titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, da FIMS-International Federation of Sports Medicine e da ELMO – European Lifestyle Medicine Organization; e Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH). Médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana.

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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