Masturbação na gravidez: o que dizem os especialistas
Se sexo, por si só, já é um tabu constante na sociedade, o cenário fica ainda mais delicado quando ele é associado ao período gestacional. Isso porque o ato de trazer uma vida ao mundo praticamente coloca a mulher em um lugar intocável, em que ela precisa se abster dos desejos pessoais em prol de um bem maior. Quem deseja levar isso para a sua realidade, é uma opção válida e que não deve ser motivo de julgamento alheio. No entanto, gestantes que decidirem seguir com sua vida sexual, inclusive fazendo uso da masturbação na gravidez, saiba que a lista de benefícios da prática é extensa.
Por isso, no Dia do Orgasmo, celebrado em 31 de julho, trouxemos as principais questões sobre o tema. Veja a seguir quais são elas!
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“Masturbação na gravidez: devo ou não fazer?”
Para iniciarmos essa conversa, é importante ter em mente que nada deve ser imposto quando o assunto é sexo. Isso vale, inclusive, para se tocar e tentar buscar o auto prazer. Portanto, a masturbação na gravidez não é uma regra, mas uma (boa) possibilidade.
De acordo com Mariana Rosário, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, o ato de se tocar é um importante aliado para se autoconhecer. A especialista, inclusive, lembra que diversas mulheres chegam à gravidez sem nunca terem proporcionador prazeres a si mesmas. Isso, por exemplo, faz com que a figura feminina tenha dificuldade em dizer o que gosta ou não na hora do sexo e, assim, estabelecer seus limites.
É o que mostra a pesquisa Mosaico 2.0, a qual avalia o comportamento afetivo/sexual brasileiro e é coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex). Segundo o levantamento, cerca de 40% das mulheres brasileiras não se masturbam e uma em cada cinco nunca sequer experimentou a prática.
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Os benefícios de se masturbar grávida
Além do autoconhecimento, a masturbação pode ajudar a satisfazer a libido da gestante que não se sente confortável em praticar o sexo com penetração. Ou, ainda, daquela que não consegue encontrar uma posição confortável na prática sexual tradicional, a dois, devido ao tamanho da barriga ou outros incômodos que podem surgir durante a gravidez.
Fisiologicamente, tocar-se também traz uma série de benefícios. “Melhora a autoestima, ajuda a controlar a ansiedade, regula a pressão arterial, fortalece o sistema imunológico, além de melhorar o sono”, enumera a obstetriz Mariana Betioli, especialista em saúde íntima.
Além disso, a masturbação tende ser ainda mais prazerosa durante a gravidez e há explicações para isso. De acordo com a obstetriz, a gestante tem mais facilidade de chegar ao orgasmo devido as alterações hormonais vividas na gravidez, além do aumento de lubrificação vaginal no período e maior irrigação de sangue na região pélvica. Dessa forma, o corpo fica mais sensível à excitação.
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Não esqueça do lubrificante!
Nessa jornada de autoprazer, o lubrificante pode ser um importante aliado para fazer com que o toque em si traga mais sensações prazerosas. Afinal, a mulher tende a sentir mais excitação quanto maior for a sua lubrificação.
A única orientação, segundo a Dra. Mariana, é que se dê preferência por produtos que sejam a base d’água. “Aqueles que contém substâncias que esquentam ou esfriam não são recomendados”, completa a obstetra.
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Dúvidas frequentes sobre masturbação na gravidez
1) A gestante pode usar vibradores para se masturbar?
De acordo com a obstetriz Mariana, a resposta é sim. Embora diversas mulheres pensem que o dispositivo possa vir a machucar o bebê, isso não passa de um grande mito. Isso porque há muitas camadas entre o canal vaginal e onde de fato o pequeno se encontra.
“O vibrador, por maior que seja, não vai encostar na cabeça do bebê. A vagina tem entre sete e 10 centímetros, e ela se alonga quando estamos excitadas, podendo até dobrar de comprimento. Lá no fundo do canal vaginal, ainda tem o colo do útero, que mede de três a quatro centímetros de espessura, e depois vem as duas camadas da bolsa amniótica, que está cheia de líquido e aí é que fica o bebê”, explica a especialista.
Ainda assim, Ana Mondragon, ginecologista e obstetra, orienta a gestante a conversar com seu médico para que ele possa solucionar possíveis dúvidas sobre o uso do brinquedo sexual. E se, ao ter essas perguntas respondidas, a grávida decidir usar o vibrador, deve-se seguir alguns cuidados:
- O brinquedo sexual deve estar sempre limpo antes da penetração para evitar infecções;
- Deve-se lavar a região genital antes e depois do sexo;
- Recomenda-se urinar após a masturbação, pois a prática diminui o risco de infecção urinária;
- Não utilizar o mesmo brinquedo no ânus e na vagina;
- Não compartilhar os brinquedos sexuais. No entanto, caso não exista outra alternativa, deve-se usar o vibrador com um preservativo.
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2) Quando a masturbação não é recomendada?
De acordo com a Dra. Mariana, a contraindicação da masturbação surge quando o obstetra que está acompanhando a gestante não recomenda a prática sexual em geral durante a gravidez. Isso pode acontecer, por exemplo, em casos em que a mulher corre o risco do parto ser prematuro, já que ao atingir o orgasmo, a gestante pode ter uma contração uterina.
Dra. Ana também cita quadros como grávidas com colo curto que foram submetidas a cerclagem ou colocação de pessário, placenta prévia e sangramento genital de causa desconhecida.
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3) A prática pode fazer mal para o bebê?
Com a liberação médica de fazer sexo durante a gravidez, a masturbação não traz nenhum risco ao bebê. Inclusive, a obstetriz Mariana diz que é exatamente o contrário. Em suma, o filho sente a sensação de prazer da mãe como um ápice de felicidade, por exemplo.
“Mas fique tranquila, mãe, porque o bebê não vai ficar excitado, afinal, não tem nada a ver com libido para ele. É só uma sensação boa que acontece por causa dessa liberação de hormônios do prazer, seja ele sexual ou resultado de qualquer outra situação de prazer”, reforça a especialista. Inclusive, quando o orgasmo vem e o útero materno contrai, é como se o pequeno recebesse um abraço dentro da barriga.
Fontes: Mariana Betioli, obstetriz especialista em saúde íntima e CEO da Inciclo, Mariana Rosário, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein e Ana Mondragon, ginecologista e obstetra