Hiperglicemia: o que é, valores de referência e sintomas

Livia Yume Tanizaki
Revisado por
Nutricionista • CRN-3 45492
Hiperglicemia: o que é, valores de referência e sintomas

Quem tem diabetes já deve conhecer a hiperglicemia, que nada mais é do que a glicemia elevada, isto é, acima dos níveis normais. Contudo, o que pouca gente sabe é que a hiperglicemia não faz parte só da vida de quem tem diabetes.

Em alguns casos de saúde, ela pode aparecer e não significar o diagnóstico da doença. Por isso, vamos entender melhor os valores de referência que caracterizam uma hiperglicemia, os seus sintomas e em quais casos ela pode surgir. Confira! 

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O que é uma hiperglicemia? 

As nossas taxas de açúcar no sangue variam ao longo do dia de acordo com a alimentação, horário, sono e prática de exercícios físicos. Dessa forma, entender isso ajuda a compreender os valores de referência da glicemia. 

Quando ela está acima desses valores, é considerada uma hiperglicemia: ou seja, o açúcar no sangue está mais elevado do que deveria. Por outro lado, a hipoglicemia é o oposto: ocorre quando o nível de açúcar está mais baixo do que o ideal. 

De olho nisso, os valores considerados normais de glicemia são: 

Em jejum

  • Os valores ideais de glicemia são de até 99 mg/dL 
  • Acima disso até 125 mg/dL é considerado pré-diabetes 
  • Acima de 126 mg/dL pode indicar o diagnóstico de diabetes 

Sem jejum 

Valores aleatórios de até 180 mg/dL são considerados normais para todas as idades, mas acima disso, é considerado hiperglicemia e pode indicar diabetes.

Quais são as causas da hiperglicemia?

De acordo com a Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD), as crises hiperglicêmicas ocorrem devido à falta de efeito da insulina ou à deficiência dela. O infarto do miocárdio também pode precipitar hiperglicemia e cetoacidose diabética por meio do aumento dos hormônios, como a epinefrina, por exemplo. Uma isquemia silenciosa pode ocorrer em até um em cada cinco pacientes diabéticos tipo 2 maiores de 50 anos de idade. Certos medicamentos e acidentes vasculares cerebrais também podem precipitar uma resposta similar.

Outros distúrbios que podem precipitar a hiperglicemia incluem pancreatite e uso de drogas ilícitas. Em mulheres em idade reprodutiva, os médicos devem considerar a possibilidade de ela ocorrer durante a gravidez (diabetes gestacional). Além disso, também pode ocorrer em:

  • Paciente ainda sem diagnóstico de diabetes
  • Tratamento não otimizado
  • Dose inapropriada de insulina
  • Má aderência ao tratamento
  • Esquecimento ou erro de aplicação de insulina
  • Mal funcionamento da bomba de insulina, cateter ou cânula
  • Estresse como cirurgias, infecções
  • Medicações
  • Dieta inadequada

Afinal, comer doce em excesso pode causar uma hiperglicemia?

Primeiramente, isso dificilmente acontete em pessoas que não têm diabetes. “Ele pode ter um pequeno pico de glicemia, que rapidamente o corpo corrige”, explica Augusto. Contudo, o especialista destaca que esse pico de glicemia, em geral, não passa de 140 mg/dl. “Valores acima disso não confirmam o diagnóstico de diabetes, mas indicam um sinal de alerta para o risco.”

Por isso, diante de qualquer aumento da glicemia, o mais importante é buscar ajuda médica para investigar e ter um correto diagnóstico.

Sintomas

Nem sempre a hiperglicemia causa sintomas. Às vezes, os sintomas podem ser discretos e passarem despercebidos. Contudo, geralmente, em valores mais altos os sintomas ficam mais evidentes. Por exemplo:

  • Excesso de urina;
  • Sede intensa;
  • Dores; 
  • Dormência e f ormigamento das pernas;
  • Visão embaçada. 

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Complicações da hiperglicemia

O prolongamento da hiperglicemia pode causar sérios danos à saúde:
  • Retinopatia diabética: lesões que aparecem na retina do olho. Elas podem causar pequenos sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual.
  • Nefropatia diabética: alterações nos vasos sanguíneos dos rins fazem com que haja a perda de proteína na urina; o órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva, até sua paralisação total;
  • Neuropatia diabética: os nervos ficam incapazes de emitir e receber as mensagens do cérebro, provocando sintomas como formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés e mãos; dores locais e desequilíbrio; enfraquecimento muscular; traumatismo dos pêlos; pressão baixa; distúrbios digestivos; excesso de transpiração e impotência.
  • Pé diabético: ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés desenvolve uma úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e os níveis de glicemia são mal controlados. Qualquer ferimento nos pés deve ser tratado rapidamente para evitar complicações que podem levar à amputação.
  • Infarto do miocárdio e acidente vascular: ocorrem quando atinge os grandes vasos sanguíneos, levando à obstrução (arteriosclerose) de órgãos como o coração e o cérebro. O controle da glicose, somado à atividade física e medicamentos para a pressão alta, o aumento do colesterol e a suspensão do tabagismo, são medidas imprescindíveis de segurança. A incidência deste problema é de 2 a 4 vezes maior nas pessoas com diabetes.
  • Infecções: o excesso de glicose pode causar danos ao sistema imunológico, aumentando o risco da pessoa com diabetes contrair algum tipo de infecção. Isso ocorre porque os glóbulos brancos (responsáveis pelo combate aos vírus, bactérias, etc.) ficam menos eficazes com a hiperglicemia. O alto índice de açúcar no sangue é propício para que fungos e bactérias se proliferem em áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local de incisão cirúrgica.

Diagnóstico de diabetes

Ao constatar a elevação da glicemia, o médico pode solicitar exames laboratoriais para confirmar ou não o diagnóstico de pré-diabetes ou diabetes. “Se a pessoa tiver uma glicemia de jejum acima de 126 mg/dL, ou hemoglobina glicada acima de 6,5% ou glicemia acima de 200 mg/dL após o teste oral de tolerância à glicose pode indicar o diagnóstico de diabetes”, explica o endocrinologista Augusto Santomauro da BP.

Além disso, a medida de glicose em pessoas com sintomas de hiperglicemia, acima de 200 mg/dL, a qualquer hora do dia, também pode confirmar o diabetes. Contudo, esses valores precisam ser confirmados, ou seja, é necessário que o paciente apresente pelo menos dois valores alterados para confirmação do diagnóstico.

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Nem toda hiperglicemia significa diabetes

Ainda que a principal causa do aumento do açúcar no sangue seja o diabetes, nem toda hiperglicemia confirma o diagnóstico da condição. “Existem situações de estresse onde a produção de alguns hormônios podem elevar a glicemia, como também pode ocorrer na gestação”, explica o endocrinologista Roberto Raduan. 

Além do diabetes, outra possível causa é a pancreatite aguda, uma inflamação no pâncreas. “Neste caso a destruição das células beta, produtoras de insulina podem levar ao diabetes”, explica o médico. 

Hiperglicemia transitória

Além disso, existem situações em que o paciente pode desenvolver uma hiperglicemia chamada transitória, ou seja, que acontece por um período e depois normaliza. “A gente teve um grande número de casos por conta da infecção de Covid-19. O paciente não tem diabetes, mas por conta do estresse inflamatório e dos medicamentos, como o corticoide, ele desenvolve uma hiperglicemia transitória”, explica o endocrinologista Augusto Santomauro. 

O especialista também destaca que em casos de internação grave como infarto, derrame, embolia pulmonar, mas também outras infecções podem levar a esse aumento da glicemia temporário. 

Tratamento da hiperglicemia

Os pilares do tratamento da hiperglicemia são a administração de insulina, de fluidos, correção de anormalidades eletrolíticas e monitoramento rigoroso. A administração de fluidos isotônicos visa restaurar a perfusão renal. A terapia com insulina é tipicamente administrada por via intravenosa, embora casos leves a moderados não complicados possam ser tratados com insulina subcutânea.

Em casos mais graves, os eletrólitos, a glicose, o nitrogênio ureico no sangue, a osmolaridade,
a creatinina e o pH arterial ou venoso devem ser medidos a cada 2-4 horas para monitorar as respostas dos pacientes à terapia e para permitir a titulação de insulina e fluidos.

Como prevenir?

O tratamento da hiperglicemia também envolve mudança de hábitos de vida, como a prática de atividade física regular e dieta. Em alguns casos, medicamentos orais e/ou insulina também são utilizados para o controle dos níveis da glicemia. Por outro lado, o esquema terapêutico, as doses e horários de administração de medicamentos são definidos para cada paciente individualmente, de acordo com o tipo de diabetes e padrão de gasto energético. Além disso, a conscientização dos pacientes em relação às complicações do descontrole dos níveis glicêmicos é fundamental para a adesão ao tratamento.

Por fim, a avaliação médica em conjunto com a nutrição e a educação em diabetes serão necessárias de forma mais precoce e mais frequentes na tentativa de evitar novos episódios e persistência de hiperglicemia.

Frio pode alterar a glicemia

De acordo com a Dra. Flávia Oliveira, médica do estilo de vida, a vasoconstrição causada pelo frio pode dificultar a ação da insulina no corpo do paciente, ou seja, a insulina presente no sangue pode não ter efeito esperado e possíveis hiperglicemias.

“Chamo atenção também à hipoglicemia, que pode ser mascarada pelas baixas temperaturas, uma vez que os sintomas podem ser confundidos com a própria sensação de frio como tremores, palidez, aumento de apetite e formigamentos nas extremidades”, explica Dra. Flávia.

Por isso, e dias frios, é muito importante que a pessoa que vive com diabetes se mantenha aquecida, use roupas adequadas e proteja, especialmente, as extremidades do corpo como pés e mãos. “E não deixe a temperatura baixa impactar a sua rotina de exercícios. Antes de iniciar qualquer atividade física, faça um aquecimento para evitar lesões e meça a glicemia”, orienta a médica.

Segundo a Dra. Flavia, a recomendação é que exercícios ao ar livre ocorram nos horários mais quentes do dia. “A atividade física é um dos pilares do tratamento do diabetes, juntamente com a alimentação equilibrada e saudável. Hidrata-se, mesmo que no inverno a sensação de sede diminua”, explica a médica.

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Referência:

Fontes:

  • Roberto Raduan, endocrinologista e diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes;
  • Augusto Santomauro Jr., endocrinologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo;
  • Dra. Flávia Oliveira, médica do estilo de vida e coach de saúde, apoiadora do Instituto Correndo pelo Diabetes (ICPD).