Guia da dieta enteral (alimentação por sonda): tipos, como fazer e cuidados
Em algumas situações médicas, o indivíduo não consegue (ou não pode) comer ou beber de maneira convencional, isto é, por meio da boca – seja parcial ou totalmente. Nesses casos, pode ser recomendada a chamada dieta enteral.
O que é a dieta enteral?
Falta prolongada de apetite, desnutrição grave, cirurgias ou lesões na cabeça que impossibilitam o ato de mastigar ou engolir, coma e grande necessidade de aporte calórico são exemplos de casos nos quais a alimentação enteral torna-se uma aliada na recuperação e na manutenção da saúde do paciente. Assim, a administração de líquidos e nutrientes ocorre com a ajuda de uma sonda, posicionada no estômago ou no intestino delgado.
Dieta enteral e parenteral: afinal, qual a diferença?
Por terem nomes similares (e pouco comuns), muitas pessoas confundem a dieta enteral e a parenteral. No entanto, enquanto a primeira é feita por meio de uma sonda, a segunda diz respeito à administração dos nutrientes diretamente na veia. Ela pode ser parcial, ou seja, quando supre apenas uma parcela das necessidades da pessoa; ou total, quando supre totalmente as necessidades.
De acordo com o Manual MSD, a alimentação enteral apresenta algumas vantagens quando comparada à dieta intravenosa, como preservação da estrutura e da função do aparelho digestivo, custo mais baixo e menor risco de complicações, especialmente no que diz respeito a infecções.
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Como é feita a introdução da sonda para alimentação? Tipos
A sonda pode ser inserida no indivíduo de duas maneiras: introduzida no nariz e descendo pela garganta até o estômago ou intestino, ou colocada diretamente nesses órgãos com uma pequena incisão (corte) na barriga. A escolha geralmente depende do tempo que esse tipo de dieta levará:
Alimentação por sonda no nariz (nasoenteral): até seis semanas
O procedimento normalmente é feito enquanto o paciente está acordado. A sonda é lubrificada e, então, introduzida no nariz até o órgão em questão (estômago ou intestino). Para não engasgar, a pessoa engole várias vezes durante o processo. Em seguida, uma radiografia garante que tudo ocorreu como planejado.
Alimentação por sonda diretamente no estômago ou intestino (gastrostomia ou jejunostomia): mais de seis semanas
Por outro lado, a sonda diretamente no órgão exige sedativo e, muitas vezes, analgésicos intravenosos. Um endoscópio com uma câmera na ponta “guia” o médico sobre o melhor local para inserir a sonda. Então, os profissionais fazem um pequeno corte no abdômen do paciente e colocam o equipamento no órgão em questão (estômago no caso da gastrostomia e intestino delgado no caso da jejunostomia). Quadros mais complicados necessitam de procedimentos cirúrgicos.
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Nutrição enteral: como funciona a dieta do paciente?
Como cada pessoa possui uma necessidade nutricional diferente, a dieta enteral deve ser prescrita por um nutricionista ou médico qualificado, que irá calcular os volumes dos nutrientes levando em conta fatores como peso, altura, idade, nível de atividade e condição médica.
Existem, atualmente, diversas opções de fórmulas prontas (industrializadas) destinadas à alimentação por sonda. Há, inclusive, alternativas para quem tem alguma restrição ou precisa tratar uma deficiência específica.
Além disso, outros alimentos podem ser administrados via tubo (desde que prescritos por um profissional de saúde habilitado). Leite humano, fórmulas infantis e preparos pastosos/líquidos feitos a partir do processamento de alimentos convencionais são alguns exemplos.
Dieta enteral: passo a passo e cuidados
Equipamentos necessários para administrar a dieta enteral
No dia a dia, o profissional de enfermagem, o cuidador ou a própria pessoa utiliza dois acessórios principais para administrar a dieta enteral: frasco e equipo. O primeiro serve para armazenar o alimento ou o líquido em questão, enquanto o segundo trata-se de um tubo flexível que conecta o frasco à sonda, e serve para controlar o fluxo da alimentação (ou seja, a velocidade com que ela vai ocorrer). Outros objetos imprescindíveis são:
- Luvas;
- Seringa de 20ml;
- Swab com álcool 70%.
Higienização
- Lave bem as mãos com água e sabão antes de manusear qualquer objeto da dieta enteral;
- Use luvas durante todo o procedimento;
- Evite tossir ou espirrar em cima dos alimentos ou utensílios – de preferência, use máscara.
Passo a passo
- Sempre verifique o prazo de validade do alimento;
- Então, pendure o frasco a uma altura de 60 cm acima da cabeça;
- Siga todas as instruções de regulagem do equipo, bem como respeite os horários e as quantidades prescritos pelo nutricionista ou médico;
- Deixe a alimentação escorrer por todo o equipo antes de conectá-lo à sonda (para retirar o excesso de ar);
- A posição ideal para receber a dieta é sentado a 90º ou 45º — desse modo, evita-se refluxos e outros desconfortos;
- Ao final, injete de 20 a 40ml de água no equipo para limpar a sonda e evitar entupimentos;
- É preciso aguardar pelo menos 30 minutos depois do procedimento para deitar;
- Caso surjam sintomas como enjoo, tosse excessiva, dificuldade respiratória ou qualquer alteração, suspenda o procedimento imediatamente e procure ajuda médica.
Armazenamento e transporte
- Dietas industrializadas podem ser armazenadas na geladeira depois de abertas por 24 horas;
- Por outro lado, as caseiras podem ficar na geladeira por até 12 horas;
- A dieta deve estar em temperatura ambiente para ser usada (nem gelada, e nem quente);
- Na hora de transportar, use bolsa térmica ou isopor para manter a temperatura da alimentação.
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Principais complicações da alimentação enteral e como proceder
- Irritação no nariz, na boca ou na garganta: o problema pode evoluir para quadros de sinusite. Nesse caso, consulte o médico para considerar a troca da sonda;
- Tosses e engasgos: ainda que seja mais raro, pode ocorrer de a sonda “escapar” para as vias aéreas, provocando tosses, engasgos e vômitos. Assim, procure atendimento médico imediato;
- Bloqueio da sonda: causado por fórmulas muito grossas. Nesse caso, um profissional de saúde pode ajudar a dissolver o alimento com a aplicação de enzimas;
- Expulsão acidental da sonda: que deverá ser substituída até a próxima alimentação;
- Intolerância à fórmula ou à dieta: o problema pode gerar náuseas, vômito e diarreia. A solução é consultar o nutricionista ou o médico para que ele possa indicar produtos (ou ingredientes) alternativos;
- Desequilíbrio de nutrientes no organismo: detectado por meio de exames periódicos solicitados pelo médico. Pede ajuste na fórmula;
- Refluxo: pode evoluir para questões mais graves, como inalação da fórmula para os pulmões. Desse modo, é necessário ajustar a posição durante a administração da dieta ou aumentar o tempo sentado após o procedimento.
Referências:
- Orientações para Pacientes: Nutrição Enteral. A. C. Camargo Cancer Center;
- Alimentação por Sonda. Manual MSD;
- Fórmulas para Nutrição Enteral, Perguntas e Respostas. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).