Compulsão alimentar: sintomas, causas e tratamento

Bem-estar Equilíbrio
23 de Novembro, 2022
Compulsão alimentar: sintomas, causas e tratamento

Comer compulsivamente e pensar em comida o tempo todo são dois dos sintomas que estão relacionados a um transtorno mental bastante grave que afeta milhares de brasileiros: a compulsão alimentar

Dados da Organização Mundial da Saúde  (OMS) de 2017 garantem que o transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) atinge em torno 2,6% da população do mundo. Ainda de acordo com a Organização, 4,7% da população brasileira sofre com esses distúrbios, principalmente jovens mulheres.

O que é compulsão alimentar?

O distúrbio é caracterizado pela falta de controle na ingestão dos alimentos, o famoso caso em que a pessoa come por vontade de comer e não por fome, e muitas vezes o que come são excessos de alimentos gordurosos ou cheios de açúcar. Além desses indícios, ainda podem ser destacados o hábito de comer escondido, mesmo quando há ausência de fome, ou por comer excessivamente com sentimento de culpa após a alimentação.

Geralmente, os quadros de transtornos compulsivos estão relacionados a repercussão emocional, e a comida é a “válvula de escape”. 

Causas da compulsão alimentar

Muito além do simples fato de comer demais, a pessoa com descontrole em relação à comida pensa nisso o tempo todo. Além disso, costuma se alimentar mais vezes que a maioria dos que estão a sua volta, mesmo sem a sensação de fome ou sentindo desconforto após alimentação excessiva. 

Assim, existem muitas causas para a geração de compulsão alimentar, desde hábitos errados até distúrbios hormonais. Mas, em muitos dos casos, a compulsão sucede uma restrição alimentar severa, como essas dietas da moda.

“O comer compulsivo mais prevalente é relacionado a momentos de estresse e ansiedade, o que não está relacionado a nenhum diagnóstico fechado. Porém, menos comuns são Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, o comer noturno e a bulimia nervosa. Além disso, mais raramente, existem compulsões alimentares relacionadas a síndromes neurológicas ou fármacos”, explica Dra. Mariela Silveira, Médica nutróloga especialista em terapia cognitiva e mindfulness.

Segundo o Dr. Adriano Segal, psiquiatra e Ddoutor em Medicina pelo Instituto de Psiquiatria do HC FMUSP, compulsão alimentar pode ser compreendida de três modos distintos:

Episódio de compulsão alimentar (ECA)

Ocorre grande ingestão de alimentos, onde há perda de controle sobre o quê e o quanto se come, em um intervalo curto de tempo. Assim, pode ocorrer em vários quadros psiquiátricos, especialmente nos transtornos alimentares, com bulimia nervosa e anorexia nervosa, por exemplo. Um ECA pode variar de 1500 kcal a 15000 kcal. Mas não é um diagnóstico psiquiátrico.

Transtorno de compulsão alimentar

É um diagnóstico psiquiátrico, caracterizado por ECAs frequentes (pelo menos uma vez semana). Além disso, surgem alterações associadas à presença destes ECAs, como culpa, vergonha e piora da autoestima, todos de modo significativo. Ele pode variar de leve (1 a 3 episódios por semana) até extremo (14 ou mais ECAs por semana). Dessa forma, o TCA está associado à obesidade, sendo que aproximadamente 80% das pessoas que têm TCA apresentam algum grau de sobrepeso relevante.

Alimentos calóricos

Muitas pessoas associam a ingestão de alimentos calóricos com a compulsão alimentar, mas esse costume não está relacionado com ECA nem TCA.

Isso porque TCA está fortemente associado a outros quadros psiquiátricos, como transtornos do humor, depressivo e bipolar; transtornos ansiosos, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e transtorno do uso de substâncias.

Sintomas da compulsão alimentar

Geralmente, os episódios são recorrentes e apresentam os seguintes sintomas:

  • Comer rapidamente;
  • Ingerir alimentos até ficar desconfortavelmente cheio;
  • Comer sem sentir fome;
  • Esconder comida para episódios de voracidade;
  • Não ter paciência para aquecer a comida e acabar ingerindo alimentos gelados;
  • Almoçar e jantar sozinho para evitar constrangimento.

Independente do caso, o diagnóstico é clínico, ou seja, feito por um médico. “Não existe diagnóstico laboratorial ou de imagem. Com isso, o tratamento é multidisciplinar com vários profissionais que podem optar por indicar a inserção de medicamentos ou não. Existem vários tipos de tratamentos. Porém, cada caso é individualizado e necessita do acompanhamento de profissionais”, salienta Dr. Bruno Takatsu, médico nutrologista especialista em emagrecimento da Hōraios Estética.

Segundo o Dr. Sérgio, para ser caracterizado como compulsão, tem que ter uma frequência, por exemplo, de três a quatro episódios por mês. “Isso pode acontecer em um estado de ansiedade, depressão, ou síndrome de burnout”, comenta o especialista.

Fome x vontade de comer

A fome fisiológica é a real necessidade do organismo de se nutrir, uma sensação através da qual o corpo percebe que precisa de alimento para manter as atividades inerentes à vida. Ou seja, ela é um recado do cérebro informando que é preciso comer, que seu corpo necessita de “combustível” para continuar funcionando, e qualquer alimento nessa hora será bem-vindo.

Por outro lado, a vontade de comer é algo específico, você sabe exatamente o que quer. Ou seja, está ligada ao prazer, ao alívio de algum desconforto emocional, a sentir o gosto, degustar um determinado alimento.

Apesar de distintas, nem sempre é tão fácil diferenciá-las. “Requer autocontrole”, entrega Mariela . “Ao sentir fome, procure perceber como você fica quando está faminta, e ao comer sem fome, perceber como o corpo reage. Claro que algumas vezes comemos sem fome e está tudo bem. A preocupação maior está na repetição desse hábito e no exagero da comida. Portanto, conseguir diferenciar esses momentos é essencial e entender que é normal comer mais do que o comum algumas vezes também”, esclarece a nutricionista.

Para o médico especialista em compulsão alimentar, Dr. Sérgio Pistarino, as pessoas confundem muito o termo “gula” com a compulsão. “Pode acontecer de, em alguns momentos, existirem exageros alimentares de forma descontrolada, mas que por si só não apresentam um diagnóstico. É comum às vezes exagerar em ocasiões como um churrasco, ou pizza, porém são situações pontuais”, explica.

Riscos associados à compulsão alimentar

Pessoas com o transtorno têm mais riscos de:

  • Cálculo renal (porque consomem muito cálcio);
  • Diminuição da capacidade respiratória;
  • Apneia do sono;
  • Doenças metabólicas, como diabetes tipo 2;
  • Gastrite;
  • Infertilidade;
  • Doenças cardiovasculares;
  • Bulimia e anorexia;
  • Por fim, depressão.

Compulsão alimentar e obesidade

Além disso, a compulsão alimentar está muito relacionada à obesidade: estima-se que cerca de 40% dos pacientes que optam pela cirurgia bariátrica sofram com a compulsão alimentar. A cirurgia bariátrica cria uma restrição física para a ingestão de alimentos, uma vez que diminui o tamanho do estômago. Por isso, o indivíduo com o problema pode ter dificuldade para se adaptar à nova alimentação — o que mostra a importância do acompanhamento psicológico durante o tratamento.

Como a compulsão alimentar afeta a saúde mental

De acordo com a Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção, a compulsão alimentar, além de afetar a saúde mental, também é gerada por problemas psíquicos.

“A gente tem uma via que acontece circularmente e se retroalimenta na medida em que a compulsão gera sofrimento pela sensação de vulnerabilidade, de falta de controle e de mal estar. Mas ela é gerada por experiências de sofrimento psíquico que sustentam essa atuação e esse descontrole com a o alimento”, explica.

estresse é um dos motivos mais comuns que leva à compulsão alimentar, e ela acontece porque o indivíduo vê nos alimentos uma maneira de minimizar alguma sensação indesejada. “Comer gera prazer momentaneamente, ainda mais quando essa comida se trata de alimentos industrializados. O ato de comer algo que a pessoa gosta dá a sensação de alívio naquele momento específico, além de ser uma forma de recompensar ela mesma por estar passando por um estresse”, complementa a nutricionista Ana Caroline Oliveira. 

Leia também: Bulimia: O que é, sintomas e tratamentos

Como prevenir e tratar a compulsão alimentar

O primeiro passo para controlar a compulsão alimentar é procurar um psicólogo ou psiquiatra, além de médicos especializados em alimentação, como um nutricionista, nutrólogo ou endocrinologista. Alguns profissionais acabam indicando o uso de medicamentos para tratar alguns sintomas relacionados ao distúrbio. Contudo não há um remédio para compulsão alimentar específico. 

“É preciso ainda evitar gatilhos que possam causar essa compulsão, como dietas restritas, não dormir bem, estresse com o trabalho, uso abusivo de drogas ilícitas ou caso o paciente tenha transtorno dismórfico corporal – isto é, doença que faz com que a pessoa tenha uma visão distorcida da própria imagem”, conta o nutrólogo Bruno Takatsu. 

Além disso, o tratamento inclui alimentação balanceada e completa, rica em todos os macronutrientes, sem radicalismos. A aceitação da imagem corporal e a não estimulação de um padrão de beleza ideal, muitas vezes muito magro e frequentemente fomentado por mídias ou redes sociais, é de enorme importância para a recuperação do paciente. 

“Alimentos rico em fibras e água — frutas, verduras e legumes, por exemplo, estão associados à saciedade e ajudam a diminuir a vontade descontrolada de comer. Da mesma maneira, alimentos com baixa taxa  glicêmica estimulam menos a insulina e auxiliam a reduzir a compulsão alimentar. Além disso, lanches intermediários também são úteis para não ocorrer picos de insulina”, diz a nutróloga Mariela Silveira. 

Compulsão alimentar tem cura?

A boa notícia é que, assim como outros transtornos, a compulsão alimentar tem cura – principalmente quando tratada no início. O psiquiatra é responsáveis por identificar os sintomas e dar o diagnóstico correto. Assim, o tratamento é feito com sessões de terapia, na qual o psicólogo consegue descobrir as raízes do problema e solucioná-las. Além do apoio nutricional para que as pessoas possam controlar os impulsos alimentares.

Especialidades envolvidas no tratamento da compulsão alimentar

  • Psiquiatra: responsável por realizar o diagnóstico completo e prescrever medicações necessárias.
  • Nutricionista: atua com os outros especialista na mudança de hábitos alimentares e criando um cardápio saudável.
  • Psicólogo: cuida das emoções, pensamentos e comportamentos, auxiliando a saúde mental e, por consequência, a física. Através das sessões, o terapeuta identifica as causas da compulsão alimentar e ajuda o paciente a lidar com isso, principalmente em relação à imagem corporal.

Perguntas frequentes

Confira abaixo as perguntas sobre compulsão alimentar mais frequentes nos consultórios, segundo Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

O que é compulsão alimentar?

Na verdade, o que a gente mais escuta é o que é a compulsão alimentar. Se às vezes comer em excesso, acaba sendo compulsão alimentar e principalmente se isso pode ser uma causa de obesidade.

Basicamente, nós estamos falando do transtorno de compulsão alimenta, ou seja, um transtorno mental que ocorre quando há uma ingestão exagerada de alimentos em geral calóricos, em uma grande quantidade e em um curto período de tempo. Mas é importante ressaltar que isso não está relacionado com fome.

Às vezes a pessoa fala “Ah eu estava na TPM e comi um monte de chocolates, será que estou com TCA”? Não! Esse comportamento está relacionado apenas ao período menstrual. O que a gente está falando é realmente de um transtorno, de algo que começa a acontecer com frequência e a pessoa perde o controle da ingestão.

Está relacionada a fome?

É importante diferenciar quando a gente come porque está com fome – que tem a ver com saciedade – ou por conta do transtorno da compulsão alimentar.

Em geral, pessoas com essa doença às vezes acabam comendo escondidas e a alimentação torna-se um um problema para ela. Por isso, é comum ter comportamentos como não comer na frente dos outros e se isolar para poder comer.

Tem tratamento?

O tratamento é feito através do acompanhamento com o endócrino, pois é fundamental entender a parte metabólica, que pode levar a quadros de obesidade. Além disso, é importante ter sessões de psicoterapia para trabalhar a questão da compulsão , entender porque aquela pessoa está comendo tanto, está tendo aqueles episódios compulsivos, entre outros.

Dicas para controlar a compulsão

  • Não espere sentir muita fome para comer. O ideal é  fazer de cinco a seis refeições por dia – duas principais e três ou quatro lanches intermediários saudáveis;
  • Mastigue devagar, sem pressa. Pois, o cérebro leva alguns minutos para processar a sensação de saciedade;
  • Evite estocar excesso de alimentos em casa, na bolsa ou no armário do trabalho. Ter guloseimas sempre à mão também facilitam o processo de compulsão;
  • Planeje o que vai comer durante o dia e separe em porções reduzidas para evitar grandes quantidades;
  • Não pule refeições. Isso porque este hábito altera a glicemia e provoca mais compulsão na refeição seguinte;
  • Mantenha–se hidratado. A região cerebral que controla a sede é a mesma que controla a fome;
  • Picar frutas e legumes também ajuda a enganar o cérebro, que acha que está ingerindo uma porção maior;
  • Pratique exercícios físicos. Desse modo, eles ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, aumentam a resiliência emocional, melhoram o equilíbrio de hormônios e neurotransmissores e ajudam a manter o peso corporal adequado;
  • Por fim, coma com atenção plena, com momento reservado para isto, sentado à mesa, sem presença de telas, preferencialmente com familiares, também são fatores protetores para evitar a compulsão. 

Mindfulness para evitar compulsão alimentar

O mindfulness – ou atenção plena – consiste em uma prática que envolve diminuir as distrações e se concentrar completamente no momento presente. É uma ótima maneira de evitar a compulsão alimentar por meio da alimentação consciente, chamada de mindful eating, usa os fundamentos do mindfulness antes, durante e depois de comer.

Portanto, saiba como utilizar a prática para evitar os excessos:

Designar horários das refeições

Estar em sintonia com a fome e a plenitude requer prática e paciência. Mas, fazer refeições e lanches em horários determinados ao longo do dia, ajudará a regular os níveis de metabolismo, humor e energia. 

Então, crie uma programação que faça sentido, use alarmes e cronômetros. Você pode fazer isso nas refeições e também nos exercícios físicos.

Concentrar-se em sua comida

De acordo com um estudo da University de Birmingham, no Reino Unido, pessoas que comem enquanto se distraem tendem a comer mais. Não apenas naquele momento, mas também mais tarde.

Portanto, para ficar mais atento às refeições, faça pequenas escolhas que irão incentivar a se concentrar na comida. Opte por desligar a TV e outros aparelhos eletrônicos enquanto come. 

Além disso, você pode observar como o sabor da comida evolui à medida em que mastiga. Quanto mais desacelera e se concentra na refeição, menor a probabilidade de comer demais.

Por fim, considere ter um diário alimentar que priorize a atenção plena. 

Comer lanches com responsabilidade

Ao lanchar, é importante incluir uma fonte de proteína e uma de fibra para maximizar a satisfação a curto e longo prazo. Por exemplo manteiga de frutas e nozes, vegetais e homus ou iogurte com sementes de abóbora.

Para alimentos não embalados, como frutas e legumes e a porção recomendada é aproximadamente do tamanho do seu punho.

Ser gentil consigo mesmo

Não sabemos até quando ficaremos em casa. Por isso seja gentil consigo mesmo. Isso significa abandonar a mentalidade de achar que “estragou tudo” só por ter saído da dieta ou por estar em uma compulsão alimentar. 

Em vez disso, veja esse isolamento social como um momento essencial para se concentrar mais em seus comportamentos saudáveis. Se você se encontra comendo demais em um dia, observe como isso o faz se sentir e elabora um plano para o dia seguinte. Talvez você pratique yoga ou comece sua rotina de autocuidado em vez de comer uma segunda opção de sobremesa.

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Fontes

  • Dra. Mariela Silveira, Médica nutróloga especialista em terapia cognitiva e mindfulness;
  • Dr. Bruno Takatsu, médico nutrologista especialista em emagrecimento da Hōraios Estética;
  • Dr. Adriano Segal, Doutor em Medicina pelo Instituto de Psiquiatria do HC FMUSP, Membro da Comissão de Transtornos Alimentares da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Membro da Comissão de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica);
  • Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção;
  • Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria);
  •  Dr. Sérgio Pistarino, médico especialista em compulsão alimentar.

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