Ração animal para bater a meta de proteínas? Riscos da ‘tendência’

Alimentação Bem-estar
25 de Junho, 2024
Fernanda Lancellotti
Revisado por
Nutricionista • CRN3 29223
Ração animal para bater a meta de proteínas? Riscos da ‘tendência’

Recentemente, um jovem mexicano viralizou nas redes sociais ao comer um sachê de ração úmida de uma famosa marca de alimentação animal durante um treino em uma academia. Mas a moda não é de agora. Léo Stronda, um dos maiores nomes do universo “bodybuilder”, também contou em entrevista que comprava suplementos em lojas veterinárias, fazendo com que diversos praticantes de musculação afirmassem já ter feito o mesmo.

A tendência pode parecer absurda — e é.

foto mostra jovem na academia comendo um sachê de ração para cachorros

Foto: reprodução TikTok

De acordo com Rodrigo Schröder, médico pós-graduado em Medicina do Esporte e Nutrologia Esportiva, o consumo de produtos destinados a animais não só pode causar graves problemas à saúde física, como reflete danos na saúde mental — que vão desde como dismorfia corporal a transtornos alimentares, como ortorexia, vigorexia ou anorexia.

Por trás da tendência

Os cães são animais essencialmente carnívoros e têm como base da alimentação a proteína, nutriente conhecido por ser crucial para o ganho de massa muscular. “A ingestão adequada de proteína, distribuída ao longo do dia, maximiza esse processo anabólico”, conta Rodrigo. No entanto, mesmo com a concentração elevada, a ração não é adequada ao consumo humano.

“A qualidade das proteínas e outros nutrientes em rações pode não atender às necessidades nutricionais humanas, levando a deficiências ou excessos perigosos. Embora a proteína seja essencial para diversas funções corporais, há um limite na quantidade que o corpo consegue absorver e utilizar de uma vez. Estudos sugerem que a absorção eficiente de proteína em uma única refeição varia entre 20 e 30 gramas, dependendo da fonte de proteína e do indivíduo”, afirma o médico.

Leia também: Melhores proteínas para incluir na dieta — e a quantidade

Comer ração animal pode causar sobrecarga renal, desequilíbrio e desidratação em humanos

De acordo com Rodrigo, consumir quantidades excessivas de proteína não faz com que ninguém ganhe mais músculos, mas pode sobrecarregar os rins, aumentar o risco de desidratação e levar a desequilíbrios no metabolismo de nutrientes.

“Pode ser extremamente perigoso, especialmente para indivíduos com predisposição a problemas renais. Além disso, dietas hiperproteicas podem ser deficientes em outros nutrientes essenciais, como fibras, vitaminas e minerais. Por fim, a metabolização da proteína aumenta a produção de ureia, demandando maior quantidade de água para excreção, aumentando o risco de desidratação.”

Para completar, a fabricação da ração não é regulamentada para consumo humano. Desta forma, pode conter contaminantes e toxinas, além de conservantes e corantes altamente prejudiciais. As exigências higiênicas também são diferentes.

Comer ração animal: além do físico, a saúde mental está em jogo

Por trás dos riscos para o organismo, está escondido um problema tão grave quanto: a saúde mental. Segundo o Dr Schröder, o hábito deve acender um forte alerta.

“A busca por soluções extremas, como consumir ração para alcançar metas nutricionais, pode ser um sinal de uma relação disfuncional com a alimentação e com o próprio corpo. É crucial avaliar o estado psicológico desses indivíduos e oferecer suporte adequado.”

Leia também: Como equilibrar as proteínas antes e depois dos exercícios?

Opções saudáveis para aumentar o consumo de proteínas

A quantidade de nutrientes em uma dieta deve ser adaptada a cada indivíduo, mas existe uma série de alimentos que se encaixam bem no dia a dia e não oferecem riscos à saúde, ajudando a bater de forma saudável sua meta diária de proteínas. Segundo Rodrigo, são eles:

  • Leguminosas: feijões, lentilhas, grão-de-bico, soja e derivados como tofu e tempeh;
  • Laticínios: leite, iogurte, queijos e whey protein;
  • Ovo: excelente fonte de proteína de alta qualidade;
  • Oleaginosas: nozes, amêndoas, castanhas e sementes;
  • Quinoa: cereal com perfil proteico completo;
  • Peixes e frutos do mar: ricos em proteínas e ácidos graxos ômega-3.

Fonte: Rodrigo Schröder, médico especialista em Medicina e Performance Esportiva e referência em comunicação sobre saúde, com mais de 1 milhão de seguidores nas redes. 

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