Tratamento da bronquiolite pode ter novo aliado, segundo estudo

Saúde
28 de Março, 2022
Tratamento da bronquiolite pode ter novo aliado, segundo estudo

O tratamento da bronquiolite, condição grave que tem crianças de até dois anos como principais vítimas, parece ter ganhado uma nova perspectiva. Pesquisadores brasileiros identificaram na microbiota intestinal um composto com potencial para reduzir os impactos à saúde causados pelo vírus sincicial respiratório (VSR) – agente causador de infecções do trato respiratório inferior, em especial a bronquiolite. Estima-se que o patógeno seja responsável por cerca de 100 mil mortes por ano no mundo.

Veja também: Bronquiolite: o que é, principais sintomas e tratamento

Acetato seria chave para o tratamento da bronquiolite

Segundo o artigo, o acetato – um ácido graxo de cadeia curta produzido por bactérias do intestino – teria potencial tanto como tratamento profilático quanto para minimizar as consequências da infecção pelo VSR.

“Nós apontamos a ação antiviral dessa substância em células humanas e em animais. Além disso, correlacionamos suas concentrações com a redução de alguns sinais e sintomas causados pelo vírus em bebês”, elenca o farmacêutico Marco Aurélio Ramirez Vinolo, um dos coordenadores do estudo e professor de Imunologia do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp).

Atualmente, não há tratamento da bronquiolite específico ou contra o VSR. Assim, os profissionais manejam os sintomas e as consequências enquanto aguardam o organismo da criança se restabelecer. Em casos especiais (prematuridade, por exemplo), recomenda-se o anticorpo monoclonal Palivizumabe como forma de evitar a infecção. Entretanto, o tratamento profilático é caro.

Como foi realizada a pesquisa

Anteriormente, os pesquisadores vinham utilizando uma cepa de VSR de laboratório, que não é igual à que circula entre humanos. Para contornar essa limitação, no estudo atual, foram colhidas amostras do vírus de duas crianças. Esses patógenos foram aplicados em culturas de células tratadas previamente com acetato. Como resultado, o pré-tratamento reduziu a morte celular e diminuiu em mais de 88% a carga viral.

Já a etapa seguinte utilizou aquelas mesmas cepas retiradas das crianças e as inoculou em camundongos. Uma vez infectados, eles recebiam acetato via intranasal. Novamente o acetato trouxe efeitos positivos, como diminuição de mais de 93% da carga viral e da inflamação das vias aéreas. Os animais também recuperaram seu peso mais rapidamente depois do tratamento da bronquiolite.

A microbiota de crianças com bronquiolite

A princípio, foram recrutadas 30 crianças com menos de 12 meses internadas por causa do VSR. Das crianças, 17 tiveram as fezes coletadas. “Nós avaliamos a composição da microbiota intestinal e quantificamos as concentrações dos ácidos graxos de cadeia curta”, diz Vinolo.

Ao cruzar tais informações com a evolução da bronquiolite, descobriu-se que a maior concentração de acetato estava associada a menor gravidade do quadro. Ou seja, os bebês apresentavam maior saturação de oxigênio – um marcador de preservação da capacidade respiratória – e um menor número de dias com febre.

Para consolidar seus achados, a equipe coletou células das vias respiratórias superiores das crianças examinadas nessa etapa, que já estavam infectadas. Já no laboratório, essas células foram tratadas com acetato e, de novo, houve redução da carga viral e maior atividade de moléculas antivirais.

Implicações futuras para o tratamento da bronquiolite

De acordo com Vinolo, é possível iniciar estudos para checar a segurança do acetato como medicamento com as evidências coletadas. Embora outros ácidos graxos de cadeia curta produzidos pela microbiota possuam efeitos parecidos, eles acabam não alcançando a corrente sanguínea em grandes quantidades. “Por sua vez, o acetato consegue chegar em concentrações consideráveis a diferentes regiões do organismo, como os pulmões”, explica Vinolo.

Por fim, o artigo reforça o papel da microbiota intestinal no organismo e no sistema imunológico. Segundo Vinolo, é um recado para que as pessoas valorizem hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada e rica em fibras solúveis.

Fonte: Agência FAPESP.

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