Quem são as pessoas mais propensas a transtorno de imagem?
Pesquisadores brasileiros conseguiram identificar um conjunto de características que tornam uma pessoa mais propensa a algum transtorno mental relacionado à imagem corporal e à alimentação. De acordo com os cientistas, esses problemas afetam, sobretudo:
- Mulheres;
- Jovens;
- Consumidores de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal;
- Adeptos de dietas restritivas;
- Sedentários;
- Pessoas com diagnóstico de sobrepeso ou obesidade;
- Por fim, quem faz uma avaliação ruim da própria alimentação.
Perfis mais propensos a transtorno de imagem: entenda o estudo
O artigo final foi publicado na revista Environmental Research and Public Health. Para o trabalho, os pesquisadores aplicaram dois questionários relacionados aos temas “atenção à forma corporal”, “ansiedade física social” e “características pessoais dos participantes”.
Assim, a primeira etapa contou com 1.750 adultos brasileiros. Nela, foi identificado que, quanto mais os indivíduos dão atenção à forma corporal, mais propensos são a esperar uma avaliação negativa de sua forma física. Além disso, tendem a estar menos confortáveis com a apresentação física do corpo.
As características mais comuns entre os que apresentaram níveis elevados de atenção à forma corporal foram: sexo feminino, consumo de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal e realização frequente de dietas restritivas.
Já entre aqueles que apresentaram maior expectativa de avaliação negativa da forma física, os traços mais comuns foram: sexo feminino, ser considerado um jovem adulto, consumo de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal, sedentarismo, autoavaliação negativa da qualidade da alimentação e presença de sobrepeso ou obesidade.
Na segunda etapa do estudo, os pesquisadores avaliaram uma subamostra composta por 286 indivíduos submetidos a testes de bioimpedância. Os cientistas então perceberam que a composição corporal também influenciou a percepção em relação à forma física do corpo: as pessoas com maior quantidade de gordura e menor massa muscular foram as mais suscetíveis a problemas relacionados ao transtorno de imagem.
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Mas o que é um transtorno de imagem?
Lucas Miranda, médico dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que esse é um termo genérico usado para descrever uma série de condições psicológicas. Nelas, a pessoa tem uma percepção distorcida, negativa ou desproporcional da sua aparência física.
Os transtornos mentais geralmente relacionados à imagem costumam ser:
- Transtornos dismórficos corporais (TDC): “envolve uma preocupação excessiva com alguma imperfeição imaginária ou ligeira na aparência física, o que gera intensa ansiedade e sofrimento emocional”;
- Transtornos alimentares: “os transtornos alimentares, como a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar periódica, podem ser considerados transtornos de imagem, pois envolvem uma preocupação excessiva com o peso, a forma do corpo e a aparência física”;
- Transtornos relacionados à obesidade: “embora a obesidade seja uma condição médica, a estigmatização social pode levar a problemas psicológicos, incluindo ansiedade, depressão e baixa autoestima.”
O médico ainda afirma que, devido a esses transtornos, não são raros os casos de pacientes que chegam a considerar procedimentos estéticos e cirúrgicos desnecessários para corrigir o “problema”.
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Por que alguns perfis são mais propensos a desenvolver transtorno de imagem?
“Todos esses grupos, por questões diferentes, tendem a preocupar-se excessivamente com a aparência, e o próprio excesso de preocupação com a aparência, por si só, já predispõe ao surgimento de transtornos de imagem”, diz o Dr Lucas Miranda.
Segundo o especialista, para as mulheres, por exemplo, existe uma cobrança social muito ligada ao machismo e a construções irreais e idealizadas sobre o papel delas na sociedade.
Já os mais jovens estão em constante busca por aceitação e pertencimento, além de serem usuários bastante ativos de redes sociais — plataformas onde a cobrança pode ser ainda mais potente.
Por fim, “pessoas que usam suplementos ou substâncias com intuito de mudar a forma física estão explicitamente insatisfeitas com a aparência, então, acabam entrando nesse mesmo grupo”, conclui o médico.
No geral, ter uma insatisfação ou outra com relação ao próprio corpo não é algo grave. Contudo, o problema começa quando a fixação com a aparência atrapalha o dia a dia e traz consequências emocionais. “Daí a importância de um trabalho conjunto de médicos, psicólogos e nutricionistas, aliada a uma busca por autoaceitação, investigando as origens daquela questão.”
O papel dos médicos
Nesse sentido, os especialistas têm um papel fundamental no acolhimento do paciente. O dermatologista explica o que os profissionais devem fazer ao se depararem com uma possível situação de transtorno de imagem.
“É essencial que o profissional procure argumentar e mostrar aquilo que é possível dentro da realidade, recusando-se a realizar procedimentos ou cirurgias que não tenham indicação. Além disso, em alguns casos é importante incentivar que o paciente busque alguma ajuda, como uma terapia, sempre de uma forma humana e cuidadosa.”
Fonte: Lucas Miranda, médico dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e proprietário da Clínica Lucas Miranda.