Brasil não leva psicólogo para a Copa: há prejuízos?
Entre os especialistas presentes na comissão técnica da seleção brasileira na Copa, algumas pessoas sentiram falta de um psicólogo. Não é novidade: a última vez que os atletas receberam acompanhamento psicológico foi em 2014. Na época, houve um trabalho mais pontual do que a longo prazo — o que também não é indicado.
Mas afinal, qual a importância do apoio emocional em campeonatos esportivos? “O próprio técnico Tite está atuando como motivador e coach dentro da seleção brasileira. Isso tem um lado muito bom: colocar a equipe para frente e para cima. Contudo, o ponto negativo é que se o atleta tem um problema íntimo, ele pode se sentir constrangido de conversar com quem é ao mesmo tempo treinador e motivador”, explica a psicóloga Mara Leme Martins, PhD.
Por outro lado, ela diz que um psicólogo tem um código de ética a seguir, ou seja, a pessoa que o procura terá confidencialidade garantida e não será julgada — afinal, o profissional é treinado para isso. “A privacidade nesse momento é muito importante, é essencial separar os dois papéis para que o atleta tenha alguém de confiança para poder falar”, complementa.
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Seleção brasileira sem psicólogo: há riscos?
De acordo com Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC-SP, os jogadores vivem sob pressão, com muitas cobranças. “Rotina corrida, longas horas de treino, muitas vezes não conseguindo ter uma vida ‘normal’ e ficando longe da família e dos amigos”, diz.
Desse modo, se não houver uma boa rede de apoio emocional, esportistas de alto rendimento podem ficar mais vulneráveis a sintomas depressivos, ansiedade, pânico, vícios e outros transtornos, complementa a especialista.
“Os psicólogos conseguem ajudar no desempenho, no autocontrole, no rendimento, no foco, no raciocínio, na concentração, no trabalho em equipe e na disciplina. É muito mais difícil jogar quando o atleta não está bem emocionalmente — ele fica mais distraído, toma decisões erradas, entra em brigas com mais facilidade, é mais agressivo e pode, em alguns casos, ficar doente ou até desistir da carreira.”
Infelizmente, muitas vezes negligencia-se a saúde mental nesses momentos, mas ela atua em conjunto com a performance. “É sempre importante cuidar da alimentação, do sono, ter uma rotina equilibrada de exercícios e o equilíbrio da mente. Um atleta é mais do que seu corpo ou mais do que o treino que realiza. O jeito que ele encara o jogo, o sucesso, a derrota, a carreira e a vida influencia muito.”
Fontes: Mara Leme Martins, psicóloga PhD; e Vanessa Gebrim, psicóloga especialista em Psicologia Clínica pela PUC-SP.