Oncocercose: o que é, sintomas e tratamento
A oncocercose é uma doença popularmente conhecida como “cegueira dos rios” ou “doença do garimpeiro”. Neste artigo, contaremos tudo sobre essa enfermidade transmitida pela picada da mosca do gênero Simulium spp., ainda pouco conhecida. Então, saiba mais logo abaixo!
O que é oncocercose?
Para contar tudo sobre a oncocercose, conversamos com a DraVanessa Infante, infectologista do Hospital Santa Catarina (Paulista) e a Dra Luciana Galvão, infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
De acordo com a Dra Vanessa Infante, a oncocercose é uma doença parasitária causada pela infecção do nematódeo (verme) Onchocerca volvulus, que se instala no tecido subcutâneo das pessoas atingidas, e é mais comum em regiões tropicais.
Como ocorre a transmissão?
Segundo a infectologista do Hospital Santa Catarina (Paulista), a oncocercose é transmitida pela picada de moscas.
A Dra Luciana Galvão confirma que o parasita é transmitido ao ser humano pela mosca preta, borrachuda e fêmea, por meio da picada: “quando o parasita está no terceiro estágio larval”, acrescenta.
Quais são os sintomas da oncocercose?
De acordo com a infectologista, a Dr Vanessa Infante, os sintomas não aparecem por até um ou dois anos após a infecção.
“Quando surgem, os sintomas mais comuns são: infecções oculares, as quais podem levar à cegueira. Na pele, surgem erupções e inchaços subcutâneos. Além de coceira, inchaço dos gânglios ou vermelhidão nos olhos”, alerta.
Aliás, no Brasil e na América Latina, ocorre muito o comprometimento da cabeça, do pescoço, dos ombros e das extremidades superiores, além dos olhos.
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Sintomas oculares da oncocercose
A infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), Dra Luciana Galvão, informa que as principais manifestações clínicas são as alterações oculares:
- Ceratite (inflamação da córnea) aguda;
- Ceratite esclerosante (inflamação crônica da córnea e câmara anterior do olho);
- Uveíte (inflamação da câmara posterior do olho);
- Atrofia óptica (com lesão do nervo óptico);
- Por fim, oncorretinite.
Portanto, a especialista lembra que a doença pode causar déficit visual parcial e transitório (em casos de diagnóstico e tratamento precoces) ou até cegueira.
Sintomas da oncocercose na pele
As principais manifestações na pele são nódulos subcutâneos (a maioria não é palpável).
“Esses nódulos correspondem à presença dos vermes adultos (as fêmeas que ficam encapsuladas à espera da fertilização pelos machos). Somente de 10 a 12 meses depois da infecção inicial é que fêmea adulta começa a produzir as microfilárias (prole), que migram para o tecido subcutâneo e eventualmente para todas as outras partes do corpo”, informa a Dra Luciana Galvão.
Qual exame detecta oncocercose?
A Dra Luciana Galvão informa que a biópsia de pele (da região escapular, da crista ilíaca e da panturrilha) é o exame mais eficaz para identificar a doença, principalmente quando há o aparecimento de nódulos ou prurido.
“A biópsia revela a presença de microfilárias móveis. O teste cutâneo de Mazzotti, por outro lado, pode ser utilizado em algumas circunstâncias”, comenta.
Além dos citados acima, a sorologia (pesquisa de anticorpos), teste de antígeno (do parasita) e reação em cadeia da polimerase (PCR) são algumas ferramentas, embora não estejam disponíveis em todos os locais do país. “Somente laboratórios específicos de referência os realizam”, comenta.
Por fim, o ultrassom dos nódulos subcutâneos pode ser útil para identificar os vermes adultos.
Como é feito o tratamento?
A infectologista consultada informa que a base é o tratamento da microfilária (prole), feito com o medicamento Ivermectina (dose única). “O uso deve se repetir a cada 3 ou 6 meses até que o paciente esteja assintomático. Mas o tempo de tratamento pode durar 10 anos ou mais”, diz. O tratamento da microfilária tem como alvo a bactéria Wolbachia, que vive em simbiose com o verme adulto.
Já o remédio doxiciclina tem atividade contra a Wolbachia e induz a esterilidade sustentada do adulto verme fêmea. A dose é variável, mas o tempo de uso deve ser de pelo menos seis semanas.
“A doxiciclina não pode ser utilizada no tratamento em áreas de transmissão contínua, pois novas infecções exigiriam cursos repetidos dessa medicação. Nessa circunstância, doses repetidas da Ivermectina constituem a melhor abordagem. Crianças receberão esquema alternativo”, menciona.
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Como fazer a prevenção da oncocercose?
Infelizmente, não há vacina para a prevenção da oncocercose. Contudo, programas internacionais com presença da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Banco Mundial e de colaboradores internacionais operam em áreas de incidência.
Assim, a médica do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) informa que a utilização de larvicida aéreo em rios para controle de vetores, associada à distribuição de Ivermectina a cada 6 meses, com meta de cobertura de pelo menos 85% da população local, são as bases para controlar a doença.
Lembrando que a transmissão ativa ainda é presente na fronteira do sul da Venezuela e no noroeste do Amazonas no Brasil, floresta tropical onde pessoas Yanomami moram. Nessa região, utiliza-se o tratamento trimestral com Ivermectina.
Além disso, a Dra Luciana Galvão comenta que o Projeto Especial Expandido para a Eliminação de Doenças Tropicais Negligenciadas foi estabelecido em 2016 para controle de doenças tropicais negligenciadas, incluindo as oncocercoses. A meta inclui a eliminação das filarioses em 2020, e das oncocercoses em 2025.
Fonte: Dra.Vanessa Infante, infectologista do Hospital Santa Catarina (Paulista). Dra. Luciana Galvão, infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).