Obesidade infantil: Causas, riscos e como prevenir o problema
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 41 milhões de crianças com menos de cinco anos estão acima do peso. Para 2025, a projeção é que o número chegue a 75 milhões, abrangendo países desenvolvidos e em desenvolvimento — como o Brasil. Não por acaso, é importantíssimo que falemos sobre a obesidade infantil.
Recentemente, a pandemia causada pela Covid-19 agravou ainda mais o cenário que já era preocupante. Isso porque as crianças passaram praticamente dois anos menos ativos do que nunca, devido ao isolamento social. Para se ter uma ideia, um estudo realizado pela companhia de tecnologia SuperAwesome, nos Estados Unidos, apontou que crianças de 6 a 12 anos passam cerca de 50% de seus dias mexendo em telas atualmente. Contudo, o recomendado para a faixa etária é de apenas duas horas.
Esse hábito contribui para o sedentarismo, uma das causas da obesidade infantil. Saiba mais sobre ela:
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Obesidade infantil no Brasil
No Brasil, os dados sobre obesidade infantil caminham no mesmo sentido: uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos de idade está acima do peso, de acordo com o IBGE. Além disso, 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos têm obesidade.
Mais especificamente, as notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, de 2019, revelam que:
- 16,33% das crianças brasileiras entre cinco e dez anos estão com sobrepeso, sendo 9,38% com obesidade e 5,22% com obesidade grave;
- Em relação aos adolescentes, 18% apresentam sobrepeso, 9,53% têm obesidadee 3,98% têm obesidade grave.
O problema é muito presente em regiões que enfrentam dificuldades econômicas, justamente porque a falta de recursos aumenta as taxas de insegurança alimentar, ou seja, dificulta o acesso a um cardápio completo e equilibrado. Ademais, as mudanças nos hábitos das pessoas nas últimas décadas (que passaram a priorizar os alimentos industrializados) também contribuíram para a questão.
Afinal, o que é obesidade infantil?
De acordo com a endocrinologista pediatra Fernanda Lopes, do Exame Imagem e Laboratório/Dasa, a obesidade infantil é uma doença causada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal na criança.
Muitos testes conseguem identificá-la, entre eles o método das dobras cutâneas, a ressonância magnética, a densitometria e a bioimpedância elétrica. No entanto, o mais comum é o cálculo do IMC (índice de massa corporal).
Para isso, você deve dividir o peso (em quilogramas) da criança por sua altura (em metro) ao quadrado. Depois, relacionar o resultado com a idade do pequeno:
- 6 anos: o valor do IMC considerado normal varia em torno de 14,5;
- 7 anos: IMC normal é 15;
- 8 anos: IMC normal é 15,6;
- 9 anos: IMC normal é 16,3;
- 10 anos: IMC normal é 17;
- 11 anos: IMC normal é 17,6;
- 12 anos: IMC normal é 18,3;
- 13 anos: IMC normal é 18,9;
- 14 anos: IMC normal é 19,3;
- 15 anos: IMC normal é 19,9.
Vale lembrar que esses são valores aproximados, e que podem variar de acordo com o sexo. Sem contar que devem ser consideradas outras características para o diagnóstico de obesidade infantil, como a porcentagem de gordura abdominal (verificada por meio da medida da circunferência da cintura). Desse modo, somente um médico especialista saberá fazer isso de modo correto.
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Quais as causas da obesidade infantil
As causas da obesidade infantil são muitas. A começar pela gestação da mãe. O aumento exagerado de peso na gravidez, bem como o diabetes gestacional, contam como fatores de risco para o problema no filho.
“Além disso, a doença pode ser hereditária. Alguns estudos sugerem que crianças com pais com obesidade têm 80% de chance de se tornarem adultos igualmente com a doença. Esse percentual cai pela metade quando apenas um dos pais possui a condição. Já em casos de pais magros, o risco reduz para cerca de 10%”, explica a nutricionista Dayse Paravidino.
Alimentação inadequada, sedentarismo, desequilíbrios hormonais e síndromes raras estão entre outras explicações da obesidade infantil.
Já em relação a fatores externos, alerta-se sobre o contato com a tecnologia que se dedica ao consumo infantil. A endocrinologista Cristiane Kochi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), explica que “propagandas infantis de alimentos inadequados, com alto valor calórico e sem valor nutricional, têm impacto no comportamento de consumo das crianças”. Portanto, é preciso atenção ao que elas estão vendo nas telas.
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Riscos
Segundo Dayse, o sobrepeso e a obesidade infantil podem acarretar em:
- Maior predisposição à síndrome metabólica, podendo gerar diabetes tipo 2;
- Doenças cardiovasculares;
- Aumento do risco de dislipidemia (excesso de gordura no sangue);
- Síndrome dos ovários policísticos em meninas;
- Apneia do sono;
- Esteatose hepática (gordura no fígado);
- Algumas neoplasias (câncer).
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É possível prevenir?
Sim! De acordo com Carla, a prevenção contra a obesidade começa com o aleitamento materno. Acredita-se que a cada mês da amamentação, reduz-se em 4% o risco da criança desenvolver a doença. No entanto, também é preciso levar em consideração a alimentação da lactante. “Por exemplo, a gordura trans passa pelo leite materno”, detalha a endocrinologista. Sendo assim, é necessário que o momento de nutrição do bebê seja combinado com um cardápio saudável na rotina da mãe.
Já a melhor maneira de prevenir a obesidade infantil entre os maiores é mudando o estilo de vida da família toda — já que as crianças tendem a seguir os passos dos adultos. “É recomendado que elas sempre brinquem ativamente, e não sentadas ou em frente às telas. Não é necessário matricular o/a filho/a em algum esporte, mas ele precisa correr, se exercitar, se mexer e pegar sol”, recomenda a endocrinologista Fernanda Lopes.
Além disso, ficar de olho no cardápio é essencial não só para prevenir a obesidade infantil, mas também para garantir a saúde e o bem-estar do pequeno. “Daí a importância em evitar alimentos industrializados, gordurosos e doces. O açúcar antes dos 2 anos de idade vicia o paladar da criança. Depois, um docinho eventual pode ser tolerado, desde que não vire um hábito no dia a dia”, diz a nutricionista.
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Pequenos cuidados, grandes diferenças
Por fim, Dayse também aconselha os pais a:
- Investirem em frutas, legumes e vegetais no geral;
- Preferirem os alimentos integrais aos refinados;
- Não oferecerem com frequência biscoitos recheados, mingaus prontos bem como doces ricos em açúcar, sódio e gorduras;
- Evitarem sucos industrializados ou sucos integrais para menores de 1 ano de idade — opte pelas frutas in natura;
- Escolherem locais com opções mais saudáveis quando sair em vez de fast-foods;
- Não forçarem a criança a comer sem que ela tenha vontade.