Gordura interesterificada é usada para substituir gordura trans. Será que ela é saudável?
Poucas pessoas conhecem a gordura interesterificada, mas a maioria já ingeriu a substância sem nem saber. A verdade é que essa gordura foi criada pela própria indústria alimentícia como substituta da gordura trans, que é prejudicial à saúde humana se consumida em grandes quantidades. Mas será que a nova alternativa é saudável? Veja o que os estudos iniciais dizem a respeito do assunto:
Como é feita a gordura interesterificada?
A gordura interesterificada é produzida a partir de um rearranjo das moléculas presentes nos óleos vegetais, o que altera as propriedades químicas e físicas dos triglicerídeos (gorduras). Basicamente, mistura-se uma gordura saturada com um óleo vegetal líquido, gerando um terceiro óleo endurecido e livre de gordura trans.
Apesar de sua composição ser diferente, a gordura interesterificada age da mesma forma que a trans: deixa o alimento mais crocante, saboroso e com maior vida útil.
Explicações para a sua criação
Esse tipo de lipídio passou a ser estudado e produzido pelas empresas de alimentos justamente porque órgãos e instituições de saúde começaram a fazer alertas a respeito dos malefícios da gordura trans. A própria Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, criou o programa Replace Trans Fat, cujo objetivo é incentivar a eliminação da substância até 2023.
Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2019 uma resolução que determina a eliminação da gordura trans nos alimentos industrializados no Brasil. Assim, as empresas teriam que reduzir a utilização até julho de 2021, e não poderão mais usá-la definitivamente a partir de 2023.
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Onde encontrar a gordura interesterificada?
Principalmente nas margarinas, mas você também ingere a gordura interesterificada quando come batatas chips, pipoca de micro-ondas, congelados prontos para fritar, maionese, sorvete, bolachas, biscoitos e pães industrializados.
O que dizem os estudos
Em humanos, estudos sobre o consumo dessas gorduras são limitados com resultados ainda controversos, principalmente devido à falta de informação nos rótulos de alimentos. Além disso, diversos tipos de ácidos graxos podem ser usados na sua formação, dificultando a comparação dos resultados obtidos. Mas conclusões iniciais já apontaram que a gordura interesterificada pode ser prejudicial para pessoas com sobrepeso que já têm problemas como colesterol e triglicerídeos altos.
Em ratinhos, algumas pesquisas indicaram que esse lipídio é capaz de aumentar os níveis de glicose (açúcar) no sangue e prejudicar a ação da insulina, hormônio responsável por equilibrar essas taxas. Sem contar que os cientistas também observaram um aumento do colesterol ruim (LDL), uma redução no bom (HDL) e uma espécie de resposta inflamatória no corpo dos animais — fator de risco para aterosclerose, isto é, acúmulo de gordura nas artérias.
Ou seja: ainda é muito cedo para dizer se a gordura interesterificada é melhor que a trans. De qualquer forma, o ideal é reduzir o consumo de alimentos industrializados como um todo a fim de cuidar da saúde.
Referências: Alfieri A, Imperlini E, Nigro E, et al. Effects of Plant Oil Interesterified Triacylglycerols on Lipemia and Human Health. Int J Mol Sci, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5796054/.
Miyamoto JE, Ferraz ACG, Portovedo M, et al. Interesterified Soybean Oil Promotes Weight Gain, Impaired Glucose Tolerance and Increased Liver Cellular Stress Markers, The J Nutr Biochem, 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30005920/.