Fórmulas infantis podem criar bactérias resistentes a antibióticos

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24 de Novembro, 2021
Fórmulas infantis podem criar bactérias resistentes a antibióticos

Bebês alimentados com fórmulas infantis teriam um risco maior de desenvolver infecções bacterianas sem antibióticos capazes de curá-los. É o que diz um estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos e finlandeses. Os resultados mostraram que em comparação com os recém-nascidos que receberam apenas o leite materno, os bebês com a fórmula apresentaram quase 70% mais genes resistentes aos medicamentos carregados por bactérias intestinais. 

Dessa forma, para chegar a essa conclusão, a pesquisa partiu de uma análise dos genes das bactérias presentes no intestino de 46 bebês prematuros. Com esses dados, os cientistas criaram um modelo estatístico para determinar o impacto da dieta na carga de genes resistentes aos antibióticos. Além disso, o validaram com 242 análises genômicas intestinais obtidas via bancos de dados públicos.

Os bebês alimentados com fórmula também apresentaram um volume significativamente menor de bactérias infantis típicas, como as bifidobactérias, que apresentam potenciais benefícios à saúde.

“Nossas hipóteses eram que a dieta causava uma pressão seletiva que influenciaria a comunidade microbiana no intestino infantil, e a exposição à fórmula poderia aumentar a abundância das linhagens que carregam ARGs”, destacam os autores do estudo, publicado no periódico científico American Journal of Clinical Nutrition, da Sociedade norte-americana de Nutrição.

Confira a conversa da Agência Einstein com Almeida:

Por que alimentar um bebê com fórmulas infantis é um fator de risco?

Quando pensamos em alimentação do ser humano, não podemos pensar somente na importante dimensão das proteínas, vitaminas e sais minerais. Alimentar desde a tenra idade é alimentar para a vida. Dessa forma, os primeiros mil dias são fundamentais para o desenvolvimento e crescimento do ser humano, assim como os seis primeiros meses são decisivos na construção orgânica do sujeito na vida adulta.

No microbioma do leite humano, por exemplo, existem bactérias que sintetizam um conjunto de enzimas capazes de interferir no metabolismo do colesterol circulante no sangue. Essa dinâmica sendo estabelecida nos primeiros seis meses de vida terá relação direta com a diminuição do risco na vida adulta de intercorrências de doenças cardiovasculares. Também é importante lembrar que não por si só, mas é um fator importante quando associado a outras questões.

Existe uma ecologia em torno dos seres vivos, e essas bactérias ecologicamente equilibradas trazem um conjunto de benefícios ao recém-nascido. Ingerir um alimento que não o leite humano desequilibra o ecossistema. Além disso, traz um conjunto de outras bactérias que são desenhadas para cumprir uma função em outro local que não no tubo intestinal.

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Combinar fórmulas infantis com o leite materno poderia gerar outro resultado?

Aí passamos para o campo da inferência. Mas minha opinião particular é que, com base em outros estudos, à medida que desloca esse desequilíbrio da microbiota intestinal na direção do que deveria ter sido desde o início, ou seja, com a microbiota do leite humano, a tendência é que a microbiota do leite humano tente se sobrepor à não humana. É o que se espera. Mas vai depender de uma quantidade suficiente de leite humano para garantir que esse desequilíbrio não se estabeleça, sobretudo em recém-nascidos mais vulneráveis, que são os prematuros. Neste caso, só podemos pensar na alimentação com leite humano.

O cenário de resistência bacteriana pode ser ainda pior no futuro, pensando em bebês alimentados exclusivamente por fórmula nos seis primeiros meses de vida?

A resistência bacteriana é extremamente preocupante porque as bactérias que causam infecções de garganta, ouvido, nariz, por exemplo, são tratadas com antibióticos. A fórmula infantil pode trazer um enorme fator de risco para o quadro clínico daquela criança. O combate da infecção será extremamente complicado.

É necessário realizar mais pesquisas

Apesar de não ser um estudo conclusivo, João Aprígio Guerra de Almeida, coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), sediada na Fiocruz, explica que o trabalho aponta para uma tendência já esperada. “Precisamos avançar com outras pesquisas, mas é uma evidência mais que suficiente para chamar a atenção para o fato de que esses desvios alimentares são fatores de risco”, explica o especialista, que é também vencedor do Prêmio Memorial Dr. Lee Jong-wook de Saúde Pública 2020, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pelo trabalho de promoção do aleitamento materno no mundo.

(Fonte: Agência Einstein)

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