Doença de Alzheimer: o que é, sintomas, causas, tratamento e mais

Saúde
13 de Setembro, 2022
Doença de Alzheimer: o que é, sintomas, causas, tratamento e mais

Lapsos de memória, dificuldade para se lembrar de acontecimentos recentes, regressão na fala, perda da autonomia. Estes são alguns dos sintomas dos estágios da doença de Alzheimer, uma condição degenerativa que provoca danos irreversíveis no sistema nervoso e cérebro. Embora seja alvo de inúmeras pesquisas no campo da ciência, o Alzheimer ainda é um mistério sobre causas e tratamentos capazes de frear a doença efetivamente. A seguir, saiba tudo sobre o transtorno, desde os primeiros sinais aos cuidados imprescindíveis.

Veja também: Alimentos que reduzem o risco de Alzheimer e demência

O que é a doença de Alzheimer?

Certamente você já teve algum tipo de contato com a enfermidade, mesmo que pela televisão: vez ou outra, a doença é destaque de algum filme ou obra literária. Exemplo do brilhante e recente Meu Pai, estrelado por Anthony Hopkins e Olivia Nelman. Na trama, Hopkins dá vida a um homem de 81 anos com a doença de Alzheimer, e retrata o sofrimento de ambas as partes — do paciente e da família.

Outra obra especialmente dedicada ao distúrbio é Para Sempre Alice, com a atriz Julianne Moore, que interpreta uma mulher de sucesso que se vê perdida com o diagnóstico da demência. São inúmeros os filmes e livros com a temática, que inspira reflexão e atenção do público. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a doença afete 37 milhões de pessoas pelo mundo. Apesar dos estudos promissores, a previsão é que a incidência chegue a 115 milhões até 2050.

Mas, o que é a doença de Alzheimer? Descoberta há mais de 100 anos, a condição e é um tipo de demência que compromete a memória, a linguagem, o comportamento, os movimentos e as funções básicas (engolir, evacuar e urinar, por exemplo). Em síntese, o Alzheimer sequestra a independência da pessoa e a capacidade de se lembrar como é viver.

Quais são as causas?

Talvez esta seja a pergunta mais valiosa para a ciência. Afinal, não há uma resposta definitiva para a degradação dos neurônios. No entanto, pesquisadores e cientistas creem em fatores de risco, como a predisposição genética à enfermidade. Ou seja, ter antecedentes na família podem contribuir para a continuidade da doença. Além disso, o Alzheimer possui forte relação com o envelhecimento: a maioria dos pacientes possui idade avançada, cujos primeiros sinais surgem por volta dos 65 anos.

Há casos mais raros de Alzheimer precoce, que pode se manifestar a partir dos 40 anos. Dados mais recentes divulgados pela Mayo Clinic, um dos maiores centros hospitalares e de pesquisa dos EUA, mostram que 6% das pessoas apresentam sintomas nessa faixa etária.

Outras possíveis causas

Embora ainda sejam hipóteses, a medicina tem observado os efeitos do estilo de vida e de outras doenças que engatilham o Alzheimer:

  • Tabagismo, sedentarismo, estresse e alimentação inadequada.
  • Histórico de traumas e lesões cerebrais e na cabeça.
  • Diabetes, colesterol elevado e hipertensão.
  • Infecções como a do herpes simples, que geralmente causa feridas nos lábios e no rosto.

Mecanismo da doença de Alzheimer

Já falamos que a doença de Alzheimer é basicamente a destruição das células do sistema nervoso, os neurônios. Mas de que forma isso ocorre? Os neurônios produzem uma proteína chamada beta-amiloide, que se agrupa formando vários pequenos nódulos que se concentram no cérebro.

Mychael Lourenço, professor do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, realizou diversos estudos e sobre o Alzheimer e explica que as partes menores do beta-amiloide se espalham pelo cérebro. Assim, atacam as áreas de contato entre os neurônios. Em outras palavras, os próprios neurônios criam um inimigo contra eles mesmos. Como resultado, as sinapses e a comunicação dos neurônios são prejudicadas, levando ao desgaste do sistema nervoso.

No entanto, as placas de beta-amiloide não são necessariamente um motivo para desencadear o Alzheimer. Por mais que seja uma característica marcante da enfermidade, a ciência apontou que existem pessoas com alta dosagem da proteína no cérebro, mas não possuem demência. Estes pacientes possuem o que pesquisam chamam de “cérebros resilientes”.

Novamente, a medicina permanece debruçada sobre possíveis caminhos para a chave do Alzheimer. Agora, o foco é investigar melhor estruturas menores do sistema nervoso, como os oligômeros, que trazem alterações químicas nas sinapses dos neurônios.

Sintomas e estágios da doença de Alzheimer

O processo degenerativo do Alzheimer possui quatro estágios, que se dividem segundo os sintomas:

Estágio I

Os episódios de esquecimento começam a se tornar mais frequentes. A princípio, a pessoa não se recorda de acontecimentos recentes, esquece nomes, pode trocar palavras. Nessa fase, as mudanças de comportamento dão as primeiras evidências, além da redução da capacidade de enxergar, da noção de espaço e equilíbrio. Todos estes sintomas são mais leves, e se agravam conforme a progressão da doença.

Estágio II

São os mesmos do primeiro, mas mais recorrentes. A pessoa também passa a ter mais dificuldades para falar e manter a coordenação motora. Confusão mental, dificuldades para dormir e ansiedade são adicionados à lista.

Estágio III

Considerada a forma grave do Alzheimer, o paciente enfrenta o rápido avanço da falência neurológica, com incontinência urinária, fecal, impossibilidade de se movimentar sozinho, problemas para comer e engolir as refeições e ampliação da perda da memória. Nesse momento, a pessoa vai perdendo a noção de reconhecer familiares, amigos e outros membros de seu convívio. Um comportamento corriqueiro de quem convive com o Alzheimer é se perder em trajetos simples, como do banheiro até a cozinha. Por isso, é importante contar com o apoio de outras pessoas, inclusive profissionais, para dar o acolhimento necessário.

Estágio IV

É a fase terminal da doença de Alzheimer. Nela, o indivíduo permanece em estado vegetativo: não fala, não se lembra de mais nada nem ninguém e precisa ficar na cama. Tomar banho, se alimentar, se vestir, dentre outras coisas básicas, exigem auxílio de cuidadores e outros responsáveis. Com o colapso do sistema nervoso, a imunidade torna-se frágil e a pessoa adoece com facilidade e pode falecer por complicações diversas.

Diagnóstico da doença de Alzheimer

A princípio, o diagnóstico da doença é similar ao de outros tipos de demência. Para identificar o Alzheimer, o médico precisa fazer a análise clínica do paciente, que inclui o estudo do histórico de saúde e dos sintomas. A seguir, o profissional aplica testes que colocam em prática a capacidade mental, como o desenho de um relógio, escrever e falar algumas frases, entre outros. Por fim, os exames laboratoriais e de imagem ajudam a fechar o diagnóstico.

Tomografia computadorizada, ressonância magnética do encéfalo, biópsia do líquido cefalorradiquiano do cérebro são algumas avaliações específicas que auxiliam na confirmação da doença. Já os exames de sangue descartam ou incluem a possibilidade de outras doenças que afetam a memória, como hipotireoidismo, HIV, depressão etc.

Além disso, o médico utiliza outros parâmetros que ajudam a diferenciar delírio de demência e testes mais complexos, como os neuropsicológicos, que podem durar horas, mas abrangem todas as funções principais do cérebro.

Tratamento

Os cuidados com uma pessoa com Alzheimer são muitos, mas o principal no dia a dia é a paciência e o suporte incondicional. Na parte clínica, os medicamentos que melhoram a função mental podem ser úteis para retardar a evolução do quadro. Em contrapartida, a eficácia depende do estágio e do nível de degeneração do sistema nervoso.

Medicamentos para doença de Alzheimer

Veja algumas substâncias que fazem parte do tratamento de controle:

Inibidores de colinesterase: donenpezila, galantamina e rivastigmina, que fortalecem a memória e a concentração. São mais utilizados durante a primeira e segunda fases da doença.

Memantina: possui efeito similar dos inibidores acima, mas por ser mais potente, é administrada nos estágios mais graves do Alzheimer.

Aducanumabe: é o fármaco mais novo contra a enfermidade. Ao contrário dos demais medicamentos, sua forma é injetável e a aplicação deve ser mensal. O componente é um anticorpo que combate o beta-amiloide, a proteína que se acumula no cérebro de pacientes com a condição. Dessa forma, ele pode regredir significativamente o desenrolar da doença. Em contrapartida, esse medicamento tem sido criticado pela comunidade científica, pois ele possui uma participação pequena na melhoria do paciente e uma lista de efeitos colaterais.

Rotina e segurança são fundamentais

Independentemente do estágio da doença de Alzheimer, a pessoa precisa de cuidados e suporte desde o início. Além do tratamento com medicamentos e acompanhamento médico, o paciente necessita de familiares e cuidadores para auxiliá-lo no dia a dia. Um aspecto importantíssimo é o ambiente onde a pessoa com Alzheimer vive.

Ele precisa ser iluminado, limpo, seguro e com o mínimo de obstáculos para a pessoa se locomover. Ainda que o espaço seja pequeno, uma dica é sinalizar o nome dos cômodos e outros lembretes para ajudar, pois que é comum o esquecimento de coisas simples. “Apague a luz”, “feche a porta”, “tome o remédio” são exemplos básicos, mas que podem fazer a diferença.

Estabelecer uma rotina fixa, com banho, alimentação, lazer e descanso melhoram o bem-estar. Se houver assiduidade nessas tarefas, o paciente consegue ter mais qualidade de vida que contribui para o sono e a estabilidade emocional.

Diálogo e compreensão

Com o passar do tempo, é esperado que a pessoa tenha mudanças no comportamento, que oscila entre a docilidade e a agressividade. Por isso, quem cerca o paciente precisa saber que isso é uma consequência da doença e manter a paciência e o carinho no relacionamento. Então, estimular o diálogo, usar uma linguagem simples e didática facilita a compreensão da pessoa com Alzheimer, que vai perdendo a capacidade de assimilar informações.

Exercícios para Alzheimer

Incentivar a prática de outras modalidades, como a musculação, auxiliam a fortalecer o equilíbrio e a musculatura, que são bastante afetados pelo progresso da doença. É claro que o movimento está relacionado à limitação da pessoa, e deve ser supervisionado por um profissional de educação física experiente. Em casos cuja mobilidade já está bem reduzida, incluir sessões de fisioterapia e exposição diária ao sol colaboram para a saúde.

Alimentação para a doença de Alzheimer

Provavelmente o universo da alimentação é um dos mais explorados no campo do Alzheimer. Não à toa, o que comemos influencia diretamente a nossa saúde. Um estudo publicado em 2020 na revista Neurology descobriu que dietas ricas em flavonoides, antioxidante que atua contra os radicais livres e a inflamação do organismo, podem reduzir o risco de demência de Alzheimer mais tarde na vida. 

Os flavonoides são derivados de fitoquímicos encontrados em frutas, legumes e verduras, com propriedades anti-inflamatórias e de combate a doenças. Portanto, seguir uma dieta com variedade nesses alimentos pode ajudar a prevenir a condição. Todavia, faltam pesquisas que comprovem a melhoria da doença pelo consumo de determinados alimentos e cardápios.

Para quem já possui o diagnóstico do Alzheimer, terá ou tem dificuldades para comer e engolir, devido ao declínio das funções motoras. Nesse caso, a dieta do paciente precisa conter alimentos de fácil digestão, servidos em pequenos pedaços ou de forma pastosa. Além disso, a suplementação torna-se essencial para evitar deficiência nutricional, e mais refeições em porções menores para prover as necessidades.

Perguntas frequentes

Dá para prevenir a doença de Alzheimer?

Muitas pesquisas relacionam a vida saudável à prevenção do Alzheimer. Logo, ter hábitos como alimentação equilibrada, sem vícios, com exercícios regulares e descanso adequado podem minimizar as chances da demência. Entretanto, não são apenas os cuidados com o corpo que contam: ser mentalmente ativo e aprender assuntos novos fortalecem o sistema nervoso e estimulam a formação de novas sinapses (conexões) neurais. Controlar as doenças existentes, como hipertensão e diabetes, é igualmente essencial não só contra complicações como o Alzheimer, mas de outros problemas de saúde.

Quem tem mais riscos de ter Alzheimer?

Ainda não há uma resposta definitiva sobre os fatores de risco, que vão desde genética a histórico de traumas no cérebro. Mas a incidência da doença é maior em mulheres, e a possível resposta para isso está nos hormônios. Principalmente na menopausa, que provoca um recesso relevante na produção hormonal, o que justificaria a maior recorrência entre o público feminino.

Qual a diferença entre memória fraca e Alzheimer?

Antes de mais nada, a memória fraca não é uma doença degenerativa como o Alzheimer. As alterações na memorização de eventos e aprendizados são reversíveis. Mudanças no estilo de vida, como ajuste do sono e exercícios que estimulam a memória ajudam a reverter o problema. Por outro lado, o Alzheimer é uma enfermidade complexa, com uma série de sintomas e fases, e sem cura.

A doença de Alzheimer é tratada pelo SUS?

O Sistema Único de Saúde (SUS) possui recursos para diagnosticar e oferecer o tratamento de suporte ao paciente com Alzheimer. De acordo com o Ministério da Saúde, o sistema fornece: donepezila, galantamina, rivastigmina e memantina.

Quanto tempo dura o progresso da condição?

Não há uma regra para o avanço do Alzheimer. Se o diagnóstico ocorre nos primeiros estágios, a pessoa tem mais alguns anos de lucidez e autonomia. Há quem viva por anos com os sintomas controlados, enquanto fases terminais duram apenas meses.

Quais médicos podem identificar e acompanhar a doença?

Neurologistas e geriatras são os principais especialistas no manejo da condição. Contudo, psiquiatras, psicoterapeutas, fisioterapeutas, cuidadores e outros profissionais também participam da jornada do paciente.

Referências: Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ); Alzheimer’s Society; MSD Manuals; Ministério da Saúde; UFRJ; e Alzheimer’s Association.

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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