Crise de ansiedade coletiva: o que é e possíveis causas

Bem-estar Equilíbrio
12 de Abril, 2022
Crise de ansiedade coletiva: o que é e possíveis causas

Recentemente, 26 alunos de uma escola estadual em Recife, Pernambuco, passaram mal e precisaram de atendimento médico. Os jovens relataram falta de ar, tremores e choro intenso, e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) classificou o caso como uma crise de ansiedade coletiva. Mas afinal, o que é isso e quais as possíveis causas?

Crise de ansiedade coletiva: o que é?

A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) do Governo Federal afirma que a ansiedade é um fenômeno natural dos seres humanos que pode nos beneficiar ou nos prejudicar.

Isso porque quando saudável, a ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação. Contudo, dependendo da circunstância e da frequência, ela pode se tornar patológica, prejudicando o funcionamento físico e mental e deixando a pessoa incapacitada.

Quando os sintomas são muito fortes e presentes, a pessoa pode ser diagnosticada com transtorno de ansiedade: as preocupações, as tensões ou os medos são constantes, com picos eventuais, ou seja, crises — que envolvem sintomas como tremedeiras, suor excessivo, dores de cabeça, problemas no estômago e náuseas, inquietação, irritabilidade, dificuldade de concentração, entre outros. O tratamento envolve o uso de medicamentos e a psicoterapia.

De acordo com especialistas, uma crise de ansiedade coletiva como a que aconteceu em Recife não é tão comum, mas pode acontecer e ser desencadeada por diversos fatores.

Crise de ansiedade coletiva: saúde mental de jovens piorou durante a pandemia

Uma revisão recente de 29 pesquisas concluiu que os sintomas de depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes dobraram após o início da pandemia de Covid-19. O trabalho, que reuniu dados de mais de 80 mil jovens com 18 anos ou menos de diversos países, foi publicado no respeitado periódico científico JAMA Pediatrics.

Antes da pandemia, levantamentos sugeriam que sintomas depressivos eram comuns a 12,9% desse grupo. Já durante a crise do coronavírus, essa taxa subiu para 25,2%. Os sinais ansiosos, por sua vez, aumentaram de 11,6% para 20,5%.

Só é importante destacar que sintomas depressivos ou ansiosos não são sinônimo de depressão ou transtorno de ansiedade generalizada. Isso porque esse diagnóstico depende de vários critérios, e é individualizado. Na revisão, os pesquisadores sugerem que a falta de convívio social, o aumento do estresse na família e a limitação de certas atividades estão entre as hipóteses para a piora no bem-estar mental.

Leia também: Crianças na internet: como equilibrar o uso do celular e protegê-las

Uso excessivo da internet contribui para sentimentos de ansiedade e insatisfação

As crianças e os adolescentes estão cada vez mais ativos na internet e nas redes sociais. Por um lado, essas ferramentas fornecem o acesso à informação e a aproximação com diferentes culturas e realidades. Contudo, o uso exagerado dos dispositivos eletrônicos pode sim trazer consequências negativas para a saúde mental, principalmente quando se trata de jovens.

Para o neurocientista Fabiano de Abreu, o Brasil tem as maiores taxas de ansiedade do mundo, e as redes sociais, muitas vezes, potencializam o sentimento. “Excesso de ansiedade conduz à necessidade de sensações de prazer, que são mais fáceis de serem exploradas nas redes sociais. Mas este ciclo de recompensa e ansiedade acentua-se mais, já que, para buscar novas e melhores sensações, a ansiedade torna-se constantemente acionada”, afirma.

O que fazer?

Por isso, é fundamental que os pais monitorem as atividades dos filhos nas mídias sociais. Isso porque, muitas vezes, a criança ou o adolescente não sabe expressar seus sentimentos, guardando tudo para si. Confira outras dicas:

  • Estabeleça limites razoáveis: converse com seu filho sobre como evitar que as mídias interfiram em suas atividades de higiene, sono, alimentação, interação com a família ou deveres de casa;
  • Incentive uma rotina saudável na hora de dormir, evitando o uso de dispositivos eletrônicos: se possível, mantenha celulares e tablets fora dos quartos — dê o exemplo seguindo a essa regra você mesmo;
  • Explique o que não está bem: desencoraje seu filho a fofocar, espalhar boatos, intimidar ou prejudicar a reputação de alguém, seja de modo online ou não. Converse sobre o que é apropriado e seguro compartilhar nas redes sociais;
  • Incentive o contato cara a cara com os amigos: isso é muito importante para crianças e adolescentes vulneráveis ​​ao transtorno de ansiedade social;
  • Fale sobre redes sociais: converse sobre seus próprios hábitos de mídia social. Assim, pergunte ao seu filho como ele está usando as mídias sociais e como isso o faz se sentir;
  • E mais: se você acha que seu filho está apresentando sinais ou sintomas de ansiedade ou depressão relacionados ao uso da internet, procure ajuda especializada.

Fonte: Dr Fabiano de Abreu Agrela, PhD em neurociências, mestre em psicologia e biólogo. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler e chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International.

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