Compostos bioativos combatem doenças crônicas, mas são pouco consumidos no Brasil
Uma pesquisa de doutorado conduzida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) revelou que a ingestão de compostos bioativos pela população brasileira é muito baixa.
Presentes em alimentos de origem vegetal (frutas, hortaliças, leguminosas e cereais, por exemplo), os compostos bioativos dos alimentos não são tão importantes para o organismo humano como os nutrientes essenciais. Mas, com o consumo contínuo e em quantidades significativas, conferem vários benefícios à saúde por meio de suas ações antioxidante, anti-inflamatória, vasodilatadora e anticarcinogênica.
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Consumo de compostos bioativos pela população brasileira
Estudos epidemiológicos indicam que indivíduos que consomem mais compostos bioativos têm menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Além disso, de diabetes tipo 2, doenças neurodegenerativas, degeneração macular relacionada à idade e alguns tipos de câncer.
A pesquisa da FCF-USP foi conduzida pela nutricionista Renata Alves Carnauba, que utilizou a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para analisar dados de consumo alimentar de 34 mil indivíduos com 10 anos ou mais de idade, distribuídos nas cinco regiões do país e nas áreas urbanas e rurais.
Os resultados – publicados em dois artigos no British Journal of Nutrition – mostraram, então, que a ingestão média de carotenoides foi de 1,8 mg/1000kcal por dia. Eles são uma das classes de compostos bioativos responsáveis pelas cores vermelha, amarela e laranja dos alimentos. “Em países como Espanha e Estados Unidos, por exemplo, foi estimado um consumo médio diário de carotenoides de 5,9 mg e 7,4 mg, respectivamente”, aponta Carnauba, em entrevista à Assessoria de Comunicação do FoRC.
Já o consumo diário de compostos fenólicos no Brasil foi de 204 mg/1000kcal. Contra 820 mg na França, 863 mg na Finlândia e 1.492 mg no Japão. Para os glicosinolatos, o resultado foi ainda mais baixo, com consumo mediano próximo a zero. Para outras populações, como da Espanha e da Holanda, foi estimada uma ingestão diária de 6,5 mg e 14,2 mg.
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O que isso significa
Segundo a pesquisadora, o baixo consumo de compostos bioativos pela população brasileira está relacionado, principalmente, à baixa qualidade de sua alimentação. “Menos de 10% da população brasileira atingiu o consumo diário de 400 g de frutas e hortaliças, que é a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir o risco de doenças crônicas”, afirma.
Além disso, o consumo de alimentos com alto teor energético e poucos nutrientes tem aumentado. Por outro lado, a ingestão de fibras alimentares e micronutrientes é insuficiente, de acordo com informações das últimas duas POFs (2008-2009 e 2017-2018).
Essa baixa qualidade da dieta do brasileiro se reflete, ainda, no risco de desenvolvimento de doenças crônicas. “De forma geral, as medianas de ingestão que encontrei para o brasileiro são, no mínimo, duas vezes menores do que os valores encontrados em estudos epidemiológicos para redução do risco de desenvolvimento de doenças crônicas”, completa Carnauba.
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Fatores relacionados ao baixo consumo de compostos bioativos
A renda é um fator determinante para a ingestão dos compostos bioativos. Indivíduos nas faixas mais altas de renda apresentaram consumo significativamente maior de carotenoides e compostos fenólicos do que aqueles nas faixas mais baixas. “Isso acontece porque o consumo de frutas e hortaliças, principais fontes alimentares desses compostos, cresce muito com o aumento da renda. Nós observamos isso tanto na população brasileira como de outros países”, diz a pesquisadora. Por outro lado, indivíduos com rendas mais baixas apresentaram maior consumo de alimentos “tradicionais”, como milho e batata-doce, que também possuem esses compostos.
“Outras razões podem explicar as diferenças de consumo observadas entre as populações, como hábitos e preferências alimentares, que se relacionam com a disponibilidade de alimentos, crença e cultura locais”, acrescenta.
Fonte: Agência Fapesp