Alergias alimentares na infância: como (e quando) introduzir certos ingredientes?
As alergias alimentares na infância são verdadeiros pesadelos para muitos pais e responsáveis. Por isso, quando iniciam a introdução alimentar do bebê, alguns têm receio de oferecer alimentos conhecidos por causarem reações. O que fazer: não deixar o filho ter contato com o ingrediente para prevenir possíveis quadros, ou dar ao pequeno mesmo assim?
O que são as alergias alimentares na infância?
De acordo com a nutricionista Dayse Paravidino, as alergias alimentares são reações do sistema imunológico a uma determinada substância contida no alimento. “Em crianças de idade mais tenra, as reações alérgicas costumam se dar mais pelo fato de o organismo ainda estar em formação, principalmente as funções de defesa do corpo”, explica.
Os itens que mais causam o problema (em crianças e adultos) são: leite de vaca, ovo, frutos do mar, peixes, amendoim, castanha, soja e trigo. E os sintomas podem variar de coceiras e erupções de pele à parada respiratória.
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Como descobrir alergias alimentares na infância
A especialista diz que até o sexto mês de vida, o bebê deve ser nutrido apenas com o leite materno. A partir daí, outros alimentos podem ser oferecidos ao pequeno, sempre em pouca quantidade e de maneira fracionada. Desse modo, os cuidadores precisam estar atentos à reação do pequeno diante desses novos ingredientes.
Isso porque a descoberta de uma alergia alimentar se dá, sobretudo, de modo espontâneo — ou seja, os pais normalmente só descobrem a condição do filho ao ofertarem os alimentos a ele. “A criança apresenta algum sintoma, que pode ser uma alteração na pele, na respiração ou no trato intestinal”, diz Dayse.
Além disso, privar o pequeno dos potenciais alérgenos sem saber se ele possui alergia pode não ser o melhor caminho. Um estudo publicado no The Journal of Allergy and Clinical Immunology apontou exatamente isso. Entre 1999 e 2007, as diretrizes de instituições da Austrália recomendavam evitar dar alimentos alergênicos para crianças de um a três anos de idade.
A partir de 2008, elas passaram a aconselhar não atrasar a introdução desses alimentos no cardápio dos pequenos, e em 2016, a orientação mudou novamente: houve o incentivo do consumo desses ingredientes por parte dos bebês.
O resultado? A taxa anual de aumento de internações por anafilaxia alimentar (reação de hipersensibilidade) caiu de 17,6% ao ano entre 1999 e 2007 para 6,2% ao ano entre 2008 e 2015; e depois 3,9% ao ano em 2016, quando se estabilizou.
Conclusão
As reações alérgicas podem ser sérias e algumas vezes exigem tratamentos imediatos. Por isso, demandam muito cuidado. Por outro lado, restrições desnecessárias também não são indicadas, principalmente para indivíduos que estão com o paladar em desenvolvimento.
A própria Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por exemplo, não indica a dieta sem glúten para crianças saudáveis, isto é, que não têm doença celíaca, alergia ao trigo, sensibilidade ao glúten ou outras condições relacionadas.
Isso porque, de acordo com o órgão, “a dieta sem glúten [sem acompanhamento adequado] pode aumentar a ingesta de gordura, reduzir o consumo de fibras e alterar microbiota intestinal, podendo, portanto, aumentar o risco de doenças cardiovasculares.”
“Daí a importância de se fazer a introdução de outros alimentos, além do leite materno, aos poucos, após os seis primeiros meses de vida da criança. Caso haja algum problema, um pediatra deve ser consultado”, aconselha Dayse Paravidino.
Ela ainda complementa: a fim de não viciar o paladar infantil (ainda em formação), convém evitar comidas com açúcar, muito sal, condimentadas e industrializadas, além de optar por alimentos naturais. “A consulta com um nutricionista materno-infantil pode ajudar na introdução alimentar dos bebês.”
Fonte: Dayse Paravidino, nutricionista, Membro da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) e da Associação Brasileira de Nutrição Materno Infantil (ASBRANMI).
Referências: