Mudanças no olfato e no paladar causadas pela Covid-19 podem afetar o apetite de crianças
A ciência já sabe que a Covid-19 pode provocar alguns efeitos colaterais que duram até meses depois da infecção pela doença — a denominada Covid longa. Uma delas é a parosmia, isto é, distorções no olfato e no paladar que podem atingir não só os adultos, mas as crianças também. O problema é que, nos pequenos, isso acaba desencadeando seletividade alimentar e perda de apetite. Entenda:
Paladar e olfato estão intimamente ligados
De acordo com a fonoaudióloga Carla Deliberato, comer envolve um conjunto complexo de interações e experiências sensoriais. Toda vez que nos alimentamos, os nossos cinco sentidos são ativados (visão, audição, tato, olfato e paladar) e participam ativamente da percepção final sobre o prato.
Contudo, olfato e paladar talvez sejam os mais importantes durante o processo. “O olfato exerce grande influência no desejo de uma criança em se alimentar”, afirma a especialista. Isso porque a sensação de gosto pode até acontecer sobretudo na boca, mas o aroma também tem seu papel.
“Durante a fase preparatória oral (ou seja, quando colocamos o alimento na boca e mastigamos), moléculas de odor são liberadas. Essas moléculas intensificam o sentido do olfato, que acrescenta importantes informações ao paladar”, diz a fonoaudióloga. Ela dá dois exemplos:
- 1 – Com o chuchu: você já se perguntou por que o chuchu praticamente não tem gosto? Um dos motivos é justamente porque ele não tem cheiro;
- 2 – Quer testar como o olfato é um grande responsável pela sensação que temos ao comer um alimento? Tampe o nariz e experimente colocar algum ingrediente na boca. Você só vai conseguir dizer se ele é doce, salgado, ácido, azedo ou umami. Mas não conseguirá perceber se é cítrico, herbal, frutal ou floral. É por isso que quando estamos com o nariz entupido, dizemos que “estamos sem paladar”.
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Parosmia em crianças
Se alterações no olfato e no paladar já podem afetar o apetite de um adulto, imagine o de uma criança. “É possível que o pequeno não sinta mais tanto prazer em comer os alimentos como sentia antes. Desse modo, ele pode ter uma tendência a se mostrar mais exigente na escolha alimentar e mais seletivo”, explica Carla Deliberato.
Nesse caso, a profissional diz que um treinamento olfativo específico pode ser uma forma de estimular a criança. “Ao acessar a memória olfativa com cheiros já conhecidos, ela tem mais chances de recuperar os sentidos.”
Mas nada de forçá-la a comer, viu? “A relação dela com a comida precisa ser sempre positiva. Portanto, pressionar ou obrigar a criança a ingerir um alimento que ela consumia antes da doença não vai resolver o problema. Se a seletividade alimentar for muito grande após a Covid, o ideal é procurar um profissional especializado”, finaliza.
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Fonte: Carla Deliberato, fonoaudióloga dedicada ao estudo e tratamento de recusa e seletividade alimentar. Desde 2019, lidera uma clínica especializada em São Paulo – a Care Materno Infantil.