O “cheiro de fim de ano” existe, e a neurociência explica

Bem-estar Equilíbrio
06 de Dezembro, 2021
O “cheiro de fim de ano” existe, e a neurociência explica

O último mês do ano é um mês repleto de nostalgia que remete a sentimentos como surpresa, novidade, amor, paz e recomeço. Assim, é a chegada de duas datas especiais: o Natal e Ano Novo. Para muitas pessoas, inclusive, além da sensação de bem-estar, é possível sentir o cheiro de fim de ano. 

Mas você sabe por que isso acontece?  A neurociência explica como funciona esse sentimento de que tudo nessa época do ano é diferente.

Mas realmente existe cheiro de fim de ano?

Os cheiros são moléculas percebidas por células especializadas localizadas no alto da cavidade nasal — os neurônios quimiorreceptores olfatórios. Temos cerca de 10 milhões deles.

Segundo Livia Ciacci, neurocientista do Supera — Ginástica para o cérebro, o córtex piriforme é responsável pela percepção consciente dos aromas e o córtex entorrinal se projeta para o hipocampo. Dessa forma, além da consolidação da memória olfativa, também ocorre a ligação com o sistema límbico — a área das emoções. “Podemos concluir que os cheiros têm conexão direta com o processamento das emoções e das memórias. Afinal, diferentemente dos outros sentidos que passam primeiro pelo julgamento crítico, os odores chegam diretamente no sistema límbico — a área das emoções”, detalhou.

Portanto, a resposta é sim: o cheiro de fim de ano existe! “Desde que a pessoa tenha associado a data a aromas específicos. Se alguém liga o cheiro de panetone ao fim do ano, todas as vezes que sentir o cheiro vai evocar as memórias desta data. Ou ocorre o contrário, quando o ano está acabando, o ambiente faz com que ela se recorde do cheiro”, lembrou.

É possível perceber esse fenômeno mais facilmente quando observamos as estratégias de marketing usadas por grandes varejistas como forma de atrair o consumidor por suas emoções. “O cheio de ‘shopping’ é, na verdade, óleo essencial. Cafeterias espalham cheiros de guloseimas, decorações natalinas são perfumadas. Tudo nesta época especialmente contribui para nossas memórias olfativas que vão se firmando com o passar dos anos”, detalhou a neurocientista.

A infância no Natal

Quando falamos de Natal, algumas lembranças são especialmente marcantes. Assim, biologicamente, a infância e adolescência são fases da vida em que exploramos o ambiente com mais intensidade. Através disso, armazenamos informações importantes para a sobrevivência, e entre elas, os cheiros. O Núcleo de Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG realizou algumas pesquisas para explicar como os cheiros se vinculam a diferentes lembranças e direcionam o comportamento. Dessa maneira, o estudo identificou entre outras coisas que a serotonina (importante neurotransmissor que modula o humor), quando liberada no bulbo olfatório, modifica a representação neuronal dos odores, atribuindo significados àquela memória olfativa.

Ainda segundo Livia Ciacci, neurocientista, a modulação do significado dos cheiros tem relação direta com as experiências. “Isso explica porque o passado de natais felizes fica associado à percepção dos cheiros dessa época, assim como acontecimentos trágicos próximo da mesma data podem modificar essas sensações”, detalhou.

Leia também: Dicas para se manter ativo entre o Natal e o Ano Novo

Voltando a conviver no dia 25

Mesmo com a pandemia ainda em andamento, o avanço da vacinação transformará as festas deste ano nas primeiras após a Covid -19 como evento de maior contato social. “Para quem tem boas lembranças, o Natal ativa o sistema de recompensa do cérebro, trazendo prazer e reforçando o encontro como algo benéfico. O ato de conviver socialmente em si é necessário para nós, é um estímulo que mantém nossa mente saudável, independentemente de ser com familiares ou amigos”, lembrou.

Por outro lado, há quem não tenha boas lembranças desta época do ano. “Isso acontece quando algumas pessoas experimentam um aumento do estresse e da ansiedade nessa época, geralmente motivada por uma série de fatores que alteram a rotina. Por exemplo, as pressões por comparecer a confraternizações, compras de presentes, a redução ou alteração do ciclo do sono, mudanças na dieta e as altas temperaturas”, alertou. Sendo assim, nestes casos, a principal dica é buscar entender o que motiva esse sentimento, se é uma memória específica ou se é um misto de situações.

 “A partir da autorreflexão, não devemos ter receio de respeitar nossos próprios limites. Perceba que os tipos de pensamentos mais comuns dessa época envolvem a sensação de obrigação: ‘Preciso comprar presentes’; ‘Preciso estar feliz’; ‘Tenho que fechar as metas’; ‘Tenho que fazer uma ceia’. Entender que você não é obrigado a cumprir coisas ou rituais que não fazem sentido para você, ou não trazem alegria e conforto, é o primeiro passo. Seja honesto consigo mesmo e se necessário ajuda especializada”, concluiu.

Fonte: Livia Ciacci, neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro.

Sobre o autor

Julia Moraes
Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em fitness, saúde mental e emocional.

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