Entidades médicas alertam sobre a falta da vacina BCG no Brasil
A um mês da celebração do Dia da Vacina BCG, em 1 de julho, o diálogo sobre o imunizante está delicado este ano. Isso porque um alerta feito por entidades médicas brasileiras a respeito da falta da vacina no Brasil antecede a chegada da data.
Assinada por instituições renomadas, como a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a carta questiona se existirão motivos para comemorar o marco este ano.
Leia mais: Quais são as principais vacinas para crianças?
Por que a vacina BCG está em falta?
“Lamentavelmente, mais uma vez no Brasil, o fornecimento da vacina BCG diminuirá nos próximos meses por questões logísticas e de importação do Ministério da Saúde, já que a produção brasileira do imunizante está suspensa”, destaca o documento.
A carta contextualiza o cenário que levou a escassez da vacina. Segundo a publicação, a única fábrica nacional responsável pela produção do imunizante está interditada. A princípio, o motivo trazido é que a instalação não tem cumprido as exigências feitas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para manter-se em funcionamento.
Este pronunciamento das entidades médicas surge após o Ministério da Saúde enviar um comunicado, em abril, para os estados racionarem a vacina BCG porque menos doses estarão disponíveis nos próximos meses.
De acordo com a carta assinada pelos representantes médicos, previa-se que um milhão de doses da BCG seria distribuída para cada estado. Agora, a realidade tornou-se 500 mil imunizantes disponíveis mensalmente para cada região.
Os prejuízos da diminuição da vacina BCG
Ainda segundo o documento, a redução da vacina BCG acontece em um cenário complicado. Até o momento, 2022 está com a cobertura vacinal deste imunizante em apenas 41,3%, segundo o Datasus. “É considerada ideal a de no mínimo 90% para esta vacina”, reforça a carta.
De acordo com o pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, a tuberculose no país ainda é um problema de saúde pública bastante significativo. “Ele é associado à pobreza, condições socioeconômicas e altas taxas de transmissão que temos”, detalha o médico.
Logo, ainda que a vacina disponível no país não seja 100% eficaz, ela é capaz de prevenir os brasileiros da forma grave da doença. Cita-se, por exemplo, a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar (forma disseminada). No entanto, a tuberculose pulmonar ainda é um quadro em que se observa o aumento de casos no país.
“Logo, se somarmos que temos no Brasil uma tuberculose pulmonar disseminada e ainda com acúmulo de casos em crianças por falta de vacinação, o problema potencializa de forma importante”, finaliza Kfouri.
Leia mais: CoronaVac em crianças pequenas: vacina é 64% eficaz contra internações
As principais dúvidas sobre a vacina
O que é?
A vacina BCG foi criada por Léon Calmette e Alphonse Guérin. Ela é responsável pela prevenção da população contra a tuberculose, doença contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis.
Quando o bebê deve recebê-la?
De acordo com Kfouri, o bebê deve receber o imunizante logo após nascer, na maternidade ou durante seu primeiro mês de vida. Contudo, adia-se a dose em três casos específicos:
- Quando os pais querem fazer a triagem de imunodeficiência congênita;
- Caso a mãe tenha tomado algum tipo de medicação na gestação que pode ter passado pela placenta e influenciar a imunidade do bebê;
- Caso o bebê tenha nascido prematuro, com menos de dois quilos.
Quais são as reações adversas da vacina?
A aplicação do imunizante é realizada de forma intradérmica, com a reação local sendo o principal efeito adverso. De acordo com o pediatra, a chamada pega do BCG acomete cerca de 95% dos vacinados.
“Forma-se uma ferida no local da aplicação no braço direito que depois evolui para uma crosta e, por fim, fica a cicatrização definitiva”, esclarece o médico. Não é necessário passar nenhuma pomada ou tomar medicamentos para que ela cicatrize melhor ou mais rápido. O processo tende a ser natural!
O que fazer se o bebê não desenvolver a cicatriz?
Antigamente, a conduta médica era de revacinar os 5% do público infantil que não desenvolveram a marca da vacina. No entanto, Kfouri esclarece que essa reaplicação do imunizante caiu em desuso, “já que não há relação entre não ter a cicatriz e a vacina não ter pego ou não”, finaliza o pediatra.
Fontes: Renato Kfouri, pediatra e presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Calendário de Vacinação SBIm e Ministério da Saúde.