Transplante de fezes: o que é, para que serve e quando é indicado

Saúde
16 de Agosto, 2022
Transplante de fezes: o que é, para que serve e quando é indicado

O transplante de fezes é um procedimento que pode parecer esquisito à primeira vista. No entanto, é um método capaz de beneficiar algumas pessoas com determinadas doenças e já é alvo de muitos estudos favoráveis. Saiba como funciona, as vantagens e outras curiosidades sobre a técnica.

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O que é o transplante de fezes?

Assim como existem diversos transplantes de órgãos, o procedimento consiste na transferência de fezes de um doador saudável para um outro indivíduo. Você deve estar se perguntando: por que uma pessoa precisaria do cocô da outra? Na verdade, as fezes do doador possuem um ativo valiosíssimo: a microbiota, composta por uma colônia de micro-organismos. “Ao longo do tempo, tem-se reconhecido a importância da microbiota na manutenção da saúde humana e no aparecimento ou agravamento de condições intestinais e extraintestinais. Além disso, essa comunidade se comunica com outros órgãos de várias maneiras”, explica Magaly Teixeira, coloproctologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Para que serve o transplante de fezes?

De acordo com Magaly, o objetivo do tratamento é modificar a composição da microbiota do receptor. “Dessa forma, é possível transferir a microecologia do intestino do doador com se fosse um órgão, mas sem o risco de causar resposta imune ou rejeição”, explica a especialista. Milhões de bactérias, fungos e outros micro-organismos habitam o nosso intestino. Cada qual tem sua função importante no organismo, e alguns tipos são nocivos quando se proliferam excessivamente. Como resultado, ocorrem as infecções variadas, que causam uma série de prejuízos ao indivíduo. Desde diarreia, febre e mal estar a condições mais graves, que exigem um tratamento eficaz. Então, é nesse momento que o transplante favorece a pessoa enferma: as bactérias presentes nas fezes saudáveis ajudarão a reequilibrar a microbiota desregulada.

Em quais casos o tratamento é necessário?

Magaly afirma que o transplante de fezes é indicado principalmente para casos de colite membranosa refratária, ou colite ulcerativa. Essa infecção atinge a mucosa do cólon intestinal, e provoca episódios de diarreia com sangue, além de cólicas intensas. Quando o tratamento convencional com medicamentos, probióticos e alimentação não surte efeito, o transplante torna-se uma alternativa para restabelecer a flora intestinal.

Atualmente, diversos estudos estão em andamento ou já mostram novas indicações: obesidade, síndrome metabólica, autismo, depressão, doença de Alzheimer, síndrome do intestino irritável, entre outras. Afinal, conforme dito pela especialista, a microbiota não atua apenas para o bom funcionamento do intestino, mas influencia diversos outros sistemas do organismo. Apesar dos resultados promissores em boa parte dos ensaios clínicos, ainda faltam mais pesquisas para disseminar as vantagens do transplante em outras condições.

Como funciona

A princípio, o procedimento costuma ser rápido — dura de 15 a 30 minutos. No entanto, a coloproctologista explica que o maior problema é a escolha do doador. “O candidato precisa fazer testes para várias doenças potencialmente transmissíveis pelo método, e as fezes devem ser processadas em até 6 horas”, comenta. Portanto, o transplante de fezes ainda é um desafio, pois exige que o material doado seja extremamente seguro para evitar complicações ao receptor.

Quanto ao processo, as fezes devem passar por uma diluição, e o transplante possui diversas maneiras: via sonda nasogástrica, nasoduodenal ou nasojejunal; oral, em forma de cápsulas; por colonoscopia ou retossigmoidoscopia; ou por enemas. Ao todo, segundo Magaly, o indivíduo deve receber em torno de 50 g de fezes por aplicação.

Curiosidade sobre o transplante de fezes

As múltiplas formas de realizar o transplante fecal são recentes — inclusive, o primeiro caso do tratamento no Brasil ocorreu em 2014. Contudo, a ideia de utilizar a microbiota como um medicamento para pessoas doentes não é de hoje. “A prática surgiu na China há alguns séculos. Era a ‘sopa amarela’, sendo consumida via oral para tratar diarreia. No mundo ocidental, o interesse por este tipo de tratamento só começou a partir do século passado”, finaliza Magaly.

Fonte: Magaly Teixeira, médica coloproctologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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