TikTok contribui com a perpetuação da cultura da magreza
Um estudo feito nos Estados Unidos identificou que o TikTok contribui com a perpetuação da cultura da magreza. Entre as hashtags relacionadas a temas como alimentação, nutrição e peso, a #WeightLoss (perda de peso) é a mais procurada com 9,7 bilhões de visualizações. Os pesquisadores da Universidade de Vermont analisaram, então, os conteúdos mais vistos. A maioria se tratava de vídeos que colocavam o emagrecimento como questão primordial e foram produzidos por pessoas sem especialização na área.
Primeiramente, o estudo analisou mil vídeos (publicados desde 2020) que estavam entre os mais visualizados deste nicho específico. Alguns deles eram de receitas e hábitos alimentares, e outros de dicas e estratégias para perder peso.
Os pesquisadores separaram os 100 vídeos mais vistos de cada uma das dez hashtags mais acessadas. São elas:
- Em primeiro lugar: WeightLoss (perda de peso) – 9,7 bilhões de visualizações;
- WhatIEatInADay (o que eu como em um dia) – 3,2 bilhões de visualizações;
- diet (dieta) – 3 bilhões de visualizações;
- PlusSize – 2,6 bilhões de visualizações;
- WeightLossJourney (jornada da perda de peso) – 2,1 bilhões de visualizações;
- MealPrep (preparo de refeição) – 2,1 bilhões de visualizações;
- bodypositivity (positividade do corpo) – 2 bilhões de visualizações;
- fatloss (perda de peso) – 1,6 bilhão de visualizações;
- WeightLossCheck (perda de peso confirmada) – 1,3 bilhão de visualizações;
- Nutrition (nutrição) – 1,1 bilhão de visualizações.
Por fim, os pesquisadores perceberam que a maioria das postagens apresentava uma visão que reforçava a ideia de que a magreza é um dos maiores indicadores de saúde. De acordo com eles, apenas 3% dos vídeos traziam algum conteúdo inclusivo sobre peso.
“Os principais temas incluíam a glorificação da perda de peso, o posicionamento dos alimentos para alcançar a saúde e a magreza e a falta de vozes especializadas que fornecem informações sobre nutrição e saúde”, destaca o artigo.
TikTok contribui com a perpetuação da cultura da magreza: consequências
A plataforma já é a rede social mais utilizada por crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos. No artigo, os pesquisadores fazem questão de destacar que esse tipo de conteúdo relacionado à nutrição pode contribuir para o surgimento de comportamentos alimentares transtornados e insatisfação corporal nos jovens que acessam a rede – e que representam a maioria dos usuários.
Quando o assunto é distúrbio alimentar, 4,7% da população geral sofre com a condição, mas quando olhamos para os jovens, a porcentagem chega a 10%. Na internet, a pressão estética e as comparações crescem com maior facilidade e atingem, principalmente, as mulheres.
Os vídeos que mostram processos de emagrecimento ou incentivam a adoção de uma determinada alimentação podem impactar os indivíduos de maneiras distintas. Apesar de alguns se sentirem motivados com as publicações de mudanças de peso, o estudo indica que, sobretudo nas redes sociais, o efeito é inverso. Isso porque os vídeos curtos podem trazer a impressão de que a mudança é fácil e rápida, quando, na verdade, envolve muitos outros fatores.
Uma outra pesquisa, encomendada pela Arla, investigou a influência da mídia nas dietas de adultos. Eles descobriram que mais de um terço dessas pessoas fazem escolhas alimentares baseadas em informações que encontram na internet. Restrições alimentares e dietas sem pão foram algumas das mudanças realizadas por esses indivíduos.
Como fazer diferente
O TikTok já alcançou a marca de 1 bilhão de usuários. O Brasil é um dos países que mais usa a plataforma. Apesar de ser uma rede vista, principalmente como fonte de entretenimento, ela vem se consolidando como uma rede de informação. Por isso, o estudo da Universidade de Vermont acredita que a plataforma tem de se responsabilizar por filtrar os conteúdos e garantir informação de qualidade para os usuários.
“Ajudar os usuários a discernir informações nutricionais confiáveis e eliminar o conteúdo desencadeante de seus feeds de mídia social pode ser uma estratégia para abordar o conteúdo de mídia social normativo de peso que é tão prevalente”, destaca.
Além disso, a tarefa mais complexa é a de combater a ideia de que a magreza é sinônimo de saúde e precisa ser alcançada a qualquer custo. Enquanto o corpo aceito e elogiado ainda for somente o corpo magro, existirá um longo processo de transformação de pensamento para evitar a busca por dietas ou remédios milagrosos e o desenvolvimento de transtornos alimentares.
Leia também: Cultura da magreza: as lutas de quem convive com um transtorno alimentar