Tenho diabetes, e agora? Como aceitar o diagnóstico

Monike Lourenço Dias Rodrigues
Revisado por
Médica • CRM-GO 9414
Tenho diabetes, e agora? Como aceitar o diagnóstico

De repente, em um exame de rotina aparece uma glicemia alta e, com ela, o diagnóstico de diabetes. Uma notícia nada agradável que mexe com a nossa vida, deixando tudo de pernas para o ar. Tenho diabetes, e agora?, Como será daqui para frente? Poderemos comer doces? Vamos desenvolver complicações? Tem cura?

Essas são algumas das principais dúvidas que vem à nossa cabeça, que nos trazem angústia e, em muitos casos, tristeza. Afinal de contas, ninguém quer receber o diagnóstico de uma condição crônica de saúde. A boa notícia é que é possível ter qualidade de vida com o diabetes, mesmo que a condição ainda não tenha cura.

Contudo, nem sempre essa notícia é o suficiente para despertar o autocuidado em quem tem diabetes. A aceitação do diabetes não é uma tarefa simples: há quem negue que tem a condição, há aqueles também que não negam, mas tampouco conseguem lidar com o fato. 

E, com isso, a convivência com o diabetes fica difícil, comprometendo a saúde da pessoa. “Receber um diagnóstico de diabetes não é uma coisa simples, pois além de ser uma condição crônica, vai exigir uma mudança na rotina de vida da pessoa com cuidados que serão para toda a vida”, explica a psicóloga Rejane Sbrissa. 

Uma surpresa nada agradável

“Depois que fiz alguns exames, descobri que estava com pré-diabetes. Eu não sabia nada sobre a condição, e nem me importei.  Continuei comendo tudo que eu gostava, e bastante, porque eu sou muito ansiosa”, conta Janete Andrade, 59, que convive com o diabetes tipo 2 há mais de 18 anos.

Enquanto Janete enfrentava a negação, Zilda Maria da Silva, de 70 anos, quando recebeu o diagnóstico teve de lidar com o medo. “Eu não aceitava bem, tinha muito medo porque meu pai faleceu por causa do diabetes. Além disso, tinha um receio muito grande de não poder comer muita coisa”, relembra a esteticista. 

Não há como prever como cada um vai lidar e receber a informação de que, daqui em diante, terá de lidar com uma condição de saúde. A vulnerabilidade com o medo do desconhecido pode afetar cada pessoa de uma forma. A questão que fica é: como se chega até a aceitação do diabetes para, enfim, ter uma boa convivência com aquilo que não desejamos ter?

Tenho diabetes, e agora: perigos da não aceitação

Receber a notícia que se tem diabetes já traz angústia e ansiedade, muito por falta de conhecimento e preocupação em como será sua vida daquele dia em diante. Com isso, pode surgir a negação que é muito comum nos pacientes. “Sem a aceitação a pessoa não vai tomar os devidos cuidados com a alimentação e as mudanças de estilo de vida necessários para conviver bem com a doença”, conta a psicóloga.  

Para Janete, a situação de negação do diabetes só mudou quando sentiu na pele os sintomas da condição. “Teve um dia que fui ao aniversário de uma sobrinha, comi muito salgadinho e refrigerante. Toda hora eu ia ao banheiro para fazer xixi.  Depois, fiquei sem energia nem para levantar da cama”, conta. 

Esses são alguns dos sintomas de glicemia alta. Contudo, em muitos casos, o diabetes tipo 2 pode ser silencioso, ou seja, não causar sintomas. Infelizmente, por não sentirem que possuem a doença, muitos pacientes não procuram controlar os níveis de glicemia e, com isso, podem desenvolver complicações graves no rins, olhos, coração, entre outros órgãos. “Foi um susto. Eu não acreditava naquilo que estava acontecendo. Eu fiquei apavorada, porque o diabetes não tem cura”, relembra Janete. “É difícil de aceitar, mas agora estou mais consciente das coisas e me cuido.”

Psicoterapia pode ajudar

Além disso, a notícia do diagnóstico como as muitas mudanças que o tratamento do diabetes impõem podem levar a uma sobrecarga emocional. Uma condição chamada diabetes distress é um conjunto de sentimentos, reações psicológicas e comportamentais que ocorrem com as pessoas que têm diabetes.

Nesse contexto, além do diabetes distress outros transtornos mentais podem surgir. “A angústia e ansiedade de ter uma doença crônica pode se transformar em depressão, síndrome do pânico ou em casos de crises de ansiedade por não saber conviver com a nova realidade”, explica a psicóloga. Por isso, buscar ajuda de um psicólogo pode ajudar nessa fase de aceitação e de mudança de comportamentos.

Leia mais: Afinal, o que é o diabetes distress?

Tenho diabetes e agora: aceitando o diagnóstico

Não existe receita de bolo de como aceitar o diagnóstico, mas um dos primeiros passos é lidar com o luto do diagnóstico.  “Chega-se nessa aceitação após um processo de luto, de sofrimento, onde ter apoio dos familiares, amigos, médicos e equipe de saúde é fundamental”, explica a psiquiatra Monica Vilela. 

Essa fase do luto a que a profissional se refere é uma fase importante de ser vivida. A vida, que se tinha antes do diagnóstico, de certa forma ficou para trás, para que uma nova vida possa ser construída. E isso não é necessariamente ruim. 

Para Zilda, o diagnóstico trouxe muitas mudanças, mas também a construção de uma vida mais ativa. “Quando passei a aprender sobre o que era o diabetes, me acalmei, busquei tratamento e a fazer exercício físico. Além disso, comecei a fazer dança e estou fazendo treinamento pra correr uma maratona”, conta. 

A aceitação é uma jornada muito individual para cada paciente, mas alguns passos podem ajudar nesse processo, assim como ajudaram Zilda e Janete.

Passo 1: educação em diabetes

Muitas vezes pelo próprio desconhecimento acerca da doença, muitos medos e mitos podem ser criados. Além disso, o diagnóstico de algo sem cura pode assustar e afastar muitos pacientes de buscarem informações e entenderem que dá para conviver com diabetes. Um fato que corrobora essa informação são atletas que convivem com a condição, como o Nacho Fernández, jogador do Real Madrid e o nadador brasileiro, Matheus Santana. 

Esse acesso a informação também conhecida como educação em diabetes é tão importante que é considerada parte do próprio tratamento, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes.  À medida que o paciente entende o que tem e como funciona o seu corpo, aprenderá a cuidar melhor de si e do diabetes.  

“O médico foi conversando comigo, explicando tudo direitinho. O único jeito era me cuidar e que tudo ficaria bem porque dava pra controlar.  E se eu quisesse viver bem, eu deveria fazer tudo que ele estava me orientando”, conta Janete. 

Passo 2: tenha uma rede de apoio 

Conhecer outras pessoas que passam pelo mesmo “problema” que você ajuda a trocar experiências e ter uma rede de apoio.  As associações de pacientes ajudam não só a socializar, mas também promovem educação em diabetes. “Quando eu conheci a ADJ (associação de pacientes com diabetes), fui aprendendo e compreendendo o que era diabetes. Depois que eu comecei a saber mais sobre o que era a condição, fui negociando o que eu podia e não podia”, conta Zilda. 

Além disso, as associações oferecem diversas atividades gratuitamente aos pacientes e familiares, como orientação jurídica e atendimento com profissionais da saúde. “A associação me ajuda tanto em conhecimento sobre diabetes, como também em conseguir insumos para o meu tratamento”, conta Janete participa da Associação dos Diabéticos de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

Passo 3: o lado bom do lado ruim 

Ressignificar a vida após o diagnóstico demanda um exercício de olhar. Para gerenciar o diabetes é necessário mudar os hábitos de vida, como adotar uma alimentação mais saudável e praticar exercícios físicos.  Essas atitudes não só ajudam a controlar o diabetes, como também trazem mais qualidade de vida para os pacientes. 

Zilda começou a correr aos 65 anos e hoje, se prepara para correr sua primeira maratona. O diagnóstico lhe trouxe uma vida mais ativa e mais saudável.  “Faz 5 anos que faço treinamentos de corrida e fui melhorando a hemoglobina glicada. Além disso, hoje, consigo controlar melhor o diabetes”, conta. Buscar esse lado bom em meio ao diagnóstico de uma condição crônica de saúde ajuda a tornar mais leve a caminhada. 

Apesar de muitas mudanças na alimentação que o diabetes traz, Janete aprendeu a comer o que gosta, sem descontrolar a glicemia.  “Eu sou da Paraíba e adoro cuscuz de milho. Aprendi a comer e acompanho a glicemia que não passa de 129.”

Por mais difícil que possa parecer à primeira vista, somos capazes de lidar com situações desafiadoras. A psiquiatra Monica Vilela lembra que o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação e que, com o tempo, ele é capaz de encontrar recursos emocionais para gerenciar o diabetes, sem abrir mão de outras áreas da vida.

Referência: SBD