Mais foco e empatia: os benefícios do mindfulness para crianças e adolescentes

Bem-estar
16 de Julho, 2024
Mais foco e empatia: os benefícios do mindfulness para crianças e adolescentes

Em um mundo cada vez mais complexo e desafiador, o mindfulness para crianças e adolescentes torna-se uma ferramenta fundamental. Também chamada de atenção plena, a prática, que convida as pessoas à consciência e presença no atual momento, oferece uma série de benefícios para o desenvolvimento mental e emocional dos jovens.

Sendo o Brasil o país com a maior taxa de incidência de transtornos de ansiedade do mundo, somando 18,6 milhões de pessoas no índice, crianças e adolescentes lideram as faixas etárias mais vulneráveis a este diagnóstico, conforme o último grande mapeamento da Organização Mundial da Saúde sobre problemas psicológicos.

Este dado confirma a necessidade dos mais novos lidarem com os desafios emocionais de forma mais consciente e saudável – e o mindfulness pode, sim, ajudá-los nesta missão.

A prática do mindfulness para crianças e adolescentes

O mindfulness é uma prática com raízes no budismo, caracterizado pela habilidade de conduzir a atenção para a experiência presente, sem julgamentos, e observar de forma consciente os pensamentos, emoções, sensações corporais e o próprio ambiente ao redor.

O protocolo de mindfulness para crianças e adolescentes é trabalhado por faixas etárias, que vão, por exemplo, dos 5 aos 7 anos, dos 8 aos 11 e dos 12 aos 18 anos. Além disso, especialistas afirmam que, em alguns casos, a prática pode começar aos 3 anos. É importante que essa divisão ocorra para que o profissional responsável por guiar os exercícios de mindfulness utilize uma linguagem específica e adequada para cada uma das idades.

Para crianças, como explica a psicóloga e especialista em mindfulness Daniela Soares, a prática da atenção plena é mais curta, lúdica e envolvente. Assim, os exercícios incluem histórias, brincadeiras e atividades sensoriais.

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“Podemos usar contos que ensinem sobre a respiração consciente ou jogos que incentivem a atenção plena aos sentidos, como perceber as diferentes texturas de objetos. Podemos pedir que as crianças prestem atenção em sua respiração enquanto seguram um objeto pequeno, como uma pedra ou um brinquedo, ou ouvir os sons ao redor com atenção. Essas atividades ajudam a desenvolver a capacidade de focar no presente de maneira natural”, explica a especialista.

Conforme o crescimento, as práticas vão ganhando complexidade, costumando ser mais longas e profundas. Quando maiores, os adeptos ao método costumam integrar o mindfulness às atividades diárias, como estudar, trabalhar, praticar esportes e se alimentar, por exemplo.

Benefícios do mindfulness para crianças e adolescentes

  • Foco e concentração;
  • Calma e clareza;
  • Empatia;
  • Melhora do desempenho escolar;
  • Habilidade de responder de forma consciente, ao invés de reativa;
  • Redução dos níveis de estresse e ansiedade;
  • Melhora para lidar com desafios e adversidades;
  • Relaxamento da mente e do corpo;
  • Melhora da qualidade do sono;
  • Além disso, redução de comportamentos negativos, como impulsividade e agressividade.

Ademais, o mindfulness para crianças e adolescentes é um grande aliado do desempenho escolar. Dessa forma, permite que os alunos fiquem mais atentos durante às aulas e realização de tarefas. “Essa capacidade de foco aprimorado facilita a absorção e retenção de informações”, explica Daniela Soares.

“Além disso, o mindfulness também auxilia na autorregulação emocional, ajudando os mais jovens a identificar e reconhecer as causas de seus sentimentos, entender e gerenciar suas emoções de maneira saudável e a responder de forma consciente em vez de reativa, o que é particularmente útil durante a adolescência, fase caracterizada por intensas mudanças emocionais e hormonais”, continua.

Exercício de mindfulness para crianças e adolescentes

O ideal é que a prática de mindfulness seja coordenada e monitorada por um profissional da área, principalmente em escolas e em sessões terapêuticas. Porém, existem, sim, alguns exercícios que podem ser feitos em casa para ampliar os efeitos da metodologia. Aqui, vamos indicar um deles.

Estimular a presença no aqui e agora através dos cinco sentidos é uma ótima ideia para ajudar os mais jovens com a prática do mindfulness. Este exercício tem duração de 5 a 10 minutos. O ideal é que seja feito em um lugar tranquilo e sem muitas distrações para facilitar a concentração do praticante. Após a prática, pergunte como o jovem está se sentindo e se notou algo diferente.

Visão

Começando pela visão, instrua de forma calma e encorajadora o jovem a olhar ao redor e notar cinco coisas que pode ver. Supondo que o praticante esteja em uma sala de aula, ele pode prestar atenção na lousa, numa caneta, no caderno e assim por diante. Convide-o a olhar para cada um dos elementos por alguns segundos e notar detalhes, como cores e formas.

Audição

Passando para a audição, indique que a criança ou adolescente feche os olhos, caso se sinta confortável, e identifique quatro sons diferentes ao redor. Individualmente, note o volume, origem e ritmo de cada um dos sons.

Tato

Para a terceira etapa do nosso exercício de mindfulness para crianças e adolescentes, peça que o jovem abra os olhos e sinta três coisas diferentes que estão ao seu alcance. Indique que ele note a textura, a temperatura e demais sensações dos elementos que escolher.

Cheiro

No penúltimo exercício, a criança ou adolescente deve prestar atenção em dois cheiros distintos ao seu redor. Por exemplo, o cheiro do ambiente e de outro elemento que ele escolher, como a própria roupa ou uma comida que esteja por perto. Peça que inspire profundamente e observe as nuances de cada cheiro.

Palato

Por fim, o paladar. Indique que a pessoa identifique o gosto em sua boca, mesmo que não esteja comendo nada naquele momento. Pode ser o gosto da própria saliva ou de algo que comeu recentemente. Se necessário, o jovem pode fechar os olhos nesta última etapa.

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Mindfulness para crianças e adolescentes: a importância da constância

A instrutora sênior de mindfulness Luiza Bittencourt ressalta a importância da prática da atenção plena ocorrer com regularidade. “A prática não deve ocorrer apenas de vez em quando. É algo para ser implementado na rotina, como um estilo de vida. Assim, transformaremos nosso cérebro, como confirma a neurociência”, diz a especialista.

De acordo com a profissional, o mindfulness é uma atividade que pode modular uma série de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, essenciais para a regulagem do nosso humor e bem-estar.

“É como um exercício físico, ou seja, precisa de repetição. Com o cérebro não é diferente. Praticar uma vez, antes de uma prova, por exemplo, pode, sim, trazer um relaxamento, um bem-estar momentâneo, mas não mudanças significativas a longo prazo”, continua Luiza Bittencourt.

Dessa forma, exercitar o mindfulness com constância é importante para manter o foco e a concentração, extremamente necessários na fase escolar, mas também a autorregulação emocional. A instrutora de mindfulness dá um exemplo claro: alunos que costumam prestar atenção nas aulas, mas se deparam dentro de casa ou mesmo nas escolas com uma grande autocobrança. Com o nervosismo e ansiedade, apresentam falhas na memória, o famoso “dar branco”.

“Não adianta estudar muito se o jovem não trabalha o emocional. Para a criança e o adolescente, isso é de extrema importância na fase escolar”, conclui.

Uso exagerado de tecidos

Os conflitos familiares, sociais e a falta de apoio emocional são alguns dos motivos que podem levar o jovem à sobrecarga mental e esgotamento. Porém, precisamos falar sobre uma das maiores causas de ansiedade e depressão, distúrbios de atenção e imagem, problemas de sono e de atrasos na comunicação em jovens: o uso exagerado de telas.

Em 2022, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) apontou através da pesquisa TIC Kids Online que 92% da população com idade entre 9 e 17 anos utilizavam a internet. O estudo também relata que o celular era o dispositivo mais utilizado pelos jovens.

“Vivemos em uma era de hiperconectividade, onde há um fluxo incessante de informações e estímulos visuais e auditivos. Este ambiente digital pode dificultar a capacidade dos jovens de se concentrar e manter o foco em uma única tarefa”, aponta a especialista em mindfulness Daniela Soares.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças com menos de 2 anos não devem ser expostas a telas. Para crianças de 2 a 5 anos, o tempo de tela deve ser limitado a, no máximo, uma hora por dia. Crianças de 6 a 10 anos podem usar telas por uma a duas horas diárias. Já para aqueles entre 11 e 18 anos, o uso de telas, incluindo videogames, não deve ultrapassar três horas por dia.

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Mindfulness nas escolas

O mindfulness nas escolas é uma abordagem eficaz para melhorar o bem-estar emocional e o desempenho dos alunos, além de promover um ambiente mais calmo, empático, colaborativo e focado para o aprendizado. À medida que mais escolas adotam essas práticas, os benefícios a longo prazo para a saúde mental e formação dos alunos se tornam cada vez mais evidentes.

“É importante que as práticas sejam adaptadas às necessidades e capacidades dos alunos, mas também é essencial que os professores e a equipe educacional recebam treinamento adequado para praticar e ensinar mindfulness, pois eles estão em contato direto com os alunos e servem como modelos a serem seguidos”, aponta a psicóloga Daniela Soares.

“Uma vez capacitados, os professores podem incorporar as práticas de mindfulness no dia a dia da sala de aula, com exercícios curtos de respiração consciente no início e no final das aulas, momentos de atenção plena durante atividades escolares e pausas mindfulness ao longo do dia”, continua.

Experiência própria

Por fim, Luiza Bittencourt relata que costuma implementar mindfulness em escolas. Segundo ela, com o processo, é possível notar a diferença nos alunos que passaram pelo processo contínuo da atenção plena.

“As crianças que praticam há mais de um ano chegam em sala de aula e trazem experiências de autorregulação. Elas contam que meditaram no momento em que ficaram enjoadas no carro, entediadas esperando algo, quando sentiram raiva, nervosos antes de uma prova, ou mesmo durante à noite, ao acordar por causa de um pesadelo”, conta a instrutora de mindfulness.

“As crianças usam as ferramentas que têm. É incrível como elas realmente implementam a atenção plena na vida e levam isso para as famílias também. Quando os pais estão estressados, elas os orientam a meditar e sentir a respiração. Portanto, como um hábito, o jovem levará o mindfulness para o resto da vida”, finaliza Luiza Bittencourt.

Fontes: Daniela Soares, psicóloga e especialista Mindfulness Funcional, e Luiza Bittencourt, instrutora sênior de Mindfulness e especialista em Neurociências e Comportamento.

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